Os “martemotos” mostram-nos que Marte é geologicamente activo
Os resultados iniciais da sonda InSight em Marte foram revelados esta segunda-feira em vários artigos científicos. Enquanto isso, a sonda continua a trabalhar no planeta vermelho.
Afinal, quais são os batimentos do “coração” de Marte? Para se responder detalhadamente a esta questão, a sonda da NASA InSight viajou até ao planeta vermelho para medir a sua pulsação e perceber assim o seu interior profundo. Agora, são revelados os resultados dos dez primeiros meses da missão. Relatório médico da InSight: confirma-se que Marte é um planeta geologicamente activo. Observou-se ainda que os seus sismos – designados “martemotos” – têm uma magnitude entre os dois e os quatro graus numa escala semelhante à usada na Terra.
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Afinal, quais são os batimentos do “coração” de Marte? Para se responder detalhadamente a esta questão, a sonda da NASA InSight viajou até ao planeta vermelho para medir a sua pulsação e perceber assim o seu interior profundo. Agora, são revelados os resultados dos dez primeiros meses da missão. Relatório médico da InSight: confirma-se que Marte é um planeta geologicamente activo. Observou-se ainda que os seus sismos – designados “martemotos” – têm uma magnitude entre os dois e os quatro graus numa escala semelhante à usada na Terra.
A 26 de Novembro de 2018, a InSight pousou na região de Elysium Planitia. A bordo ia um grande objectivo: examinar a estrutura interior e a composição de Marte. Esta é a primeira missão que está a estudar o interior profundo do planeta. No final, espera-se que, através dos dados recolhidos, se compreenda melhor a formação e a evolução inicial dos planetas rochosos – incluindo a Terra.
Mais de um ano depois da aterragem, são revelados os resultados dos primeiros dez meses de observações da sonda no planeta em vários artigos científicos nas revistas Nature Geoscience e Nature Communications.
Comecemos então pelo início da jornada da InSight (Interior Exploration using Seismic Investigations, Geodesy and Heat Transport). A sonda aterrou especificamente numa pequena cratera com cerca de 25 metros de diâmetro chamada “Homestead hollow”, que é composta por sedimentos trazidos pelo vento e por poeira. Tal como era esperado, o solo deste sítio é plano e estável, o que se mostrou ideal para os trabalhos da sonda.
E o que resultou então do trabalho dos primeiros dez meses? “Vimos que havia muitos ‘martemotos’, o que confirmou que Marte é um planeta geologicamente activo e com um nível de actividade sísmica próximo do que tínhamos previsto antes da aterragem”, resume ao PÚBLICO Bruce Banerdt, investigador do Laboratório de Propulsão a Jacto da NASA, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (EUA) e principal autor do artigo que resume estes resultados iniciais na Nature Geoscience.
Através dos instrumentos da InSight, detectaram-se 174 sismos até 30 de Setembro de 2019 e muitos eram pequenos sismos. Verificou-se que 24 deles tinham uma magnitude entre os três e quatro graus. “Detectámos sinais de martemotos com menos de dois e mais de quatro”, indica Bruce Banerdt, clarificando que a escala usada em Marte é semelhante à da Terra.
O investigador refere ainda que uma magnitude de quatro graus é “relativamente baixa”, mas que tem o potencial de criar alguns danos numa área de poucos quilómetros na região do epicentro. Os dois maiores martemotos foram localizados na região de Cerberus Fossae, que se sabe que ter tido uma actividade vulcânica e tectónica recente. Todos os tremores de Marte podem assim dar-nos informações do interior do planeta vermelho, sobretudo das camadas mais exteriores.
Dar nome a um robô
Também se foram conhecendo outros pormenores sobre Marte. Num dos artigos da Nature Geoscience, revela-se que o campo magnético do local onde a sonda pousou é dez vezes mais forte do que se pensava.
“A InSight está a fazer as primeiras medições magnéticas na superfície de Marte e está a encontrar uma magnetização crustal [da litosfera, a camada superior do planeta] maior do que se pensava e vários tipos de pulsações magnéticas”, refere Bruce Banerdt. E considera: “Os instrumentos estão a dar-nos algumas das mais detalhadas informações sobre a atmosfera marciana até à data.” Perceber melhor as condições de Marte poderá ajudar futuras missões de exploração ao planeta.
Como a missão estava inicialmente pensada para durar dois anos, ainda perdurará, pelo menos, até Novembro deste ano. Contudo, Bruce Banerdt refere que se está a preparar uma proposta à NASA para que a missão dure outros três anos.
Afinal, ainda há muito para explorar. “Com pelo menos mais um ano e mais dados, esperemos ser capazes de saber qual é a espessura da crosta de Marte, assim como o tamanho e a densidade do seu núcleo”, espera o cientista. “Também seremos capazes de mapear melhor a distribuição da actividade sísmica e correlacionar as suas características geológicas.”
E há quem já esteja a aguardar esses resultados. Os cientistas Takashi Yoshizaki e Bill McDonough, ambos da Universidade de Tohoku (no Japão), fizeram um novo modelo da estrutura interna de Marte. Através de rochas recolhidas em Marte e de medições de satélites em órbita, previram que o núcleo está entre 1810 e 3390 quilómetros de profundidade e contém metal líquido. Já o manto estará a entre 50 e 1810 quilómetros de profundidade e a crosta a cerca de 50 quilómetros. “O sismómetro da missão InSight irá directamente testar este novo modelo de Marte”, escrevem os investigadores num comunicado sobre o trabalho.
Para este ano, aguarda-se ainda o lançamento do robô da NASA Mars 2020 entre 17 de Julho e 5 de Agosto. Espera-se que o robô pouse no planeta em Fevereiro de 2021 e que a missão dure, pelo menos, um ano marciano (cerca de 637 dias da Terra). Grandes objectivos: investigar a diversidade geológica do sítio de aterragem (a cratera Jezero); descobrir antigos sinais de vida, particularmente em rochas; e recolher amostras do solo para que voltem à Terra. Por agora, há uma votação no site da missão para escolher o nome do robô. O anúncio será em Março.