“Hoje somos todos Spartacus”: Hollywood reage à morte do ícone Kirk Douglas
Do seu papel na defesa da liberdade de expressão, que lhe deu a Medalha Presidencial da Liberdade, ao “primeiro Óscar” — uma prenda do pai após a sua primeira peça de teatro —, Spielberg, Tony Bennett e os estúdios despedem-se de Kirk Douglas.
Último dos grandes nomes da era dourada de Hollywood, o actor Kirk Douglas morreu quarta-feira aos 103 anos e o seu legado está a ser recordado um pouco por todo o mundo, e em particular pela indústria cinematográfica. “Um dos mais icónicos actores do seu tempo”, postula Steven Spielberg; “um ícone no panteão de Hollywood”, acrescenta o actor e realizador Rob Reiner, que recorda um dos feitos historicamente mais relevantes de Douglas: “Chegou-se à frente para acabar com a ‘lista negra’”, veio sublinhar, aludindo à interdição a que vários profissionais do cinema estiveram sujeitos, por motivos políticos, nos Estados Unidos das décadas de 1940 e 50.
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Último dos grandes nomes da era dourada de Hollywood, o actor Kirk Douglas morreu quarta-feira aos 103 anos e o seu legado está a ser recordado um pouco por todo o mundo, e em particular pela indústria cinematográfica. “Um dos mais icónicos actores do seu tempo”, postula Steven Spielberg; “um ícone no panteão de Hollywood”, acrescenta o actor e realizador Rob Reiner, que recorda um dos feitos historicamente mais relevantes de Douglas: “Chegou-se à frente para acabar com a ‘lista negra’”, veio sublinhar, aludindo à interdição a que vários profissionais do cinema estiveram sujeitos, por motivos políticos, nos Estados Unidos das décadas de 1940 e 50.
Nas redes sociais ou em comunicados enviados às redacções, sucedem-se os nomes da música, do cinema e até da Marinha norte-americana que esta quinta-feira recordam Kirk Douglas, evocando a sua longa carreira como actor e produtor, mas também a história de activismo e filantropia que protagonizou. “Kirk manteve o seu carisma de estrela de cinema até ao fim da sua maravilhosa vida e tenho a honra de ter tido um pequeno papel na sua vida nos últimos 45 anos”, disse Steven Spielberg à revista Hollywood Reporter. “Vou ter saudades dos seus bilhetes manuscritos, das suas cartas e dos seus conselhos paternais; a sua sabedoria e a sua coragem – mesmo para além do conjunto da sua obra, de tirar o fôlego – são tão abundantes que me inspirarão para o resto da minha carreira.”
Também nomes mais alternativos, como o actor Bruce Campbell, conhecido pelos filmes Evil Dead, de Sam Raimi, vieram já homenagear Kirk Douglas. “Caiu um pilar de Hollywood”, escreveu no Twitter. Na mesma rede social, a actriz Mitzi Gaynor, que em 1963 trabalhou com Douglas no filme Por Amor ou Por Dinheiro, sugeriu uma ovação: “Bravo, Kirk Douglas, por uma vida incrível. Obrigada por teres partilhado tão generosamente o teu talento espantoso connosco. O filme que fizemos juntos terá sempre um lugar especial no meu coração.” Danny DeVito assumiu o mesmo tom celebratório sobre um homem que descreveu como uma inspiração, comentando: “103 anos na Terra. Soa muito bem!”
Outra sua colega, Lee Grant (contracenaram no filme noir História de um Detective, de 1951), usou o Facebook para recordar “uma das mais raras criaturas”, “uma estrela de cinema além de um grande actor”. “Um homem que forjou o seu destino e usou a sua notoriedade para tentar fazer a diferença no mundo. Ele era uma dádiva, tivemos a sorte de o ter e, de certa forma, tê-lo-emos sempre”, despediu-se a actriz de No Calor da Noite (1967).
Já Mark Hamill voltou a focar o papel decisivo de Douglas ao dar a cara pela liberdade de expressão numa América censória, apoiando argumentistas e outros profissionais banidos de Hollywood durante a Guerra Fria. A célebre “lista negra”, símbolo da paranóia dessa era, interditou durante anos, vedando-lhes quaisquer empregos na indústria cinematográfica, aqueles que, por suspeitas de filiação no Partido Comunista ou associação a ideias socialistas ou comunistas, eram considerados “antiamericanos”. “Será lembrado por ter arriscado a sua carreira ao desafiar a lista negra de Hollywood, contratando o guionista Dalton Trumbo para o clássico Spartacus”, escreveu o actor de Star Wars no Twitter.
Muitos outros estão a assinalar o desaparecimento do actor, de William Shatner (Star Trek) a Jason Alexander (Seinfeld), do Instituto Naval dos EUA, que recordou como Douglas integrou as fileiras da Marinha durante a Segunda Guerra Mundial, entre 1941 e 1944, à histórica tenista Billie Jean King. Também os estúdios Universal, Paramount e Disney prestaram homenagem a Douglas; os actores Frances Fisher e George Takei lembram que Douglas foi condecorado com a Medalha Presidencial da Liberdade (entregue pelo Presidente Jimmy Carter em 1981).
O veterano cantor Tony Bennett despediu-se, por sua vez, do “querido amigo, talentoso actor e humanista dedicado” e a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que em 1996 lhe entregou um Óscar honorário pelos seus então 50 anos de carreira (foi Steven Spielberg que o apresentou e homenageou na cerimónia), juntou a sua voz às muitas que o classificam como “uma lenda de Hollywood”.
A Academia, que nunca reconheceu o seu talento com um prémio competitivo, apesar das suas três nomeações para Óscares na década de 50, aproveitou para recuperar uma frase de Kirk Douglas sobre a sua profissão: “Desde a segunda classe que quis ser actor. Entrei numa peça e a minha mãe fez-me um avental preto; interpretei um sapateiro. Depois da actuação, [o meu pai] deu-me o meu primeiro Óscar: um gelado.” O actor David Harewood decretou: “Hoje somos todos Spartacus”.