Médicos alertam para possível fecho da urgência da obstetrícia de hospital de Setúbal
Dos nove médicos do da urgência de obstetrícia do Hospital São Bernardo, em Setúbal, cinco vão embora até ao final do ano.
A Ordem dos Médicos alertou nesta segunda-feira para a possibilidade de encerramento da urgência de obstetrícia do Hospital São Bernardo, em Setúbal, devido à saída de cinco médicos daquele serviço no final deste ano.
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A Ordem dos Médicos alertou nesta segunda-feira para a possibilidade de encerramento da urgência de obstetrícia do Hospital São Bernardo, em Setúbal, devido à saída de cinco médicos daquele serviço no final deste ano.
“O serviço de obstetrícia está em perigo de desaparecer, em termos de urgência e não só. De nove médicos, cinco vão-se embora no final do ano. As idades dos médicos, em geral, são muito elevadas, passam os 55 anos”, disse Daniel Travancinha, do Conselho Sub-Regional de Setúbal da Ordem dos Médicos.
“As urgências são ainda possíveis, contrariamente ao que se diz, devido a esses mesmos médicos com mais de 55 anos, que ainda vão fazendo urgências. E alguns deles mais de 24 horas por semana”, acrescentou.
Daniel Travancinha falava aos jornalistas no final de uma reunião da Ordem dos Médicos com a direcção clínica do Hospital São Bernardo, em que também participou o bastonário Miguel Guimarães, e na qual foram abordados alguns problemas, como as agressões a médicos e a necessidade de ampliação daquela unidade hospitalar.
“O doutor Travancinha deu o exemplo do serviço de obstetrícia e ginecologia. A obstetrícia e a ginecologia, se nada for feito nos próximos três ou quatro anos, vão ter de fechar a urgência externa, sendo que este ano já existem dias em que a urgência está fechada por falta de médicos”, corroborou o bastonário.
Hospital penalizado na classificação
Miguel Guimarães referiu também que, a par dos problemas da falta de pessoal e de espaços físicos adequados, o Hospital São Bernardo também está a ser penalizado pela classificação que lhe está atribuída, o que significa que recebe compensações financeiras muito inferiores às que são pagas a outras unidades hospitalares pelos mesmos actos médicos.
“Em Setúbal existe uma quantidade de médicos altamente diferenciados, que fazem serviços que vão muito para além da tipologia do hospital - como está classificado na legislação -, oferecem cuidados que não têm sido reconhecidos pelo Estado, nomeadamente naquilo que é a valorização dos actos praticados”, disse.
“Fazem-se aqui técnicas altamente diferenciadas em várias áreas, que têm uma valorização mais baixa do que as mesmas técnicas em outros hospitais, só porque o hospital tem uma classificação diferente. E isto é uma coisa que urge corrigir, porque estas pessoas estão aqui a dar o melhor de si, a fazer uma medicina de elevadíssima qualidade e não estão a ter esse reconhecimento, que é importante que aconteça rapidamente”, acrescentou.
Para Miguel Guimarães, “é absolutamente crítico haver uma renovação do hospital”, para promover uma melhoria das estruturas físicas, a nível do serviço de urgência, do laboratório de microbiologia, da medicina física e reabilitação, entre outras, que precisam de uma intervenção urgente.
“Não é possível trabalhar com condições de segurança física e clínica neste serviço de urgência. E eu recordo que a primeira agressão mediática aconteceu exactamente neste hospital em Setúbal”, disse.
“É fundamental que o Ministério da Saúde olhe para o Hospital de Setúbal com outros olhos, que os nossos deputados tenham uma preocupação grande para com as condições de dignidade para o exercício da medicina no Hospital de Setúbal, e que o poder político, de uma forma geral, consiga dar uma resposta para que estes médicos, de hoje para amanhã, não abandonem também o hospital e o hospital tenha de fechar portas a várias níveis”, concluiu o bastonário da Ordem dos Médicos.