Xi faz “purga” de líderes locais de Hubei por má gestão do combate ao coronavírus

Partido Comunista chinês substitui cargos de topo na província no epicentro da epidemia por homens de confiança do Presidente, horas depois de revelada subida vertiginosa do número de infectados.

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Presidente Xi Jinping tem procurado passar uma mensagem de confiança à população Reuters/Aly Song

A actuação pouco célere e ineficaz das autoridades locais da província chinesa de Hubei para conter a propagação do coronavírus levou Pequim a lançar uma autêntica “purga” entre os detentores dos cargos de topo do Partido Comunista chinês na região, substituindo-os por homens de confiança do Presidente, Xi Jinping.

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A actuação pouco célere e ineficaz das autoridades locais da província chinesa de Hubei para conter a propagação do coronavírus levou Pequim a lançar uma autêntica “purga” entre os detentores dos cargos de topo do Partido Comunista chinês na região, substituindo-os por homens de confiança do Presidente, Xi Jinping.

As mudanças foram anunciadas pouco depois de o número de infectados pelo vírus ter subido vertiginosamente em apenas 24 horas, com a revelação de cerca de 15 mil novos casos de infecção e de mais 242 mortes.

Este aumento do número de casos na China – que já atingiu os 60 mil infectados e 1350 mortos – está relacionado com disparidades na forma de diagnosticar os pacientes por parte dos profissionais de saúdes locais, cenário que evidencia ainda mais a estratégia pouco concertada das autoridades provinciais na batalha contra o vírus.

Segundo a Xinhua, a agência noticiosa estatal, o secretário-geral do Partido Comunista de Hubei, Jiang Chaoliang, foi substituído no cargo pelo ex-presidente da câmara de Xangai e grande aliado de Xi Jinping, Ying Yong. 

Trata-se de uma mudança muito significativa, não só pela proximidade do novo responsável provincial do Presidente, mas por se tratar de uma demissão que envolve um dos cargos de topo na hierarquia territorial do partido. 

É um sinal claro de que Pequim não está satisfeita com a gestão do surto a nível local, quando se continuam a adensar as suspeitas de encobrimento da real situação no terreno e do verdadeiro número de vítimas, denunciadas por quem se encontra dentro do perímetro das cidades em quarentena, através das redes sociais chinesas.

Para além do afastamento de Jiang Chaoliang, Xi ordenou ainda a demissão de Ma Guoqiang, o líder do Partido Comunista de Wuhan, capital de Hubei e cidade onde surgiu o novo tipo de vírus, oficialmente designado “Covid-19”. Guoqiang foi substituído por Wang Zhonglin, secretário do partido em Jinan, capital da província de Shandong.

“Ao enviar Ying Tong e Wang Zhonglin para Hubei, o Governo central mostra que está determinado em solucionar o problema em Hubei e dar respostas às pessoas. A acção dos quadros do partido na província foram uma decepção”, disse ao South China Morning Post uma fonte familiarizada com o processo de mudança nos cargos.

“Este surto está a custar muito caro ao partido. E os culpados por isso estão a ser responsabilizados”, acrescentou a mesma fonte. 

As “purgas” desta quinta-feira surgem dois dias depois do afastamento de dois altos responsáveis pelas autoridades de Saúde na província de Hubei. Zhang Jin, secretário do partido no Comité de Saúde de Hubei, e Liu Yingzi, director desse mesmo comité, foram demitidos na terça-feira.

De acordo com o China Daily, as funções dos dois funcionários foram assumidas por Wang Hesheng, vice-director do Comité de Saúde a nível nacional, que irá supervisionar o combate ao vírus mortal.

Hesheng, escreveu o jornal estatal, repreendeu as autoridades locais por não terem coordenado mais rapidamente o método de tratamento dos infectados com os hospitais da região.

“Esta é claramente uma decisão de Xi”, considera Dali Yang, professor de Ciência Política chinesa da Universidade de Chicago, citado pelo Guardian. “Os riscos são elevados e Xi precisou de tempo para encontrar as pessoas certas para os cargos certos, de forma a salvar a situação de Hubei e de Wuhan.”