O horror da guerra e um crime passional no Invicta.Música.Filmes
J’Accuse, de Abel Gance, e O Táxi n.º 9297, de Reinaldo Ferreira, marcam a oitava edição do ciclo da Casa da Música. Igor C. Silva compôs uma partitura original para o filme do Repórter X.
Há coincidências assim curiosas. Por estes dias, estão ainda em exibição nas salas de cinema dois filmes que têm marcado esta época pré e pós-Óscares: J’Accuse – O Oficial e o Espião, de Roman Polanski, e 1917, de Sam Mendes. E a Casa da Música abre este sábado a oitava edição do ciclo Invicta.Música.Filmes com um programa que inclui um clássico do cinema francês que de algum modo remete para aquelas duas obras: J’Accuse (1919), de Abel Gance.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Há coincidências assim curiosas. Por estes dias, estão ainda em exibição nas salas de cinema dois filmes que têm marcado esta época pré e pós-Óscares: J’Accuse – O Oficial e o Espião, de Roman Polanski, e 1917, de Sam Mendes. E a Casa da Música abre este sábado a oitava edição do ciclo Invicta.Música.Filmes com um programa que inclui um clássico do cinema francês que de algum modo remete para aquelas duas obras: J’Accuse (1919), de Abel Gance.
Não se trata aqui do “Affaire Dreyfus”, como no filme de Polanski, mas da Primeira Guerra Mundial, evocada no de Mendes. O J’Accuse de Gance é um poderoso libelo contra a guerra, filmado pelo cineasta francês quando este era ainda também um militar na frente da batalha, nos momentos finais do conflito de 1914-18. É simultaneamente uma obra de exaltação patriótica e um grito contra o horror e o absurdo da guerra, um apelo ao despertar de todos os mortos que tanto impressionou um Griffith como depois influenciou, pela sua montagem, um Eisenstein e um Pudovkin.
J’Accuse vai ser exibido no final desta tarde (Sala Suggia, 18h) com acompanhamento ao vivo pela Orquestra Sinfónica do Porto dirigida pelo maestro Christian Schumann, na execução de uma partitura composta para o efeito por Philippe Schoeller. “É uma partitura tão poderosa quanto o próprio filme, uma obra de grande fôlego e com quase três horas”, disse António Jorge Pacheco – que assistiu a este cine-concerto no Festival de Estrasburgo, em 2015 – na conferência de imprensa de apresentação do Invicta.Música.Filmes.
Neste segundo Ano França da Casa da Música, o cinema e a música deste país vão também marcar o espectáculo de abertura do ciclo com mais um regresso a um dos pioneiros do cinema, Georges Méliès, num programa intitulado Viagem à Lua e não só. Trata-se de uma produção do Serviço Educativo, pensada para públicos de todas as idades, em que os filmes de Méliès da viragem do século XIX para o século XX serão acompanhados por música dos nossos dias criada pelo estúdio Worten Digitópia e interpretada por Jorge Queijo, Óscar Rodrigues e Paulo Neto.
Também o habitual concerto do meio-dia de domingo (Sala Suggia) será dirigido a um auditório mais familiar, com a Banda Sinfónica Portuguesa, dirigida por Andrea Loss, a tocar excertos de bandas sonoras de filmes como A Estrada, Cinema Paraíso, Guerra das Estrelas e Parque Jurássico.
O regresso do Repórter X
Mas a aposta mais forte do Invicta.Música.Filmes deste ano será a estreia, na próxima terça-feira (Sala Suggia, 19h30), da partitura que a Casa da Música encomendou ao jovem compositor Igor C. Silva para a exibição de outro filme clássico que foi precisamente produzido nos estúdios portuenses da Invicta Film, em 1927: O Táxi n.º 9297, de Reinaldo Ferreira (1897-1935), cineasta, escritor e jornalista que ficou conhecido como Repórter X.
Lembrando que Igor C. Silva foi o jovem compositor em residência na Casa da Música em 2012, António Jorge Pacheco explica que lhe dançou este desafio por ver nele “um dos mais talentosos compositores da sua geração”. E também porque “quase todas as suas obras têm uma relação com a imagem, com o vídeo”.
Depois de ter já tido algumas experiências de composição de música para cinema, mas em produções de âmbito estudantil e com cineastas em início de carreira, Igor C. Silva tem com O Táxi n.º 9297 um desafio bem diferente. “Esta é a primeira banda sonora que faço para ser interpretada ao vivo”, disse o compositor aos jornalistas. E adiantou que uma das coisas que mais o entusiasmaram neste trabalho foi tentar reconstituir, na medida do possível, a prática dos tempos do cinema mudo, “quando a música era improvisada ao vivo, e o músico ia ornamentando e transcrevendo as sensações e os afectos” que ia experimentando com a evolução da história no ecrã.
“É evidente que não posso fazer isso agora com o Remix Ensemble: pôr 16 músicos a improvisar”, diz o compositor, explicando porém que a partitura permite “vários momentos em que os músicos vão poder fazê-lo”, mantendo assim essa componente “mais viva e performativa” que era própria do espectáculo cinematográfico da época do mudo.
O Táxi n.º 9297 (filme que a Cinemateca editou recentemente em DVD) encena o caso verídico do homicídio da actriz do Parque Mayer Maria Alves (1897-1926) pelo seu ex-amante e empresário Augusto Gomes, crime que foi desvendado com a ajuda da imprensa, Repórter X incluído. É uma das primeiras experiências de filme policial no cinema português, que, com a nova partitura, irá ser levada ao Luxemburgo no próximo mês de Novembro, após esta primeira apresentação no Porto.
“Um filme português, com música portuguesa, merecia passar fronteiras”, diz o director da Casa, justificando a parceria, para esta produção, com a Filarmonia daquele país.