Abbas diz que o plano de Trump transforma o Estado palestiniano “num queijo suíço”

O presidente da Autoridade Palestiniana disse no Conselho de Segurança que volta a rejeitar “acordo do século” norte-americano. Josep Borrell, chefe da diplomacia europeia, diz que plano viola os “parâmetros internacionais” e que a UE está pronta para desbloquear o processo de paz.

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Mahmoud Abbas pediu que os Estados Unidos não sejam o único mediador nas negociações de paz SHANNON STAPLETON/Reuters

O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, afirmou na reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas desta terça-feira que o chamado “acordo do século” apresentado pelos Estados Unidos, que previa um Estado palestiniano e encerraria o conflito israelo-árabe, é um presente para Israel, ao transformar o território palestiniano num “queijo suíço” fragmentado. A União Europeia também recusou partes do plano e diz querer “abrir as negociações”. 

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O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, afirmou na reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas desta terça-feira que o chamado “acordo do século” apresentado pelos Estados Unidos, que previa um Estado palestiniano e encerraria o conflito israelo-árabe, é um presente para Israel, ao transformar o território palestiniano num “queijo suíço” fragmentado. A União Europeia também recusou partes do plano e diz querer “abrir as negociações”. 

“É este o Estado que nos vão dar”, disse Abbas, com um mapa da proposta nas mãos. “É realmente como um queijo suíço. Quem entre vós aceitaria um Estado semelhante, em condições semelhantes?”

O plano apresentado permite a Israel anexar largas partes da Cisjordânia, incluindo todo o vale do Jordão, e ter soberania sobre os colonatos aí construídos, mesmo os ilegais à luz da resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU, que exige a Israel a retirada dos territórios ocupados após 1967 e o regresso dos refugiados.

Em troca, os palestinianos teriam um Estado próprio disperso entre a Faixa de Gaza, partes da Cisjordânia e alguns bairros na periferia de Jerusalém Oriental, onde estará a sua capital. Os territórios estariam ligados por estradas, pontes e túneis, com Israel a controlar as fronteiras e espaço aéreo do novo Estado. E o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, teria de se desarmar e os palestinianos que fugiram ou foram expulsos das suas casas quando foi criado o Estado judaico, em 1948, teriam de ser alojados dentro do fracturado Estado.

Estados Unidos e Israel negociaram o plano à revelia dos palestinianos e o chefe da Autoridade Palestiniana voltou a frisar mais uma vez a parcialidade americana na mediação das negociações sobre o futuro da Palestina. "Os Estados Unidos não podem ser o único mediador”, sublinhou Abbas.

Quase que em resposta, o chefe da diplomacia europeia, Joseph Borrell, disse esta terça-feira no Parlamento Europeu que a União Europeia está disposta a estender a mão para “abrir as negociações”, porque o plano americano põe em causa os “parâmetros internacionais” e faz com que seja difícil “juntar à mesma mesa as duas partes”.

“Estamos prontos a trabalhar com a comunidade internacional para revitalizar o processo político, garantindo os direitos e um campo de igualdade às duas partes”, disse Borrell aos eurodeputados, sem no entanto descartar o plano americano por poder ser “útil, tanto como catalisador para um reflexão mais profunda, como uma oportunidade potencial para se iniciar um processo político que está parado há demasiado tempo”. “Temos de nos perguntar se este plano é uma base para futuros progressos ou não”, acrescentou.

A Liga Árabe, apesar de alguns dos seus Estados-membros o terem apoiado, também já recusou o plano de Washington e garantiu que não vai cooperar nem com os EUA nem com Israel na sua aplicação, avisando ainda este último para não o tentar levar avante pela força.

A jornalista viajou a convite do Parlamento Europeu