Guiné-Bissau representada por um Presidente que ainda não é e uma ministra que já foi
José Mário Vaz deu “plenos poderes” a Suzi Barbosa, que não tem qualquer cargo político, para representar o país na cimeira de chefes de Estado e de Governo da União Africana. ONU não reconhece vitória de Embaló que também está em Adis Abeba.
Umaro Sissoco Embaló está em Adis Abeba para a cimeira dos chefes de Estado e de Governo da União Africana (UA), que se realiza domingo e segunda-feira na capital etíope, e com ele Suzi Barbosa, a ex-ministra dos Negócios Estrangeiros guineense, que saiu do Executivo em Janeiro, mas a quem o Presidente cessante, José Mário Vaz, deu “plenos poderes” para o representar e ao executivo da Guiné-Bissau no encontro de alto nível.
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Umaro Sissoco Embaló está em Adis Abeba para a cimeira dos chefes de Estado e de Governo da União Africana (UA), que se realiza domingo e segunda-feira na capital etíope, e com ele Suzi Barbosa, a ex-ministra dos Negócios Estrangeiros guineense, que saiu do Executivo em Janeiro, mas a quem o Presidente cessante, José Mário Vaz, deu “plenos poderes” para o representar e ao executivo da Guiné-Bissau no encontro de alto nível.
Confirmado pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) como vencedor da segunda volta das eleições presidenciais, realizadas a 29 de Dezembro, mas não confirmado pelo Supremo Tribunal, que tem ainda de decidir sobre o recurso do PAIGC e sobre se a CNE cumpriu aquilo que os juízes lhe exigiram, Sissoco Embaló foi, mesmo assim, convidado para assistir à cimeira que tem por lema “Silenciar as armas: criar condições favoráveis ao desenvolvimento em África”. Também José Mário Vaz foi convidado, mas declinou, enviando Suzi Barbosa em seu lugar.
UA e Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) reconhecem Embaló como chefe de Estado eleito, depois de confirmada a sua vitória pela CNE esta semana, apesar dos protestos do PAIGC, que enviou a informação às duas instituições a demonstrar que o Presidente eleito ainda não foi realmente eleito. Mas as duas organizações mantiveram a sua posição.
Domingos Simões Pereira, o líder do PAIGC que, pelas contas da CNE, perdeu as eleições, ganhou na sexta-feira um aliado de peso para a sua causa pela voz do secretário-geral das Nações Unidas. Durante uma conferência de imprensa em Adis Abeba, onde foi participar na cimeira da UA, António Guterres salientou que nada ainda está definido quanto ao desfecho das eleições.
“Neste momento, há um processo pendente e aguardamos serenamente os resultados para que o processo eleitoral possa ser concluído. Por isso, as Nações Unidas não tomarão, para já, qualquer iniciativa, esperando a decisão final”, afirmou o secretário-geral da ONU, não reconhecendo ainda Embaló como Presidente eleito.
Na sexta-feira, Domingos Simões Pereira, numa conferência de imprensa em Bissau, lembrava à CEDEAO e à UA: “Somos partes de pleno direito destas duas organizações, mas queremos lhes lembrar que também somos parte de outras organizações, nomeadamente das Nações Unidas”, a quem “poderemos recorrer para que a nossa voz seja ouvida”.
Guterres aproveitou para saudar o povo guineense por aguentar com calma a crise política guineense: “Quero prestar homenagem ao povo guineense que tem revelado, com todas estas complicações políticas, um grande bom senso.”
Em relação a Suzi Barbosa, demitida pelo primeiro-ministro Aristides Gomes, depois da sua participação no périplo político-diplomático de Sissoco Embaló não ter agradado ao seu partido e ao Governo, e a sua pasta entregue à ministra da Justiça, Ruth Monteiro, os apoiantes de José Mário Vaz e do declarado vencedor das eleições vieram a terreiro defender a sua presença em Adis Abeba porque continua a ser ministra, demissionária, mas ministra. Porque é preciso um decreto presidencial para a afastar.
No entanto, o Executivo de Aristides Gomes já afirmou que “em consequência” da sua demissão, “fica a anterior ministra dos Negócios Estrangeiros, Suzi Carla Barbosa, impedida de falar ou agir em nome do Governo da Guiné-Bissau”.