Medina quer acabar com os voos nocturnos em Lisboa

Autarca chamou “tragédia pública” à forma como foram tomadas decisões sobre a expansão do aeroporto da Portela e afirmou que a câmara não pode continuar a ser posta à margem.

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Um avião da TAP sobrevoa o Campo Grande em direcção ao aeroporto. Boa parte da cidade é afectada pelo ruído paulo pimenta

Depois de ter pedido ao Governo que fizesse estudos sobre a expansão do Aeroporto Humberto Delgado e de essa expansão ter começado sem que obtivesse resposta, Fernando Medina endureceu o tom e garante agora que, no que depender dele, acabaram-se os voos durante a noite em Lisboa.

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Depois de ter pedido ao Governo que fizesse estudos sobre a expansão do Aeroporto Humberto Delgado e de essa expansão ter começado sem que obtivesse resposta, Fernando Medina endureceu o tom e garante agora que, no que depender dele, acabaram-se os voos durante a noite em Lisboa.

Na assembleia municipal, onde foi questionado por Os Verdes, Bloco de Esquerda e PAN sobre o assunto, o presidente da Câmara de Lisboa chamou “tragédia pública” à forma como as obras na Portela foram decididas e disse que não serão os munícipes a pagar por isso. “É absolutamente impossível alguém pensar que fará dos lisboetas o factor de ajustamento da tragédia pública que foi o processo de decisão da expansão da capacidade aeroportuária de Lisboa”, disse.

As obras actualmente em curso no Humberto Delgado, que começaram em meados de Janeiro e suspenderam os voos nocturnos, visam ampliar a estrutura aeroportuária para que seja capaz de receber mais movimentos por hora. Em Novembro, a câmara aprovou uma proposta de Medina por unanimidade para que o Governo fizesse e apresentasse estudos sobre ruído, poluição atmosférica e acessibilidades relativos à expansão. Ficou até agora sem resposta.

“Ainda não recebemos nem informação relativamente ao plano estratégico, não recebemos informação relativamente à lista de infracções. Aguardamos a recepção dessa informação”, afirmou o autarca. José Sá Fernandes, vereador da Estrutura Verde, disse no início do mês que contava receber esses dados até ao fim de Fevereiro.

“A situação hoje do ponto de vista da poluição, do ruído diurno e da grosseira ilegalidade que representa o ruído nocturno é inaceitável e inadmissível”, afirmou Medina, queixando-se de “enorme opacidade” do “sector e operadores” relativamente “a informação básica e fundamental”. Foi por isso, acrescentou, que a autarquia encomendou medidores de poluição com vista a ter uma rede própria.

“É absolutamente inaceitável que alguma vez alguém pense que se vai retomar no Aeroporto Humberto Delgado a situação de voos nocturnos que a cidade conheceu até há umas semanas. Já o transmiti a quem de direito. Não toleraremos de novo os voos nocturnos em Lisboa”, garantiu.

De acordo com investigadores universitários e ambientalistas, o ruído dos aviões em Lisboa afecta mais de 400 mil pessoas e não só em Entrecampos ou na zona mais próxima do aeroporto, mas também, por exemplo, em Campo de Ourique, Campolide e Santa Iria de Azóia. Em Agosto de 2019, a Portela bateu um recorde: teve 709 aterragens e descolagens num só dia, ultrapassando os 685 voos que tinham sido registados em Agosto de 2018. Por ali passaram 31 milhões de pessoas no ano passado.

Em Outubro, a Autoridade Nacional da Aviação Civil disse ao PÚBLICO que tinha aberto “vários" processos de contra-ordenação a transportadoras áreas que ultrapassaram os níveis de ruído permitidos por lei, mas não especificou quantos.

Em Março, na Assembleia da República, vão ser discutidos dois projectos de lei do PAN e do Bloco para que os voos sejam proibidos entre a meia-noite e as 6h, excepto em caso de emergência.