Namoro: 60% dos jovens já sofreram pelo menos um acto de violência

Insultos durante discussões e proibição de estar ou falar com amigos estão entre os indicadores de vitimação mais frequentes, aponta o Estudo Nacional sobre Violência no Namoro.

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Melanie Wasser/Unsplash

De acordo com um inquérito nacional, 67% dos jovens legitimam pelo menos um tipo de comportamento de violência num relacionamento amoroso. A mesma percentagem que já se verificava em 2019, segundo o Estudo Nacional sobre Violência no Namoro, conduzido pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) e apresentado esta sexta-feira, 14 de Fevereiro, na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.

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De acordo com um inquérito nacional, 67% dos jovens legitimam pelo menos um tipo de comportamento de violência num relacionamento amoroso. A mesma percentagem que já se verificava em 2019, segundo o Estudo Nacional sobre Violência no Namoro, conduzido pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) e apresentado esta sexta-feira, 14 de Fevereiro, na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.

O estudo realizado pela organização não-governamental contou com uma amostra de cerca de 4600 jovens (56% raparigas, 43% rapazes e 1% não especificou o género). Dois terços dos inquiridos já estiveram em pelo menos uma relação de namoro e quase 60% destes reportaram terem sofrido pelo menos um comportamento de violência.

Insultos durante discussões (30%), proibir o companheiro de estar ou falar com amigos (23%) e incomodar ou procurar insistentemente o parceiro (17%) estão entre os indicadores de vitimação mais frequentes. No que diz respeito à violência física, empurrar ou bater sem deixar marcas também surge como um comportamento reportado.

8% dos jovens inquiridos que já tiveram uma relação amorosa foram vítimas de violência sexual e pressionar para beijar está entre as atitudes mais comuns. Esta é uma percentagem “preocupante, considerando a média de idades de 15 anos” da amostra, refere Cátia Pontedeira, da equipa de investigação da UMAR.

Jovens mulheres reportam diferentes situações de violência mais frequentemente do que os rapazes. 22% das inquiridas já referiram ter sofrido violência psicológica, menos 6% do que os rapazes na mesma posição. No controlo também se verifica esta tendência (15% de raparigas e 11% de rapazes).

“A violência mais prevalente é a que não deixa marcas”, assinala a UMAR, em relação aos números elevados no campo da violência psicológica, tanto em termos de legitimação como de indicadores de vitimação. "A elevada prevalência de algumas das formas de violência estudadas, bem como o não reconhecimento destas formas de violência na intimidade, revelam uma realidade preocupante em Portugal e mostram que ainda há um longo percurso a fazer ao nível da consciencialização desta problemática”, aponta a equipa responsável pelo inquérito nacional.

Participam do estudo anual alunos de turmas do 7.° ao 12.° anos de escolaridade. As escolas seleccionadas para participar do questionário são escolhidas aleatoriamente pela UMAR anualmente. Isto porque a organização pretende sempre ter “uma amostra representativa”.

Regra geral, os rapazes legitimam diferentes formas de violência no namoro mais frequentemente do que raparigas. O fosso em termos da violência sexual (29% de rapazes e 12% de raparigas) é dos mais acentuados. Neste campo, pressionar para ter relações sexuais é o comportamento que mais se destaca — e, aqui, a legitimação entre os rapazes (16%) é quatro vezes superior face às raparigas (4%).

Também na legitimação de violência através das redes sociais há uma diferença de percentagens significativa: 19% de rapazes e 11% de raparigas. Esta violência, observa Ana Margarida Teixeira, da equipa de investigação, pode manifestar-se na forma de insultos, mas passa também por “entrar nas redes sociais do parceiro sem autorização” ou por “insistentes ameaças e mensagens que indicam que um ou uma companheira está a seguir o outro”. 

Estudos como este, que a  UMAR realiza há quatro anos, são “importantes para delinearmos estratégias de combate e prevenção primária”, sublinha Rosa Monteiro. A secretária de Estado da Cidadania e Igualdade assinala também que é fundamental identificar “as raízes da legitimação” para “chegarmos à igualdade e à não-discriminação”.

“Às vezes, por medo de falta de compreensão, as vítimas não procuram apoio e sofrem em solidão”, sublinha a representante do Governo, “não basta dizer que há violência no namoro”. A partir do estudo, importa igualmente “perceber como podemos informar e sensibilizar melhor para eliminar estes comportamentos”. Porque “não é normal que se imponha uma forma de vestir”. “Gostar não é violência nem controlo.”

A ligeira descida nos casos reportados de violência face ao ano anterior permite antever “um avanço importante”, embora Maria José Magalhães, coordenadora do Estudo Nacional sobre Violência no Namoro, lembre que “os números continuam muito elevados”. “Os dados mostram que a prevenção está a resultar”, remata, “mas é preciso fazer mais.”