Petição contra aeroporto do Montijo soma mais de 26 mil assinaturas na Holanda

Os planos do Governo português são “infelizes”, considera a organização Vogelsbescherming Nederland. “O aeroporto tem um grande efeito disruptivo para todos os pássaros nesta zona.”

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Maçarico-de-bico-direito no estuário do Tejo Nuno Ferreira Santos

Uma associação de protecção das aves holandesa publicou um abaixo-assinado contra o aeroporto do Montijo. O motivo? Afecta o maçarico-de-bico-direito (Limosa limosa), considerada a ave nacional da Holanda. A petição já reunia, esta terça-feira, mais de 26 mil assinaturas.

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Uma associação de protecção das aves holandesa publicou um abaixo-assinado contra o aeroporto do Montijo. O motivo? Afecta o maçarico-de-bico-direito (Limosa limosa), considerada a ave nacional da Holanda. A petição já reunia, esta terça-feira, mais de 26 mil assinaturas.

No texto que acompanha a petição lê-se que “o novo aeroporto de Lisboa ameaça o maçarico-de-bico-direito e centenas de outras aves”. Os planos do Governo português são “infelizes”, considera a organização Vogelsbescherming Nederland, que se foca na conservação das aves e que diz ter acedido a um pedido da congénere portuguesa, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).​ “O aeroporto está localizado no meio de uma área de conservação da União Europeia, na desembocadura do rio Tejo. O estuário do Tejo é uma área protegida [pela rede] Natura 2000.”

“É aqui que está a maioria dos maçaricos-de-bico-direito nesta alguma do ano”, esclarece o texto que acompanha a petição. Os maçaricos-de-bico-direito, também conhecidos como milharengo, viajam entre África e a Holanda e pelo meio descansam na área do estuário do Tejo.“Eles comem os restos de colheita dos campos de arroz para voarem até ao nosso país para se reproduzirem. O aeroporto tem um grande efeito disruptivo para todos os pássaros nesta área” — e para além de disruptivo, pode ser mortal, acrescenta a associação.

O objectivo é apresentar a petição às instituições europeias, nomeadamente à Comissão Europeia, lê-se no site do projecto: “Se as associações de protecção de aves se juntarem perante a Comissão Europeia, seremos mais fortes do que a SPEA sozinha”.

Em declarações à TSF, o porta-voz da associação explica que o maçarico é a ave nacional da Holanda, país por onde passam, uma vez por ano, cerca de 85% dos animais desta espécie.

O responsável disse terem ficado “chocados” quando tiveram conhecimento do plano para construir o aeroporto no Montijo, um projecto que no seu entendimento vai afectar não só os maçaricos, mas milhares de outras aves que por ali passam. “Esta área perto de Lisboa é crucial para este tipo de ave carregar baterias e ganhar forças para o final da viagem. A ideia de ter um aeroporto num estuário é difícil de entender numa sociedade de preservação da natureza. É uma zona protegida vital para milhares de aves migratórias e pode causar um desastre ecológico”, destacou Thijs den Otter.

Thijs den Otter sublinhou também que não percebe como Portugal planeia fazer um aeroporto numa zona considerada protegida pela União Europeia para salvar espécies selvagens ameaçadas ou vulneráveis.

Os cientistas estimam que entre Janeiro e Fevereiro o Estuário do Tejo seja usado como abrigo e fonte de alimento por cerca de 50 mil maçaricos-de-bico-direito, refere a TSF.

Em reacção, o ministro do Ambiente defendeu que a avaliação de impacto ambiental do futuro aeroporto do Montijo foi “muito rigorosa” e apresenta alternativas. Em declarações aos jornalistas, à margem da apresentação do novo concurso de transportes da Área Metropolitana de Lisboa, Matos Fernandes destacou que a declaração de Impacto Ambiental do Aeroporto do Montijo “foi discutida publicamente, foi discutida tecnicamente, e tem um conjunto de medidas de compensação e de minimização dos impactos ambientais”.

Segundo o ministro, foi “uma avaliação muito rigorosa”, que “concluiu que os impactos que existem podem ser minimizados" 

O ministro destacou que, “na parte aérea que é afectada da Reserva Natural do Estuário do Tejo ela é compensada por outras áreas que até são de maior dimensão” destinada à população de aves, nomeadamente algumas salinas na margem sul.

Nesta terça-feira, o secretário de Estado Adjunto e das Comunicações, Alberto Souto de Miranda, escreve um artigo de opinião no PÚBLICO em defesa do aeroporto do Montijo, onde reconhece que o risco mais sério são as colisões de aves com aviões. Mas, diz, “os pássaros não são estúpidos e é provável que se adaptem.”

A 8 de Janeiro de 2019, a ANA - Aeroportos de Portugal e o Estado assinaram o acordo para a expansão da capacidade aeroportuária de Lisboa, com um investimento de 1,15 mil milhões de euros até 2028 para aumentar o actual aeroporto de Lisboa e transformar a base aérea do Montijo, na margem sul do Tejo, num novo aeroporto.

O aeroporto do Montijo poderá ter os primeiros trabalhos no terreno já este ano, depois da emissão da Declaração de Impacto Ambiental (DIA) e da reorganização do espaço aéreo militar e após os vários avanços registados em 2019. No início de Fevereiro, o PÚBLICO noticiava que o novo aeroporto poderá nascer nas imediações dos locais de refúgio e alimentação do maçarico-de-bico-direito. O caso da construção do novo aeroporto do Montijo já tinha despertado a atenção dos meios de comunicação e investigadores holandeses, que já haviam colocado perguntas ao Governo local e pedidos de uma tomada de posição por parte da União Europeia, que financia programas de apoio à conservação destas aves em países do Norte da Europa.