Será este o fim da política bipartidária na Irlanda?
Mary Lou Mcdonald conseguiu transformar o Sinn Féin numa força capaz de disputar o poder e até sonha com uma coligação de esquerda. Varadkar sublinha que não quer nada com os nacionalistas.
Há quase 100 anos que a Irlanda não tem um Governo do Sinn Féin, no entanto, as eleições deste sábado tornaram plausível a possibilidade de que o próximo inclua a formação de centro-esquerda. Daí que Mary Lou McDonald, a líder do partido que foi durante anos o braço político do Exército Republicano Irlandês (IRA), afirmasse este domingo que se tratou de “uma eleição sobre a mudança”.
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Há quase 100 anos que a Irlanda não tem um Governo do Sinn Féin, no entanto, as eleições deste sábado tornaram plausível a possibilidade de que o próximo inclua a formação de centro-esquerda. Daí que Mary Lou McDonald, a líder do partido que foi durante anos o braço político do Exército Republicano Irlandês (IRA), afirmasse este domingo que se tratou de “uma eleição sobre a mudança”.
“Quero que tenhamos um Governo para o povo. Idealmente, quero que tenhamos um Governo sem o Fianna Fáil e o Fine Gael. Já iniciei contactos com outros partidos para nos próximos dias perceber se há essa possibilidade”, afirmou Mary Lou McDonald, a primeira a ser eleita deputada na sua circunscrição de Dublin Central. O Sinn Féin preferia uma coligação de centro-esquerda com o Partido Verde, os sociais-democratas e o Solidariedade-Pessoas antes do Lucro, porém, pragmática, a sua líder admite que “falarão e ouvirão toda a gente”.
O Fine Gael (democrata-cristão) está no Governo desde 2011 e desde 1932 que não há um Executivo na Irlanda que não inclua um dos dois grandes partidos que dominam a política do país. Simbólico foi o facto de nem o líder do conservador Fine Gael, o taoiseach (primeiro-ministro) Leo Varadkar, nem o líder do Fianna Fáil (centro-direita), Michéal Martin, terem conseguido ser os candidatos mais votados nos seus respectivos círculos eleitorais, batidos por candidados do Sinn Féin.
Varadkar afirmou este domingo que não irá conversar com Mary Lou McDonald sobre a possibilidade de uma coligação de Governo, “pelo menos para já”. Martin, que durante anos afirmou que nunca se juntaria ao Sinn Féin, não fechou a porta a essa possibilidade: “Sublinho que há uma grande incompatibilidade entre nós e o Sinn Féin, mas o mais importante é que o país está em primeiro lugar e há uma grande responsabilidade a pesar sobre todos nós para que se forme um Governo.”
Num partido habituado ao poder como o Fianna Fáil (desde 1932 esteve no Governo 71 anos), a margem de manobra para o seu líder é diminuta e esta era a última oportunidade para chegar a primeiro-ministro. Idealmente, Martin preferia ter deputados para acertar uma coligação com o Partido Verde (PV) e os Trabalhistas, mas estas duas formações não tiveram o resultado esperado nas urnas. Os ecologistas subiram, embora não tanto como esperavam, e o Labour teve um “mau dia”, como afirmou o seu líder, Brendan Howlin.
O PV não conseguiu mobilizar o eleitorado com o discurso das alterações climáticas, porque nesta eleição esse foi um assunto secundário, dominada que foi a campanha pelo problema da habitação (que mobilizou o eleitorado jovem) e a deterioração do serviço nacional de saúde (que cativou os votantes mais idosos).
Mary Lou McDonald assentou a sua campanha nesses dois grandes temas, conseguindo dessa forma superar o preconceito do eleitorado em relação a um partido que surgiu como arma política de um grupo armado e intrometer-se na luta das duas grandes forças da política irlandesa.
“Já não é um sistema bipartidário. As pessoas querem um tipo de governo diferente”, disse a líder política. “O Sinn Féin foi ter com as pessoas e convenceu muitas delas de que somos a alternativa, somos o veículo da mudança”, disse, antes de acrescentar que não pode haver “mais cinco anos de crise da habitação”.