Temendo um “linchamento público”, Polanski decidiu não ir aos Césares
J’accuse — O Oficial e o Espião, o mais recente filme do realizador franco-polaco, é, com 12 nomeações, o principal candidato aos prémios do cinema francês. Várias organizações já tinham anunciado protestos para a cerimónia de sexta-feira.
Roman Polanski, cineasta que é sinónimo de polémica desde que em 1977 fugiu dos Estados Unidos antes de ouvir a sentença do seu julgamento pela violação de uma menor de 13 anos, decidiu não ir à cerimónia deste ano dos Césares. Os prémios do cinema francês têm estado envolvidos em polémica nos últimos meses, mas os ânimos ficaram ainda mais exaltados quando, em Janeiro, se soube que J'accuse — O Oficial e o Espião, o mais recente filme do realizador franco-polaco, estava nomeado para 12 categorias, sendo o destacado líder das nomeações na cerimónia que decorrerá na próxima sexta-feira.
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Roman Polanski, cineasta que é sinónimo de polémica desde que em 1977 fugiu dos Estados Unidos antes de ouvir a sentença do seu julgamento pela violação de uma menor de 13 anos, decidiu não ir à cerimónia deste ano dos Césares. Os prémios do cinema francês têm estado envolvidos em polémica nos últimos meses, mas os ânimos ficaram ainda mais exaltados quando, em Janeiro, se soube que J'accuse — O Oficial e o Espião, o mais recente filme do realizador franco-polaco, estava nomeado para 12 categorias, sendo o destacado líder das nomeações na cerimónia que decorrerá na próxima sexta-feira.
“Já sabemos como é que a noite se vai desenrolar”, disse o realizador de Chinatown à France-Presse, argumentando que os protestos convocados para o dia da cerimónia deixam adivinhar que terá lugar “um linchamento público”. “Que lugar pode haver em condições tão deploráveis para um filme sobre a defesa da verdade, a luta pela justiça, ódio cego e anti-semitismo?”, questionou.
Polanski referia-se aos protestos de várias associações feministas francesas, que a 12 de Fevereiro assinaram um apelo ao voto contra o filme do realizador, em artigo publicado no jornal Le Parisien. As mesmas associações convocaram também uma manifestação em frente à Salle Peyel, o local onde a cerimónia dos Césares decorrerá. “Celebrar um abusador como Polanski é apoiar o sistema de impunidade para a violência masculina, e silenciar as vozes das vítimas”, argumentavam as referidas activistas: “Se violar é uma arte, dêem a Polanski todos os Césares!”
Nas entrelinhas do artigo lêem-se as várias acusações de abusos e violência sexual, negadas pelo próprio, que ao longo dos anos se acumularam contra o cineasta, além do caso pelo qual foi julgado. As denúncias vêm de mulheres como a artista Marianne Barnard, que em 2017 acusou o realizador de ter abusado dela quando tinha apenas dez anos, ou a fotógrafa Valentine Monnier, que em Novembro alegou ter sido violada por Polanski aos 18 anos. “Doze nomeações aos Césares para o filme J'accuse, de Roman Polanski. Doze, como o número de mulheres que o acusam de violações pedocriminosas”, sublinham as activistas.
Pouco depois da publicação dessa carta, e de outra em que, sem fazer referência ao “caso” Polanski, vários membros da Academia de Cinema Francesa pediam mais transparência no processo de atribuição dos Césares, a direcção da Academia demitiu-se em bloco. Mas as vozes de contestação continuaram a fazer-se ouvir. Ainda esta semana, a actriz Adèle Haenel, protagonista de Retrato de uma Rapariga em Chamas, disse em entrevista ao The New York Times que “distinguir Polanski é cuspir na cara de todas as vítimas”, uma vez que significaria “que violar mulheres não é assim tão mau”.