The Lady Vanishes

Quando Ana Teresa Pereira “foi” Agatha Christie. Esta é a encarnação de uma escritora em fuga, uma narrativa que se furta a ser a biografia que a ficção desconstrói e subverte.

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O Atelier de Noite aceita um poderoso mecanismo construtivo e de deslocação. Na novela que dá nome ao volume — onde se inclui ainda o mais breve Sete Rosas Vermelhas —, o percurso de uma escritora em fuga é traçado através do véu incerto de uma autobiografia em fragmentos. Ana Teresa Pereira (Agatha Christie, sob disfarce?) falará, mais de uma vez, de “um poema em pedaços”, ao tentar descrever este seu escrito. Chegará mesmo a defender uma espécie de poética do fragmentário que, sem grandes voos da imaginação, quase podíamos estender à demais ficção de ATP — “Não podemos pôr nada inteiro, mas no meio dos pedaços temos uma visão enevoada do que existia antes” (p.56). Esta reconstituição, pacientemente avara, na sua recusa de pormenores, funciona como um espelho — tão infiel quanto possível — da autora das duas novelas. Também Ana Teresa Pereira é, nos livros que escreveu, como em termos da sua presença no panorama literário, uma entidade mais ou menos furtiva. Mas falávamos de um curioso mecanismo. E não porque se lance mão de uma escritora, circunstância habitual na ficção de ATP, mas porque a escolha recaiu sobre uma autora real.

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O Atelier de Noite aceita um poderoso mecanismo construtivo e de deslocação. Na novela que dá nome ao volume — onde se inclui ainda o mais breve Sete Rosas Vermelhas —, o percurso de uma escritora em fuga é traçado através do véu incerto de uma autobiografia em fragmentos. Ana Teresa Pereira (Agatha Christie, sob disfarce?) falará, mais de uma vez, de “um poema em pedaços”, ao tentar descrever este seu escrito. Chegará mesmo a defender uma espécie de poética do fragmentário que, sem grandes voos da imaginação, quase podíamos estender à demais ficção de ATP — “Não podemos pôr nada inteiro, mas no meio dos pedaços temos uma visão enevoada do que existia antes” (p.56). Esta reconstituição, pacientemente avara, na sua recusa de pormenores, funciona como um espelho — tão infiel quanto possível — da autora das duas novelas. Também Ana Teresa Pereira é, nos livros que escreveu, como em termos da sua presença no panorama literário, uma entidade mais ou menos furtiva. Mas falávamos de um curioso mecanismo. E não porque se lance mão de uma escritora, circunstância habitual na ficção de ATP, mas porque a escolha recaiu sobre uma autora real.