Rui Moreira mantém confiança no director do Teatro Municipal do Porto

Presidente da Câmara diz que a programação do TMP ultrapassa por vezes “o limite da tolerância” e defende que este não pode ser “um albergue para tudo aquilo que as pessoas querem”.

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Rui Moreira Nelson Garrido

Apesar de considerar que algumas escolhas da programação vão para lá dos “limites da tolerância” ou, segundo alguns deputados municipais, do “limite da decência”, Rui Moreira reitera a confiança no director do Teatro Municipal do Porto (TMP), Tiago Guedes. Antes do período da ordem do dia da reunião de câmara desta segunda-feira, e depois de reunir à porta fechada com o responsável pelo TMP e com os vereadores da oposição, o presidente da autarquia justificou este voto de confiança como forma de reafirmar o sentido de um teatro municipal “plural”.

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Apesar de considerar que algumas escolhas da programação vão para lá dos “limites da tolerância” ou, segundo alguns deputados municipais, do “limite da decência”, Rui Moreira reitera a confiança no director do Teatro Municipal do Porto (TMP), Tiago Guedes. Antes do período da ordem do dia da reunião de câmara desta segunda-feira, e depois de reunir à porta fechada com o responsável pelo TMP e com os vereadores da oposição, o presidente da autarquia justificou este voto de confiança como forma de reafirmar o sentido de um teatro municipal “plural”.

Ao contrário do que tinha sido anunciado na sexta-feira, a reunião com o director do TMP, acusado de censurar um texto de Regina Guimarães e de outros casos de alegada censura, não foi aberta ao público.

Esta segunda-feira, Rui Moreira reduziu a polémica apenas ao caso que Regina Guimarães tornou público há pouco mais de uma semana, ignorando outras situações que entretanto vieram a lume. O presidente da Câmara afirmou que antes da estreia da peça em causa –​ Turismo, com encenação de Tiago Correia –​, estando Tiago Guedes fora do país, foi contactado pelo TMP para uma apreciação relativamente à tomada de posição a ser seguida. Diz ter comunicado que a folha de sala deveria sair. Se não saiu, foi porque o encenador terá decidido nesse sentido, adiantou Rui Moreira. Já Tiago Correia, na semana passada, acusou a direcção do TMP de “censura, chantagem emocional, coacção, ameaça e abuso de poder”.

O presidente da câmara, que acumula o pelouro da Cultura desde que Paulo Cunha e Silva morreu em 2015, considera que a cidade tem vivido numa “situação idílica”, no que toca à função do teatro municipal, e diz que quer que assim continue. “Julgo que temos o teatro mais plural que podemos ter. Muitas vezes, vai mesmo aos limites da nossa tolerância, para alguns de nós. Algumas vezes tenho lido críticas, até por parte de alguns deputados municipais, que acham que esta peça ou aquela aflora quase os limites da ‘decência’, por causa do título de uma peça. A verdade é que temos dado essa liberdade, e devemos continuar”, disse Rui Moreira, concordando que se deve aprender e reflectir sobre o que se passou.

Quanto à decisão de o TMP não publicar a folha de sala que tinha uma nota de rodapé que criticava o modo como Paulo Cunha e Silva usou o conceito de “cidade líquida” do sociólogo Zygmunt Bauman, o presidente da Câmara disse que foi uma escolha que deve servir de aprendizagem. E relativamente à pluralidade que entende dever continuar a ser a imagem de marca do TMP, explica-o desta forma: “Não devemos deixar que alguém possa agora pensar que pode apropriar-se do teatro, ou que este possa ser um albergue para tudo aquilo que as pessoas querem”.

Oposição pacífica

Durante a reunião de câmara, com Tiago Guedes  que se escusou de falar aos jornalistas  a assistir na bancada, a oposição foi pacífica. Manuel Pizarro, do PS, apesar de afirmar não se “rever em nada” na nota de rodapé escrita por Regina Guimarães, entende que por “mais fundamentada” que esteja a decisão, e “por melhores que sejam as razões”, a decisão de não publicar a folha de sala é de “natureza censória”. O deputado municipal rematou dizendo até achar que as razões “são boas”.

Ilda Figueiredo disse que a CDU não apoia “qualquer atitude que ponha em causa o direito de expressar uma opinião”. E adiantou que este é um erro que não se deve repetir. À direita, Álvaro Almeida (PSD) seguiu no mesmo tom, demarcando-se da opinião de Regina Guimarães, mas salvaguardando o seu direito a expressá-la.

Sem assento no grupo de vereadores da oposição, o Bloco de Esquerda (BE) assinou um comunicado em que lança algumas questões a Rui Moreira relativamente a esta polémica. Nalguns dos dez pontos do documento, o BE questiona se é “prática habitual” o presidente ter conhecimento prévio do conteúdo de uma folha de sala de um espectáculo, ou ter elementos do executivo presentes em ensaios de imprensa, como terá acontecido com a peça Turismo. Questiona ainda se Rui Moreira teve conhecimento dos factos relatados pela actriz Sara Barros Leitão ao PÚBLICO sobre a intervenção no projecto Salão dos Recusados, que não chegou a acontecer por alegada ingerência do TMP.

Notícia corrigida: Rui Moreira, ao comentar a programação do TMP, considerou que algumas escolhas vão para lá “dos limites da nossa tolerância"; já a referência à ultrapassagem dos “limites da decência”, citou-a como tendo-a ouvido de deputados municipais.