A Psicologia não é (apenas) para os malucos
Os psicólogos ajudam aqueles que se sentem mal e experienciam algum tipo de mal estar, mas também os que querem mudar, crescer e encontrar novos caminhos, sem que isso signifique necessariamente qualquer tipo de patologia.
Depois de ler um livro que pretende explicar a Psicologia às crianças [1], uma menina disse-me que deveria ser obrigatório todas as pessoas, pequenas e crescidas, conhecerem um psicólogo. “Porquê?”, perguntei eu. “Porque os psicólogos estão na nossa vida e nós nem percebemos isso!”
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Depois de ler um livro que pretende explicar a Psicologia às crianças [1], uma menina disse-me que deveria ser obrigatório todas as pessoas, pequenas e crescidas, conhecerem um psicólogo. “Porquê?”, perguntei eu. “Porque os psicólogos estão na nossa vida e nós nem percebemos isso!”
Disse-o de uma forma sentida, do alto dos seus oito anos de idade, com a sabedoria que apenas as crianças possuem. Porque ao dizê-lo não insinuou sequer que todas as pessoas têm problemas e, por isso, precisem de ajuda terapêutica. Nada disso. Disse-o porque percebeu que a Psicologia está, de facto, em todo o lado. E para quem sabe e sente isso, há como que uma sensação de conforto e bem-estar.
A visão mais tradicional da Psicologia surge associada à dificuldade, à perturbação e à doença. Pensamos em procurar um psicólogo quando atravessamos dificuldades ou um momento de crise, sentimos alterações na forma como funcionamos ou em situações de descompensação. No entanto, a Psicologia tem um outro lado, talvez ainda menos visível, que esta menina tão bem captou. A prevenção primária, a psicologia no desporto, nas escolas ou nas empresas. Ser voz activa na promoção de competências individuais ou grupais, sejam elas a auto-estima, a resiliência, a liderança ou o trabalho em equipa. Desenvolver estratégias que facilitem processos de ajustamento, desenvolvimento e crescimento. Potenciar a mudança.
Os psicólogos não são detentores de poderes mágicos, não adivinham o futuro nem conseguem ler os pensamentos. Estabelecem uma relação com o outro, e a principal ferramenta é essa mesma, a relação. Os psicólogos também não têm receitas para resolver os problemas, nem fornecem as soluções possíveis, mas antes ajudam à sua descoberta. Encaminham, orientam e ajudam a pensar e a encontrar as formas mais adequadas para gerir as situações. Sejam elas individuais, grupais ou organizacionais. Mas a Psicologia está também presente a um nível mais macro, quer na comunidade, quer na definição de políticas públicas que têm, necessariamente, um impacto muito significativo em todos nós. Pode parecer que não, mas a verdade é que a Psicologia tem impacto no nosso dia-a-dia, ao longo de todo o ciclo de vida.
Dito isto, urge desmontar velhos estigmas e desmistificar a ideia, errada, de que os psicólogos são apenas para os malucos (seja lá o que “malucos” significa). Os psicólogos, ou melhor, a Psicologia, é para todos nós, pelo que estar com um psicólogo não deve jamais ser entendido como algo negativo ou gerador de vergonha. Nada disso. Os psicólogos ajudam aqueles que se sentem mal e experienciam algum tipo de mal estar, mas também os que querem mudar, crescer e encontrar novos caminhos, sem que isso signifique necessariamente qualquer tipo de patologia.
[1] Agulhas & Alexandre (2018). Sabes o que fazem os psicólogos? Lisboa: Ideias com História. Em parceria com a Ordem dos Psicólogos Portugueses