Helena e Mário voltaram a pôr as mós de pedra do avô a girar
Em 2015, decidiram reabrir a Moagem Carlos Valente, que era do avô de Helena. A partir de Vale de Ílhavo, produzem farinhas artesanais, moídas em mós de pedra e cada vez mais procuradas.
Helena Resende cresceu no meio das farinhas e das mós. Volta e meia, ia dar uma ajuda na moagem que a família mantinha a funcionar desde 1810, passando por várias gerações. Acabou por ir estudar gestão hoteleira para a Guarda e foi por lá, mais concretamente na Escola Superior de Hotelaria e Turismo, que se licenciou e conheceu Mário Nunes. Estão juntos há 11 anos e o seu amor já deu, pelo menos, dois frutos. Um menino, de três anos, e um projecto de empreendedorismo que também está carregado de afectos. Helena Resende, de 34 anos, e Mário Nunes, de 33 anos, reabriram a histórica Moagem Carlos Valente, situada em Vale de Ílhavo, e hoje são a quinta geração da família a moer farinha de forma artesanal, em mó de pedra.
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Helena Resende cresceu no meio das farinhas e das mós. Volta e meia, ia dar uma ajuda na moagem que a família mantinha a funcionar desde 1810, passando por várias gerações. Acabou por ir estudar gestão hoteleira para a Guarda e foi por lá, mais concretamente na Escola Superior de Hotelaria e Turismo, que se licenciou e conheceu Mário Nunes. Estão juntos há 11 anos e o seu amor já deu, pelo menos, dois frutos. Um menino, de três anos, e um projecto de empreendedorismo que também está carregado de afectos. Helena Resende, de 34 anos, e Mário Nunes, de 33 anos, reabriram a histórica Moagem Carlos Valente, situada em Vale de Ílhavo, e hoje são a quinta geração da família a moer farinha de forma artesanal, em mó de pedra.
Em tempo de crise, viram-se obrigados a tomar uma decisão. “Ou emigrávamos e perdíamos qualidade de vida, ou pegávamos na nossa veia empreendedora e reinaugurávamos esta empresa histórica de Ílhavo”, relatam. Optaram pela segunda hipótese e instalaram-se em Vale de Ílhavo, terra natal de Helena e à qual Mário, natural de Oliveira do Hospital, não tardou a ambientar-se. A moagem tinha fechado cinco anos antes, precisamente no ano em que completou 200 anos de actividade, devido à idade avançada do avô de Helena.
Não obstante a fraqueza da velhice, Carlos Valente ainda conseguiu arranjar forças para passar a Helena e Mário toda a informação e técnica necessária ao funcionamento das máquinas e das mós de pedra. “Ele andava cheio de genica a ensinar-nos e com uma alegria tremenda para saber que o negócio ia reabrir”, recorda Helena. Viria a falecer, em 2015, 15 dias antes de a moagem abrir em pleno, mas Helena e Mário têm consciência de que lhe deram uma enorme alegria. E o mais importante de tudo: mantêm o seu nome no negócio, perpetuando no tempo o seu saber fazer e dedicação à arte.
O casal decidiu seguir “o modelo de negócio antigo”, que vinha do tempo do avô, mas com a perspectiva de “valorizar o produto”. “Começámos a produzir farinha com outros cereais, nomeadamente trigo barbela e aveia”, destaca Mário. Em parceria com duas empresas ilhavenses, a Horta da Ria e a Algaplus, também começaram a produzir farinha com salicórnia e farinha com algas. Sempre com uma condição essencial: “Todas as farinhas são moídas em mó de pedra, como eram feitas antigamente.” “A única diferença reside na energia que faz as mós rodarem, outrora movidas a água, depois com motores de combustão, e hoje movidas a energia eléctrica”, explicam.
Exigências dos tempos modernos
Em 1810, e durante mais de um século, a moagem da família Valente esteve situada junto a uma levada e era a água que fazia as mós moverem-se. “Mas depois desviaram as águas para abastecer a rede da cidade de Aveiro e as valas acabaram por secar”, enquadra Helena. Foi nessa altura, por volta de 1950, que a empresa se mudou para o centro da localidade de Vale de Ílhavo, terra de fabrico de pão artesanal, pelas mãos das suas famosas padeiras. São parte da clientela da moagem, que há muito começou a ultrapassar as fronteiras da região e que já conquistou chefs e padarias artesanais de vários pontos do país. “Somos procurados por padarias artesanais, que utilizam a levedação natural com massa-mãe, num regresso ao pão mais verdadeiro”, realçam.
“As pessoas preocupam-se, cada vez mais, com aquilo que comem. Tentam saber a origem e olham para os rótulos”, realça Helena, dando nota de que essa é também a linha que pretendem seguir na moagem. “O cereal que compramos tem de ser de qualidade e conhecemos a sua origem”, assevera. Depois, é manter o processo tal como está, com a certeza de que “em mó de pedra o cereal não aquece, e assim não perde as propriedades organolépticas originais”.
A preocupação do casal em torno da matéria-prima é de tal ordem que houve um ano em que se aventuraram a semear trigo e milho num terreno da mãe de Helena. “O trigo não se dá nesta zona e o milho precisa de uma grande quantidade para aquilo ser rentável”, testemunham, a propósito da aventura que “valeu pela experiência”.
O trabalho na moagem não lhes deixa, por ora, muito tempo livre para passearem e gozar férias. “As padeiras e as padarias nunca param”, justificam. Os fins-de-semana vão sendo repartidos entre Vale de Ílhavo e Oliveira do Hospital, concelho que, além de ser a terra natal de Mário, está plantado nesse território que os apaixona: a serra da Estrela. Foi lá que estudaram e trabalharam, durante vários anos. Helena passou por um hotel de turismo rural, na Lapa dos Dinheiros, e por um restaurante em Barriosa, freguesia de Vide. Mário também trabalhou num turismo rural, na Aldeia das Dez, fez vários estágios e deu aulas na Escola Profissional de Hotelaria de Manteigas. Em conjunto, exploraram a concessão do Bar do Rio, também na serra da Estrela, durante um Verão. “Adoramos a tranquilidade da montanha. É um ambiente diferente”, realçam, a propósito do território para o qual gostam de viajar, sempre que podem.