Câmara de Castro Verde destruiu presépio por este ter ferrugem, algo que estava previsto ter

Uma dezena de peças construídas em aço com 2,70 metros foram enviadas para a sucata. Umas já foram derretidas e outra parte foi transformada em chapa. A oxidação das peças fazia parte do projecto artístico.

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A controvérsia entre o actual executivo socialista e a oposição comunista está instalada em Castro Verde depois de a autarquia local ter ordenado a destruição de dez peças do presépio de Natal que entre 2002 e 2016 foi exposto durante a quadra natalícia, tal como acontece em muitas localidades alentejanas. E os vereadores da CDU já remeteram para o procurador da República da comarca de Beja uma participação sobre a “destruição deliberada e intencional do presépio de Castro Verde”.

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A controvérsia entre o actual executivo socialista e a oposição comunista está instalada em Castro Verde depois de a autarquia local ter ordenado a destruição de dez peças do presépio de Natal que entre 2002 e 2016 foi exposto durante a quadra natalícia, tal como acontece em muitas localidades alentejanas. E os vereadores da CDU já remeteram para o procurador da República da comarca de Beja uma participação sobre a “destruição deliberada e intencional do presépio de Castro Verde”.

Com a tomada de posse dos órgãos autárquicos, em 2017, o presépio constituído por figuras estilizadas em aço, com altura de 2,70 metros, ficou retido no estaleiro de obras do município. Num esclarecimento público que prestou à população em meados de Dezembro, na sequência de informações que garantiam a destruição das peças, o executivo socialista, liderado por António José Brito, explicou que optou por não apresentar o presépio, “dado o seu estado avançado de degradação e os graves riscos que representava a exibição pública” para a “segurança das pessoas”.

O executivo da Câmara de Castro Verde garante que “em nenhum momento ordenou o desmantelamento propositado do presépio”. No entanto, diz ter “apurado” no decurso do levantamento da situação, no estaleiro municipal, que “algumas peças sofreram danos irreparáveis”, facto que o executivo “lamenta com toda a clareza, transparência e frontalidade”, assumindo ser “o único responsável pelo sucedido”.

Na sequência deste esclarecimento, os vereadores da oposição Francisco Duarte e António João Colaço, através de ofício enviado no dia 19 de Dezembro a António José Brito, criticaram a argumentação apresentada pela maioria socialista por não ser “minimamente credível”, garantindo que o presépio “não estava em avançado estado de degradação”. Uma das justificações apresentadas realçava o risco que podia representar para a segurança das pessoas o facto de as peças se apresentarem com ferrugem. Os vereadores comunistas explicam que “a oxidação das peças fazia parte do próprio projecto artístico”. Mesmo assim solicitaram ao presidente da câmara que lhe fosse fornecida cópia do(s) relatório(s) “atestando os riscos” que o presépio apresentava para a segurança do público, mas o executivo diz que “não há relatório algum dos riscos”, nem “há processo escrito nem qualquer despacho associado”.

João Nuno Sequeira, morador em Castro Verde e que se tem insurgido publicamente contra a destruição do Presépio de Natal, nas explicações que prestou ao PÚBLICO, contraria os argumentos apresentados pela câmara, quando alega que as peças do presépio “sofreram um acidente no estaleiro municipal”. Se tal aconteceu, refere João Sequeira “é de admitir que não foram equacionadas” as condições de salvaguarda das peças, ou então os “danos irreparáveis foram causados deliberadamente”, sublinhando ser “muito difícil” que um qualquer acidente afectasse “todo” o presépio.

A explicação apresentada pela autarquia é contrariada pelo testemunho de João Sequeira: “Ainda se tentou a recuperação das peças no sucateiro, mas parte delas já tinha sido derretida e outra parte foi transformada em chapa.”

Os vereadores comunistas recordam que o executivo municipal em funções no início do novo século encomendou um presépio, “executado por gente da terra”, ao qual, anualmente, seriam acrescentadas novas peças que ocupassem “algumas das principais vias do centro da vila” de Castro Verde. Assim aconteceu entre 2002 e 2016. Com a tomada de posse do actual executivo, este “optou por não o colocar no espaço público, deixando as peças de autor num abandono visível aos olhos de muita gente” no estaleiro municipal.

Numa moção de protesto apresentada pela CDU na reunião da Assembleia Municipal de Castro Verde no passado dia 10 de Dezembro, é admitido que a não utilização e exposição pública das peças durante as quadras natalícias do actual mandato seja uma “opção política”, conforme justificação apresentada pelo executivo maioritário do Partido Socialista. Apesar de esta opção ser “legítima”, salienta a moção da CDU, esta força política considera-a uma tentativa de “apagar” da memória da comunidade de Castro Verde “toda a obra realizada anteriormente”.

O PÚBLICO pediu esclarecimentos ao presidente da Câmara de Castro Verde, mas o autarca disse que nada mais tinha a acrescentar ao que já fora dito no esclarecimento público apresentado no dia 12 de Dezembro.