Tem, tem mesmo de ser Dia dos Namorados
Não celebrar o Dia dos Namorados, não celebrar o namoro, o carinho, os pequenos gestos, esta equipa a dois, as nossas origens, o cansaço, as derrotas, as conquistas, estarmos vivos e termos a sorte de nos ter, não é senão um contra-senso.
Não estava a pensar escrever sobre o Dia dos Namorados. É pessoal. É heterossexual. Não é uma novidade, não vou romper a tradição, não vou pôr em questão nem indagar.
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Não estava a pensar escrever sobre o Dia dos Namorados. É pessoal. É heterossexual. Não é uma novidade, não vou romper a tradição, não vou pôr em questão nem indagar.
Não. Vou celebrar. Apenas celebrar. Por amor. Já lá vão 18 anos, metade do mundo percorrido a dois, um casamento de 11 anos e uma casa. Uma vida. Partilhada.
Neste contexto, não celebrar o Dia dos Namorados, não celebrar o namoro, o carinho, os pequenos gestos, esta equipa a dois, as nossas origens, o cansaço, as derrotas, as conquistas, estarmos vivos e termos a sorte de nos ter não é senão um contra-senso.
Infelizmente, e de acordo com Manuel Clemente, aqui estamos nós outra vez, mais um Dia de São Valentim e mais uma obrigação, uma chatice, um enfado, uma tortura, um espinho atravessado na garganta a querer falar mas sem querer, duas pessoas presas à mesa de jantar apenas porque sim, porque é Dia dos Namorados.
Mas desde quando é o Dia dos Namorados uma obrigação? Desde quando amar e ser amado, todos os dias, num abraço, num beijo, num sorriso, é uma obrigação? E quem nunca ansiou por um Dia dos Namorados, uma rosa às escondidas, a surpresa do amor, o sim do outro lado, o sorriso embaraçado de quem não quer dizer sim, mas diz sim à mesma?
Eu sonhei e ansiei, sempre, ano após ano, até esgotar a adolescência toda. Nunca tive. Nunca tive uma namorada na escola. Por razões óbvias. Ninguém queria namorar com o “cientista”. E por ninguém querer namorar com o “cientista”, nunca vou saber o sabor de um beijo na adolescência, o coração a fugir da boca, a paixão mortal e imortal, o amor eterno e infantil. Nem nunca vou saber a sorte de um Dia dos Namorados a dois quando o amor ainda é jovem, as mãos dadas num pôr-do-sol, um “gosto de ti” quando a noite vem, os beijos às escondidas de todos e de nós, os risos de compromisso, as promessas e os para sempre de quem passou um dia ainda mais especial a dois: o Dia dos Namorados.
E, sim, o Dia dos Namorados é todos os dias. É todos os dias e também no Dia dos Namorados e principalmente no Dia dos Namorados. Por amor. E por amor celebramos o amor de São Valentim, o santo que continuou a casar jovens apesar da proibição do Imperador Cláudio II. Dizia o Imperador ser mais fácil alistar jovens no exército se os mesmos não tivessem família. Valentim, à data um bispo romano, não concordou, continuou a fazer casamentos em segredo, acabando condenado à morte por castigo.
E se São Valentim morreu por amor, também eu quero morrer por amor. Enquanto este dia chega e não chega, celebrar cada Dia dos Namorados como se fosse o último. Mesmo que seja um frete. Não é. Nunca será.