Galp dá 192 milhões à Amorim Energia e 43 milhões ao Estado
Queda do lucro da Galp, num “contexto de refinação desafiante”, não impede subida do dividendo em 10%, chegando aos 0,69575 euros por acção.
O resultado líquido da Galp Energia foi de 560 milhões de euros no ano passado (em termos ajustados), o que representa uma queda de 21% (ou 147 milhões) face a 2018. A empresa fala de um “contexto de refinação desafiante”, sem dar pormenores, ao mesmo tempo que considera que no ano passado teve “um desempenho financeiro robusto”, suportado “pelos resultados do upstream [exploração] e do downstream [distribuição]”.
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O resultado líquido da Galp Energia foi de 560 milhões de euros no ano passado (em termos ajustados), o que representa uma queda de 21% (ou 147 milhões) face a 2018. A empresa fala de um “contexto de refinação desafiante”, sem dar pormenores, ao mesmo tempo que considera que no ano passado teve “um desempenho financeiro robusto”, suportado “pelos resultados do upstream [exploração] e do downstream [distribuição]”.
Tendo em conta a norma IFRS - sem valores ajustados – a descida é mais abrupta, caindo 47%, para 389 milhões. De acordo com o comunicado da empresa, a margem da refinação caiu mais de um terço e chegou aos 3,1 dólares por cada barril de petróleo processado.
Olhando para o EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações na sigla inglesa), verifica-se que este subiu 7%, para 2381 milhões de euros mas inclui uma perda de 32% (195 milhões de euros) no segmento de refinação e distribuição. Já o EBITD (que não inclui as amortizações) desceu 9% (131 milhões), para 1387 milhões de euros. Aqui, a refinação e a distribuição caiu 97% para apenas oito milhões de euros (menos 258 milhões de euros). Outros indicadores foram mais positivos, como o da dívida líquida, que desceu 17%, para 1435 milhões, e do free cash flow, após dividendos, que subiu 63%, para 232 milhões.
Mais 10% de dividendos até 2021
Sobre os dividendos, a empresa liderada por Carlos Gomes da Silva mantém a proposta de um aumento de 10% por ano entre 2019 e 2021, avançada na altura dos resultados do terceiro trimestre, tendo por base os 0,6325 euros brutos pagos por acção em relação ao exercício de 2018 (e que significaram um acréscimo de 15%).
Essa estratégia coloca o próximo montante nos 0,69575 euros por acção, beneficiando accionistas como a Amorim Energia (33,3% do capital) e o Estado português (7,5%). No caso da Amorim Energia há a particularidade de os accionistas angolanos, Sonangol e Isabel dos Santos, associados na Esperaza estarem de costas voltadas. Luanda avançou com um processo contra a filha do ex-presidente, José Eduardo dos Santos, que inclui o arresto preventivo de contas e bens da empresária. A medida alargou-se depois às contas em Portugal.
Como a Sonangol detém a maioria do capital da Esperaza (sociedade-veículo dona de 45% da Amorim Energia), é de esperar que haja dificuldades em receber os dividendos por parte de Isabel dos Santos. Os maiores beneficiários do aumento dos dividendos serão mesmo as descendentes de Américo Amorim, onde se destaca Paula Amorim (presidente do conselho de administração da petrolífera portuguesa), que detêm 55% da Amorim Energia.
A subida do dividendo significa que em termos anuais o próximo encaixe para a Amorim Energia será de 192,3 milhões de euros, dos quais 105,8 milhões para as descendentes de Américo Amorim, 51,9 milhões para a Sonangol e 34,6 milhões ligados a Isabel dos Santos. Já o Estado, por via da Parpública, terá direito a 43,1 milhões de euros.
Em termos de investimentos, estes desceram 5% para 856 milhões em 2019, tendo a maioria (70%) ido para área da exploração e prospecção. Durante a próxima década, diz a petrolífera, mais de 40% dos investimentos “visam capturar oportunidades relacionadas com a transição energética” e “10% a 15% serão alocados a projectos de geração eléctrica de base renovável e novos negócios”. O investimento líquido previsto situa-se, em termos médios, entre os mil milhões de euros e os mil e duzentos milhões, por ano até 2022, “ainda que mais concentrado no início do período”, refere a Galp.
No final do passado mês de Janeiro, a Galp anunciou a aquisição de vários projectos de produção de energia solar fotovoltaica, num negócio de 2,2 mil milhões de euros. O acordo alcançado com o grupo ACS vai permitir à Galp juntar ao seu portefólio um conjunto de activos que representam uma capacidade instalada de 2,9 gigawatts (GW). Na altura, a empresa afirmou que a transacção – cujo desfecho é esperado para o segundo trimestre - tem um valor total de 2,2 mil milhões de euros até 2023.