Manifestação contra a despenalização da eutanásia une jovens e idosos frente ao Parlamento

“Uma sociedade que oferece a morte, morre a cada pessoa que mata”, podia ler-se num dos cartazes dos manifestantes que se concentraram em frente ao Palácio de São Bento.

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Centenas de pessoas concentraram-se junto ao Palácio de São Bento para se manifestarem contra a eutanásia Nuno Ferreira Santos

Sentadas num muro em frente à Assembleia estão duas mulheres que vieram participar na manifestação contra a despenalização da eutanásia e da morte assistida que se discutia no hemiciclo, que esta quinta-feira aprovou cinco projectos de lei nesse sentido, mas só chegaram quando esta já tinha acabado. Uma delas, de 77 anos, afirma-se contra a eutanásia. Dá o seu caso familiar: a mãe esteve num estado muito grave e os médicos diziam que seria “uma sorte estar viva no dia seguinte”. Acabou por viver mais 19 anos.

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Sentadas num muro em frente à Assembleia estão duas mulheres que vieram participar na manifestação contra a despenalização da eutanásia e da morte assistida que se discutia no hemiciclo, que esta quinta-feira aprovou cinco projectos de lei nesse sentido, mas só chegaram quando esta já tinha acabado. Uma delas, de 77 anos, afirma-se contra a eutanásia. Dá o seu caso familiar: a mãe esteve num estado muito grave e os médicos diziam que seria “uma sorte estar viva no dia seguinte”. Acabou por viver mais 19 anos.

Mostrou-se ainda preocupada com os “abusos que vão acontecer nos hospitais” e com decisões precipitadas que possam ser tomadas pelos doentes. Ainda assim, admite que, em casos extremos, compreende que a eutanásia possa ser aplicada.

Por volta das 14h30 de quinta-feira centenas de pessoas concentravam-se junto ao Palácio de São Bento, onde aguardavam o início do debate sobre a despenalização da morte assistida, marcado para as 15h.

Entre jovens e mais velhos, os cartazes eram muitos, com frases escritas a azul e vermelho, outras com balões coloridos: “Vida sim, eutanásia não”, “aAeutanásia não é um direito” e “Matar? Só por egoísmo! Eutanásia não”. “Uma sociedade que oferece a morte, morre a cada pessoa que mata” e “Senhor Presidente, vete está lei ridícula”, lia-se em outros dos cartazes da manifestação.

De caneta em riste, uma voluntária ia recolhendo listas de assinaturas para a petição que defende o referendo.

Filomena Mendes veio de Fátima para se juntar à concentração no exterior da Assembleia da República. “A lei não faz sentido em Portugal. No nosso sistema de saúde, os cuidados paliativos estão deficientes. Se a lei for aprovada, as pessoas não vão ter escolha livre entre uma coisa ou outra”, defende a jovem de 19 anos.

A jovem veio, juntamente com João Paulo, também ele de 19 anos, num grupo organizado pela associação bracarense In Família. As pessoas são sobretudo do Porto e de Braga e vieram de propósito para participar na manifestação contra a eutanásia, organizada pela Federação Portuguesa Pela Vida, em frente à Assembleia da República.

João Paulo diz-se preocupado com o efeito “rampa deslizante” que a aprovação da eutanásia pode ter, dando os exemplos da Bélgica e da Holanda, nos quais a legislação se tornou progressivamente mais liberal. Teresa Mendes, também de 19 anos, acrescenta que, “na Bélgica e Holanda, a eutanásia é legal, mas eles têm cuidados paliativos excelentes”, algo que diz que não acontece em Portugal. 

Pouco antes do início do debate, a multidão começou a dispersar e já pouco mais de vinte pessoas permaneceram frente à escadaria da Assembleia. Entretanto, nas traseiras do Parlamento formava-se uma longa fila de pessoas para entrar na Assembleia, ainda com esperança de conseguir assistir ao debate.

Por volta das 18h40 começaram a sair as primeiras pessoas, depois de já terem sido aprovadas as propostas na generalidade.

Nuno Machado veio esta manhã do Porto para assistir à discussão do tema no Parlamento. O rapaz de 17 anos é contra a eutanásia e, perante a aprovação dos cinco projectos-lei, diz que “o que aconteceu foi tudo menos o que os portugueses precisavam”.

O jovem defende que a preocupação deveria ser o reforço dos cuidados paliativos, porque “os portugueses precisam de ajuda, não precisam que os matem”.

Diz-se desiludido, mas ainda acredita num referendo: “A luta não acaba aqui e o referendo será certamente o nosso próximo grande passo”.

Texto editado por Amílcar Correia