Maioria dos universitários portugueses que enviam nudes desconhecem riscos
Estudo da Universidade do Porto indica que mais de metade das pessoas que enviaram nudes não tiveram a “percepção do risco que estavam a correr”.
Um estudo sobre violência sexual online no ensino superior em Portugal concluiu que mais de metade dos estudantes que enviaram nude selfies não tinha percepção dos riscos incorridos e 5% tiveram as suas fotografias reencaminhadas para terceiros.
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Um estudo sobre violência sexual online no ensino superior em Portugal concluiu que mais de metade dos estudantes que enviaram nude selfies não tinha percepção dos riscos incorridos e 5% tiveram as suas fotografias reencaminhadas para terceiros.
Um estudo exploratório realizado a 525 estudantes de todo o país do ensino superior intitulado Abuso sexual baseado em imagens, e defendido recentemente na Universidade do Porto, revela que mais de metade das pessoas (52,22%) que enviaram nudes (imagens fotográficas e ou vídeos de cariz sexual) pela Internet ou telemóvel dizem que não tiveram a “percepção do risco que estavam a correr” e 8,78% das pessoas da amostra assumem que foi “alvo de ameaças”.
Dos entrevistados que enviaram nudes, 5% assumiram que sofreram vitimização de violência sexual online”, ou seja, foi vítima de partilha a terceiros não consentida, um dos dados que a psicóloga e autora do estudo, Patrícia Ribeiro, mais destacou na entrevista à Lusa. Os três maiores impactos do sexting (envio de textos e imagens sexualmente sugestivos com conteúdo sexual explícito) foi a humilhação (17,39%), vergonha (15,22%) e o desespero (13,04%).
Segundo o estudo, 70,32% dos casos em que são enviadas imagens de cariz sexual ou nude selfies (envio de fotografia e/ou vídeos de nus na Internet) a outra pessoa, o principal receptor(a) dessas imagens é o(a) namorado(a). A “principal razão” (79,91%) para realizar sexting é a existência de uma relação de namoro com a pessoa destinatária, sendo a relação caracterizada por “respeito (14,24%), estabilidade (15,81%) e confiança (21,78%)”.
Cerca de 60% dos estudantes universitários da amostra afirmaram ter recebido imagens de cariz sexual e 41,90% disseram ter enviado esse tipo de imagens. Há 4,5% a assumir que enviaram imagens de cariz sexual a “conhecidos apenas virtualmente” e 11,87% a “pessoas que gostavam ou tinham esperança que viesse a existir uma relação”. Outra das conclusões do estudo revela que a maioria das imagens de cariz sexual é enviada a pessoas do sexo masculino (85%).
A tese sobre o fenómeno da violência sexual online, também conhecido por pornografia de vingança, concluiu ainda que a maioria dos ameaçadores são do sexo masculino “versus” as ameaçadoras (1,14%). O estudo também concluiu que 63,74% dos participantes fariam queixa se fossem alvo de ameaças e que desses participantes a maioria faria a queixa na polícia (74,49%). Os que não fariam queixa das ameaças justificam-no com o “receio de maior exposição, culpabilização e revitimização institucional (27,8%), vergonha (19,4%) e descrença no sistema de ajuda (18,1%). Outros dos resultados é que 90,48% dos/as estudantes já tinham ouvido falar em Abuso Sexual Baseado em Imagens e este foi reconhecido enquanto crime em Portugal por 53,90% dos/as estudantes.
O estudo contou com uma amostra de 525 pessoas (86% do sexo feminino), maioritariamente heterossexuais (81%, de nacionalidade portuguesa (95%) e estudantes de licenciatura (48%), com uma média de idades a rondar os 25 anos de idade. A autora do estudo, nas conclusões, sugere que há necessidade que o crescimento da Internet seja “acompanhado de uma educação para o seu uso seguro”. “Educar para uma sexualidade baseada no respeito, diálogo e consentimento”, “tornar os jovens consumidores críticos da imagens/vídeos/mensagens” e “capacitar os jovens para o pedido de ajuda e para a denúncia e não julgamento da vítima/sobrevivente” são outras das conclusões elencadas na tese.