Gonzalo Plata, o menino irrequieto que fugiu de casa para jogar à bola

Antes de chegar a Portugal, o jovem equatoriano garantiu que poderia ter ido para o Barcelona. Escolheu os “leões”, para poder jogar mais, mas assumiu que o Sporting pode ser um “trampolim”.

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Plata a festejar o golo frente ao Boavista LUSA/MARIO CRUZ

Chama-se Gonzalo Plata e é a nova esperança do Sporting para as alas. Com as saídas de Diaby, Raphinha e Matheus Pereira, a inadaptação de Jesé e a intermitência de Camacho, Jovane e Bolasie, este jovem equatoriano, de 19 anos, surge em cena para tentar justificar a boa fama com que chegou. Se o fizer, o Sporting poderá conseguir um tremendo “roubo”, já que para ter um dos melhores jogadores do último campeonato sul-americano sub-20 os “leões” desembolsaram “apenas” um milhão de euros.

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Chama-se Gonzalo Plata e é a nova esperança do Sporting para as alas. Com as saídas de Diaby, Raphinha e Matheus Pereira, a inadaptação de Jesé e a intermitência de Camacho, Jovane e Bolasie, este jovem equatoriano, de 19 anos, surge em cena para tentar justificar a boa fama com que chegou. Se o fizer, o Sporting poderá conseguir um tremendo “roubo”, já que para ter um dos melhores jogadores do último campeonato sul-americano sub-20 os “leões” desembolsaram “apenas” um milhão de euros.

A chave foi jogar em antecipação e impedir que clubes como Barcelona ou Manchester City deitassem mão ao jovem extremo, já internacional equatoriano. E o Barcelona, revelou o próprio Plata, chegou mesmo a avançar com uma proposta. Já lá vamos.

Mónica Jiménez Quintero, mãe de Gonzalo Plata, contou ao PÚBLICO, quando se soube da transferência para o Sporting, que quando tinha cinco anos, o jovem Gonzalo “fugiu e escondeu-se, para poder ir com amigos treinar a um clube” e obrigou “uma mãe solteira e com cinco filhos a trabalhar para o levar aos treinos e aos jogos”.

E define a infância de Plata: “Foi passada a jogar à bola. Ele sempre foi um rapaz muito inquieto. Chutava tudo o que via. Os cadernos ficavam sem folhas, para fazer bolas. E as garrafas também eram bolas. Os sapatos e os ténis estavam sempre estragados”.

Rebelde e irreverente, Plata nasceu em Guayaquil, cidade do Oeste do Equador, virada para o Pacífico. Menos pacífica é a vida de quem leva com este jogador pela frente. Segundo o site da CONMEBOL, “Platita” foi o jogador com mais duelos individuais ganhos e mais dribles feitos no torneio sul-americano sub-20, em 2019.

Para completar o “cartão-de-visita” há um dado curioso, raro nesta estirpe de jogador e que será, certamente, música para os ouvidos de Jorge Silas. Plata foi o terceiro jogador em prova com mais… roubos de bola. Comprometimento defensivo e intensidade que muito agradarão ao treinador “leonino” e que estarão também na base da aposta recente num jovem rebelde, mas que soube esperar. E esperou muito.

O momento de Plata chegou já quase um ano depois de ter chegado a Alcochete. Marcel Keizer não olhou muito para o jovem extremo, Silas também pouco olhou, numa primeira fase, mas, agora, o cenário parece ter mudado. Plata foi o melhor em campo frente ao Boavista, neste domingo, num jogo em que desequilibrou muito, decidiu quase sempre bem, fez uma assistência e fez um golo.

E Silas já está rendido. “O Plata tem vindo a crescer de uma maneira agradável. É um jogador de futuro. Temos tido paciência com ele, metendo-o aos poucos e terá mais oportunidades. E ainda não conseguiu meter tudo cá para fora, ele tem ainda mais para dar. Mas é tudo isto que se viu: virtuoso, atrevido, tem golo. Seguramente será um jogador a ter em conta, até no panorama do futebol mundial”, disse o técnico, após a partida.

"Sonhava chegar a um clube europeu"

“O que nasce torto tarde ou nunca se endireita”, diz o povo. E Gonzalo Plata tem, no Sporting, a espinhosa missão de contrariar o famoso ditado. É que o bom momento actual, depois da explosão com o Boavista, contrasta com um início de aventura que não começou bem.

Ainda antes de pisar solo português, Plata fez os adeptos do Sporting “torcerem o nariz”, fruto de uma declaração daquelas que, geralmente, ferem o orgulho dos adeptos dos clubes. “Assinei por quatro anos, mas, se Deus quiser e se fizer as coisas bem, poderei sair antes disso, para um clube maior”, disse à Rádio Cobertura Plus. O sonho, legítimo, choca com o orgulho de uns adeptos leoninos ansiosos por ver Gonzalo Plata suar e lutar pelo Sporting antes de pensar noutros voos.

Além da audácia e da gafe na retórica, Plata mostrou, por outro lado, alguma sensatez, garantindo que recusou ir para o Barcelona. “Em Barcelona, iria para La Masia, enquanto no Sporting iria para a equipa principal. Eles [Barcelona] continuam a falar comigo, mas, por agora, não vou. Quero jogar”.

A mãe de Gonzalo Plata explica a opção: “Ele sonhava chegar a um clube europeu e conseguiu-o graças ao Sporting. É a equipa de onde saíram grandes jogadores e espero que o meu filho deixe tudo em campo para ser um dos grandes do futebol. O objectivo dele é, para já, ganhar a confiança do treinador e dos colegas”, delineou, ao PÚBLICO.

Entre a audácia de querer outros voos, a quente, e a sensatez na recusa do Barcelona, já a frio, Gonzalo Plata parece ter encontrado um bom equilíbrio: um Sporting a precisar de novas referências e um treinador disposto a dar-lhe espaço, vendo-o como um projecto de craque mundial.

Olhando para o que se passou frente ao Boavista, todos parecem aptos a assumir que aquela fuga de casa, aos cinco anos, valeu a pena.