“A arquitectura em Portugal está em agonia”, diz Álvaro Siza

Arquitecto fez conferência no dia de abertura do festival literário Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim.

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Álvaro Siza Adriano Miranda

O arquitecto Álvaro Siza considerou, esta quarta-feira, que a arquitectura em Portugal “está em agonia”, culpando as normas impostas pela Comunidade Europeia como um dos motivos para a degradação da actividade.

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O arquitecto Álvaro Siza considerou, esta quarta-feira, que a arquitectura em Portugal “está em agonia”, culpando as normas impostas pela Comunidade Europeia como um dos motivos para a degradação da actividade.

Álvaro Siza fez esta análise no final de uma intervenção na sessão de abertura do evento literário Correntes D'Escritas, na Póvoa de Varzim, onde foi o convidado central do arranque do certame, apontando que a situação só se resolveria com um “'brexit' arquitectónico”.

“Em Portugal e na Europa, excepto na Suíça, a arquitectura está em agonia. Os concursos dizem que o critério é o custo do projecto, que na prática significa o preço mais barato, fazendo com que haja gente a trabalhar com honorários impossíveis. Não sei onde vão buscar o proveito, sobretudo quando o trabalho é feito com empenho e sentido de responsabilidade”, analisou o arquitecto natural de Matosinhos, actualmente com 86 anos.

Para Álvaro Siza Vieira, essas normas europeias dos concursos de contratação de obras por organismos estatais, e a burocracia inerente, acabam por provocar “uma forte despesa publica”. “Sem um ‘brexit’ arquitectónico, não há solução. As instruções dizem que tem de haver concursos, pois as câmaras só podem pagar até 20 mil euros por ajuste directo, mas isso não dá para projectar uma cabana”, disse o arquitecto.

Álvaro Siza questionou “o porquê de os deputados europeus não darem um murro na mesa”, deixando o lamento que, actualmente, “a arquitectura não interessa a ninguém”. “A arquitectura moderna singrou, teve êxito e prestígio, porque um dos seus propósitos era a qualidade para todos. Hoje é tida como uma velharia e um capricho inútil para alguma gente com dinheiro”, desabafou.

Ainda assim, apesar dos seus 86 anos, Álvaro Siza Vieira partilhou o prazer que ainda sente na actividade, com projectos em vários países como Estados Unidos da América, China, Taiwan, Coreia do Sul, Japão, em várias cidades europeias e, obviamente, em Portugal.

“Move-me continuar porque, primeiro, tenho de ganhar a vida, e, segundo, porque gosto de arquitectura. Não digo que é uma paixão, porque isso sente-se por pessoas e não por edifícios, mas fazer o que se gosta é muito importante. Continuo a sentir prazer e entusiasmo no que faço, mesmo com algumas dores de cabeça”, partilhou o Prémio Pritzker 1992 – o “Nobel” de Arquitectura – e o vencedor da primeira edição do prémio europeu Mies van der Rohe (1988), entre outras distinções.

Sobre a sua presença como orador na sessão de abertura do Correntes D'Escritas, Álvaro Siza falou de uma “experiência gratificante”. “Estava um pouco preocupado porque não tenho competência necessária para falar da literatura, e, por isso, pensei que seria mais interessante abordar as relações que existem entre as diversas artes, num momento em que há a tendência de considerar que há muros entre elas”, disse.

Confesso apreciador de poesia, pela “exigência de perfeição e capacidade criar imagens”, Álvaro Siza apontou pontos em comum entre este género literário e a sua profissão. “A poesia tem para um arquitecto um especial interesse, por colocar à prova a capacidade de síntese, que é algo que interessa muito arquitectura, e pelo rigor e ânsia de perfeição que está patente nos poemas, além da sua musicalidade e conteúdo”, partilhou.