Aeroporto do Montijo – uma opção de futuro
À nossa geração, agora, cabe a responsabilidade e o risco de fazer. E a ousadia de fazermos bem. Com os melhores dados da ciência e da técnica. É esse o nosso dever.
1. Um Governo responsável não distrata opiniões adversas. Tem mesmo o dever de as sopesar e verificar a sua consistência. É isso que este Governo tem feito. Em sede própria procedimental, respeitando as competências próprias da APA e não interferindo com a sua autonomia científica. Aceitando o debate público, mesmo quando as críticas são desinformadas ou tributárias de visões enviesadas de radicalismos e utopias muito pró neo-naturalismos. Todas respeitáveis. Todas merecedoras de contraditório.
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1. Um Governo responsável não distrata opiniões adversas. Tem mesmo o dever de as sopesar e verificar a sua consistência. É isso que este Governo tem feito. Em sede própria procedimental, respeitando as competências próprias da APA e não interferindo com a sua autonomia científica. Aceitando o debate público, mesmo quando as críticas são desinformadas ou tributárias de visões enviesadas de radicalismos e utopias muito pró neo-naturalismos. Todas respeitáveis. Todas merecedoras de contraditório.
2. É natural que aos 16 anos se exija a descarbonização absoluta para ontem. São bons ideais e preconizam um caminho virtuoso. A realidade é, porém, mais diacrónica. E, se quisermos mesmo ganhar a batalha da descarbonização, temos de aceitar períodos transitórios alongados e políticas consequentes. Os aviões e os navios poluentes não vão acabar. O que vamos ter são aeronaves e aeroportos, embarcações e portos mais descarbonizados. É esse o nosso dever: contribuir desde já para que tal transição seja concreta. Estigmatizar a mobilidade aeronáutica ou marítima é um erro infantil, é deitar fora o bebé com a água do banho, em vez de mudar apenas a água suja que importa substituir. Greta é um grito. E tem razão. Mas uma coisa são gritos de alerta, outra é a vozearia de ocasião. Não permite ouvir o essencial.
3. O que já é mais dificilmente aceitável é o alarmismo e a ocultação dolosa de verdades técnicas. A este respeito, o designado “Grupo de Alverca” tem prestado um péssimo serviço ao País. Alverca não é opção. É uma obsessão. Confrange-me, sinceramente, até pela admiração que tenho por alguns dos oito subscritores, vê-los a emprestarem o prestígio do seu nome a uma opção flagrantemente falhada pelas mais elementares regras de projecto. Não há outra forma de o dizer: ou os Srs. Eng. em causa não fizeram o trabalho de casa – e deviam pedir desculpa a si próprios e ao País – ou pura e simplesmente acham aceitável que se aterre o rio Tejo em 3 ou 4 km (!) de extensão (consoante as semanas…), em plena ZPE do estuário. Devem então, com frontalidade, explicar ao País que um bom projecto de aterro do Tejo é boa engenharia, ainda que seja uma aberração civilizacional. Mas é obviamente inaceitável. O erro é grosseiro. Aterrar o Tejo em 3 ou 4 km (consoante as semanas…) não é opção. É uma triste história.
4. Como ninguém os ouve apesar do barulho que persistem em fazer e que sempre serve para alimentar uma duvidazinha para os mais incautos e para apimentar uns programas de televisão, dedicam-se agora a vilipendiar o projecto do Montijo.
Ora, a opção Montijo viu a sua viabilidade ambiental ser reconhecida pela APA e o proponente deve agora preparar o projecto de execução. O que o Governo português espera é que possa ser um projecto modelar na sua sustentabilidade ambiental para conseguir um aeroporto em linha com a estratégia de descarbonização.
Já não há objeções nem dúvidas? Sim, ainda há. Em primeiro lugar, dos cinco municípios com impactos directos concretos (Montijo, Moita, Barreiro, Alcochete e Lisboa), só um (Moita) é que se opõe, sendo os outros quatro a favor. É uma coincidência ser do PCP?
5. Em segundo lugar, há os alarmistas, que se afadigam em inventariar os acidentes recentes, para explorar o medo da tragédia e denegrirem as características da pista. Entendamo-nos: o Governo português nunca apoiaria, nem apoiará, uma pista que não seja autorizada e certificada pelas autoridades aeronáuticas. Não há roleta russa com a segurança. Há regras muito estritas. E nenhuma autoridade aeronáutica nacional ou internacional certificará a pista se ela não oferecer todas as condições de segurança. 2400 metros de pista é o que têm muitas pistas por todo o mundo, onde se realizam milhares de operações aéreas, diariamente, em segurança. Acidentes são acidentes. Com causas diferentes. Outra coisa é alarmismo e extrapolações abusivas e irresponsáveis. E se for possível, em sede de projecto de execução, melhorar ainda as áreas de TORA (Take off runway area) e de RESA (Runway end safety area) de modo a acolher todo o tipo de aviões de médio curso, excelente. No que respeita a regras de segurança, não seremos tímidos no exigir, nem displicentes no dispensar. Porque, convém lembrá-lo, esta pista foi concebida para ser complementar à Portela e não para ser a pista principal de Lisboa. Os boatos tecnicamente enroupados e catastrofistas fazem ruído, mas não desclassificam pistas.
6. Em terceiro lugar, há ainda os estrénuos protectores das espécies, de matriz radical e insensata, como os que lembram a velocidade de locomoção dos caranguejos: um dos riscos do projecto é o da mortandade provável dos ditos que, porque lentos, talvez não consigam fugir a tempo das máquinas… É o princípio da precaução levado ao risível. Mais sério é o “bird strike”, risco conhecido em vários aeroportos e com medidas mitigadoras em todos. Não há aeroportos sem impactos. Os caranguejos podem ser lentos, mas não estão em extinção. É um impacto não mitigável. Mas os pássaros não são estúpidos e é provável que se adaptem. E este postulado arriscado é tão cientificamente sólido como o seu contrário: o de que eles não vão encontrar outras rotas migratórias, outras paragens estalajadeiras, como no Mouchão. Ciência sem dados comprovados não é ciência.
7. Enfim, o aeroporto do Montijo, nesta fase, deve ser visto como a pista complementar de Lisboa, o que permitirá aliviar a pressão sobre a capital. Esse benefício não deve ser menosprezado. Acresce que, a prazo, uma vez retirada a Base Aérea n.º 6, o Montijo terá área liberta para uma segunda pista com mais de 3 km, sem beliscar o Tejo. Lisboa terá uma solução aeroportuária suficiente para os próximos 100 anos. Em maré baixa ou em maré altíssima. Aí sim, a engenharia portuguesa deverá ter sabido proteger a tempo a baixa de Lisboa e saberá altear as cotas do Montijo, se necessário for. Com terceira travessia e caminho de ferro, assim espero. E, sim, nessa altura é muito verosímil que as aeronaves se movam com outros tipos de propulsão descarbonizada. Talvez a Greta, na longevidade, então banal, dos seus 117 anos, aterre no Montijo, muito mais sábia e ciente das capacidades do Homem para se transformar e com uma pontinha de orgulho por ter contribuído para tal.
À nossa geração, agora, cabe a responsabilidade e o risco de fazer. E a ousadia de fazermos bem. Com os melhores dados da ciência e da técnica. É esse o nosso dever.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico