PSP procura responsáveis por insultos a Marega nas imagens de videovigilância
A PSP estava responsável pelo policiamento do jogo, mas não conseguiu identificar os suspeitos no local.
A Polícia de Segurança Pública (PSP) está a aceder às imagens das câmaras de videovigilância do Estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães para identificar os responsáveis das agressões verbais ao avançado do FC Porto, Moussa Marega. Os insultos de que foi alvo levaram o jogador a abandonar o campo antes do apito final do encontro entre o V Guimarães e o FC Porto (1-2), em protesto.
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A Polícia de Segurança Pública (PSP) está a aceder às imagens das câmaras de videovigilância do Estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães para identificar os responsáveis das agressões verbais ao avançado do FC Porto, Moussa Marega. Os insultos de que foi alvo levaram o jogador a abandonar o campo antes do apito final do encontro entre o V Guimarães e o FC Porto (1-2), em protesto.
O “comportamento dos adeptos que dirigiram palavras e gestos racistas e xenófobos ao jogador Marega, configura um crime previsto e punido no Código Penal” punido com prisão entre 6 meses e 5 anos, esclarece a PSP em comunicado. Constitui também uma contra-ordenação "a prática de actos ou o incitamento à violência, ao racismo, à xenofobia e à intolerância nos espectáculos desportivos, sem prejuízo de outras sanções aplicáveis”, com uma coima entre 1000 e 10.000 euros.
Na noite de domingo, pouco depois de o jogo ter terminado, a PSP — que estava responsável pelo policiamento da partida — tomou conta da ocorrência, mas não conseguiu identificar os suspeitos no local “em face da moldura humana e concentração de pessoas”.
Depois de identificados, a PSP irá levar os suspeitos "perante as entidades judiciais e administrativas competentes”. De acordo com a Renascença, será também elaborado um relatório de policiamento desportivo, que será enviado às autoridades competentes – como a Liga de Clubes ou o próprio V Guimarães.
“A PSP apela a todos os apoiantes dos diversos clubes que mantenham uma conduta de respeito para com os adversários e reafirma o compromisso em cumprir a sua missão nas diversas manifestações desportivas, procurando contribuir para a criação de um ambiente mais seguro e saudável, livre de qualquer forma de violência física ou verbal, racismo ou xenofobia”, completa o comunicado.
Também o Ministério Público anunciou a abertura de um inquérito ao episódio racista contra o avançado Moussa Marega, que está nas mãos do Departamento de Investigação e Acção Penal de Guimarães.
Gritos racistas e insultos levam a saída de Marega
Moussa Marega, avançado do FC Porto, abandonou o campo durante a partida contra o V. Guimarães no último domingo. Ouviu insultos desde o aquecimento e durante o decorrer do jogo vindos das bancadas do Estádio D. Afonso Henriques, mas a situação escalou quando marcou o 1-2 que daria a vitória aos “dragões". Depois de ter marcado o 100.º golo da sua carreira, os festejos levaram-no até próximo das bancadas, onde foi recebido com cadeiras.
Depois de ter colocado uma das cadeiras na cabeça, o árbitro Luís Godinho apresentou-lhe o cartão amarelo. O jogo prosseguiu. Mas Marega ouviu expressões como “macaco”, “chimpanzé” ou “preto” e sons que se assemelhavam aos de símios a ecoaram no estádio vimaranense.
Marega tomou então a decisão de abandonar o jogo. Saiu de campo mesmo depois de alguns jogadores de ambas as equipas e do treinador Sérgio Conceição o terem tentado demover.
O jogador tentou justificar-se numa publicação no Instagram: “Gostaria apenas de dizer a esses idiotas que vêm ao estádio fazer gritos racistas... Vá se foder”, escreveu. Marega criticou também o árbitro pela passividade, apesar de a FIFA punir claramente o racismo dentro de linhas e os árbitros poderem interromper jogos devido a incidentes racistas: “Agradeço aos árbitros por não me defenderem e por me terem dado um cartão amarelo porque defendo a minha cor da pele.”
A maioria dos partidos (e os seus líderes) já comentaram o racismo de que Marega foi vítima: Catarina Martins (BE) afirma que não segue futebol, mas “racismo não é opinião"; João Cotrim Figueiredo (IL) diz que Marega “fez bem em abandonar o campo"; Francisco Rodrigues dos Santos (CDS-PP) defende que “as manifestações de racismo não podem ter lugar na nossa sociedade"; Isabel Moreira (PS) afirma que Marega se recusou a ser “uma não-pessoa” e o Livre considera que “numa sociedade democrática, atitudes racistas são inaceitáveis”. Até agora, apenas André Ventura se posicionou contra a atitude do jogador. No mundo do futebol também vários clubes se posicionaram a favor de Marega, entre eles o Sporting e o Benfica.
O assunto chegou aos jornais internacionais: do Brasil, a Espanha e passando pelos Estados Unidos, os jornais e sites internacionais estão a escrever sobre a falta de apoio que o avançado do FC Porto teve da parte dos seus colegas de equipa.