Eliades Ochoa: “Foi o Buena Vista que nos fez dar a volta ao planeta”

O cantor e compositor cubano Eliades Ochoa, um histórico do Buena Vista Social Club, apresenta-se a solo em Lisboa com um álbum acabado de sair: Vamos a Bailar Un Son. Um concerto único esta segunda-feira, no Tivoli BBVA, às 21h30.

Foto
Eliades Ochoa com a sua guitarra de 9 cordas NESTOR MARTI DELGADO

Muitos só o conhecem do Buena Vista Social Club, que ele acompanhou desde o início até à última digressão do grupo, Adiós Tour, que acabou em 2016 e passou por Portugal no Verão de 2014, no EDPCooljazz, em Oeiras. Mas Eliades Ochoa começou a tocar muito antes, na sua Cuba natal, e é a solo que se apresenta em Lisboa, esta segunda-feira, no Tivoli BBVA, às 21h30. E traz um álbum novíssimo, Vamos a Bailar Un Son.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Muitos só o conhecem do Buena Vista Social Club, que ele acompanhou desde o início até à última digressão do grupo, Adiós Tour, que acabou em 2016 e passou por Portugal no Verão de 2014, no EDPCooljazz, em Oeiras. Mas Eliades Ochoa começou a tocar muito antes, na sua Cuba natal, e é a solo que se apresenta em Lisboa, esta segunda-feira, no Tivoli BBVA, às 21h30. E traz um álbum novíssimo, Vamos a Bailar Un Son.

“Para mim, e para muita gente, ele é o Johnny Cash cubano”, diz Benicio del Toro logo no início do trailer de um filme sobre Eliades Ochoa, estreado em 2019. E o chapéu de vaqueiro que ele usa há muito (assim o vimos no Buena Vista) completa a marca. Além da sua guitarra, com nove cordas, onde quis dobrar a terceira e a quarta (o ré e o sol).

Inspiração camponesa

Nascido Eliades Ochoa Bustamante em 22 de Junho de 1946, num lugar chamado La Loma de la Avispa (o morro da vespa), no povoado de Songo la Maya, em Santiago de Cuba, aprendeu a tocar guitarra desde cedo, aos 6 anos. Os seus pais eram camponeses, tocavam o tres cubano, uma guitarra com três cordas duplas, e ele aprendeu a ouvi-los. “Foi o campo que me deu a maior inspiração”, diz Eliades Ochoa ao PÚBLICO. “O meu pai trabalhava a terra, ganhava a vida a lavrar, e à noite tocava. Eu fui aprendendo com ele, a ouvi-lo, e foi assim que progredi.”

Foto
O novo disco de Ochoa

Começou a compor também cedo, mas ainda sem grande convicção. “Compunha guarachas e sons, mas não via isso com muita seriedade. Até que um dia a minha mulher me disse que aquelas canções, sons, boleros, tinha de ser olhado com outro cuidado, porque era a minha obra.” E essa atenção deu origem a um livro, que ela própria (Grisel Sande Figueredo, historiadora e musicóloga) escreveu: Eliades Ochoa, de la Trova para el mundo, editado em 2008. E também a algumas canções, que ele lhe dedicou, como Muchas gracias ou Un bolero para ti. Mas a vida e a obra do músico cubano foram também objecto de um filme, Eliades Ochoa, From Cuba To The World (2019), realizado pela americana Cynthia Biestek. “Fala da minha vida e da música que faço, de tudo o que se relaciona comigo”, diz Ochoa.

De Cuba para o mundo

A sua vida profissional começou na década de 1970, em grupos como o Quinteto de la Trova, o Septeto Típico Oriental e em 1978 o Cuarteto Patria, aqui proposto por um fundador da Vieja Trova Santiaguera, Francisco Cobas “Pancho”. O Buena Vista viria mais tarde, em 1997, e é Eliades Ochoa que surge logo nos primeiros minutos do filme de Win Wenders, de guitarra na mão e na primeira linha, a tocar Chan Chan com Compay Segundo. Desaparecido este, em 2003, a par de outras das estrelas do grupo (Manuel “Puntillita” Licea, em 2000; Rubén González, em 2003; Ibrahim Ferrer, em 2005; Pío Leyva, em 2006; Orlando “Cachaíto” Lopez, em 2009), do grupo continuam no activo Ochoa (73 anos), Omara Portuondo (89 anos) e Manuel “Guajiro” Mirabal (86).

Foto
Eliades Ochoa em Cuba DR

“Comecei a viajar para o estrangeiro em 1981”, diz. “Mas a promoção que teve Buena Vista foi o que nos fez dar a volta ao Planeta, mostrando a música que fazemos. Claro que isso deu um grande impulso à música cubana, embora ela tenha tido sempre nome no mundo, por ser ouvida. Toda a gente sabe o que é um bolero ou um son.”

Manu Dibango e Dylan

Do seu percurso, que já soma muitos discos, sublinha várias colaborações essenciais, para lá do Cuarteto Patria e do Buena Vista, estas basilares na sua carreira musical. “Com Manu Dibango, um africano dos Camarões [com o qual gravou em 1998 o álbum CubÁfrica, também com o Quarteto Pátria], com Charlie Musselwhite [em 1999], com AfroCubismo (supergrupo com músicos do Mali e de Cuba, Bassekou Kouyate, Eliades Ochoa, Kassé Mady Diabaté, Lassana Diabaté, Toumani Diabaté, que gravou um CD em 2010], com Luis Eduardo Aute [cantautor espanhol, em 2000], um disco de tributo a Bob Dylan [2013, onde Ochoa gravou uma versão de All along the watchtower], um dueto com Armando Manzanero [cantor mexicano com o qual Ochoa está a gravar um disco].

Em Lisboa, Eliades Ochoa vai apresentar-se em octeto (tem sete músicos com ele) e baseará o concerto no disco Vamos a Bailar Un Son, lançado no dia 24 de Janeiro. Segundos os organizadores, a cantaora flamenca Argentina (nascida em Huelva, em 1984) terá uma participação especial no concerto.