Trump prometeu o “grande regresso americano”, Pelosi rasgou-lhe o discurso
“Em três anos, destruímos a mentalidade de declínio dos EUA”, gabou-se o Presidente dos EUA no discurso do Estado da Nação, que transformou num comício. Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes, rasgou o discurso de Trump em directo na televisão.
Sem uma palavra sobre o processo de impeachment, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, utilizou, num estilo de comício, o seu terceiro discurso do Estado da Nação no Congresso para defender a sua governação e declarar o “grande regresso americano”. A presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, respondeu rasgando o discurso de Trump na televisão por não ter encontrado uma “página com verdade”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Sem uma palavra sobre o processo de impeachment, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, utilizou, num estilo de comício, o seu terceiro discurso do Estado da Nação no Congresso para defender a sua governação e declarar o “grande regresso americano”. A presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, respondeu rasgando o discurso de Trump na televisão por não ter encontrado uma “página com verdade”.
“Em apenas três curtos anos, destruímos a mentalidade de declínio dos Estados Unidos e rejeitámos a desvalorização do seu destino”, disse Trump, com eleitos republicanos a gritarem das bancadas: “Mais quatro anos!” “Estamos a avançar a um ritmo inimaginável há pouco tempo e nunca voltaremos atrás”, declarou.
O discurso do Estado da Nação é um dos momentos mais importantes do ano político americano e Trump fez o seu terceiro um dia antes da sua quase certa absolvição no julgamento no Senado. Os republicanos, que dominam a câmara alta do Congresso, não o abandonaram e deverão absolvê-lo das acusações de abuso de poder e obstrução à Justiça nesta quarta-feira.
Trump focou todo o seu discurso nos aspectos positivos da sua governação e apontou para o futuro, ignorando o impeachment, que há meses domina a vida política dos EUA, e deixando de lado os ataques directos aos seus adversários. Disse que a economia americana estava a “rugir” de vitalidade e “melhor que nunca” e que o desemprego diminuiu para afro-americanos, mulheres, jovens e trabalhadores sem diploma do secundário – segmentos eleitorais que deverão ser críticos nas presidenciais de Novembro. E, por fim, declarou que a sua Administração criou sete milhões de novos empregos e conseguiu a mais baixa taxa de desemprego em meio século.
E, tal como nos seus discursos anteriores na câmara baixa do Congresso, Trump fez declarações que vão contra a verdade, ao dizer, por exemplo, que estava a aumentar a mobilidade social nos Estados Unidos. “A visão que apresento esta tarde mostra como estamos a construir a sociedade mais próspera e inclusiva do mundo. Uma sociedade onde cada cidadão se possa juntar ao sucesso sem paralelo dos Estados Unidos e onde cada comunidade toma parte na sua ascensão extraordinária”, disse o Presidente.
Segundo o Census Bureau, a desigualdade social nos EUA atingiu o nível mais elevado desde que a organização começou a realizar inquéritos há 50 anos.
O veredicto quase certo de absolvição no Senado não ficou à porta do hemiciclo da Câmara dos Representantes e a tensão entre democratas e republicanos foi visível, diz o Washington Post. Alguns congressistas democratas, entre os quais Alexandria Ocasio-Cortez, eleita por Nova Iorque, decidiram boicotar o discurso sem ir sequer à sala, enquanto outros, mal Trump começou a discursar, a abandonaram.
Mas o grande momento de crítica veio da presidente da câmara baixa do órgão legislativo, a quem Trump tinha recusado cumprimentar quando entrou. Mal o Presidente acabou de discursar e os republicanos aplaudiam, Nancy Pelosi rasgou o discurso de Trump, em directo, na televisão, dizendo não ter conseguido encontrar uma única “página de verdade”. “Na próxima semana, quando o Presidente apresentar o Orçamento, o povo americano vai ver a negra realidade da sua agenda política”, disse mais tarde, em comunicado, Pelosi. “Um Orçamento federal deve ser uma declaração dos nossos valores nacionais e o Presidente tem tristemente mostrado não dar valor à boa saúde do povo americano.”
O discurso de Trump foi uma séria lembrança da posição de força em que o Presidente se encontra para disputar as eleições daqui a nove meses, quando os democratas se confrontaram com problemas técnicos no apuramento e atrasos na revelação dos resultados nas primárias do Iowa. Ainda não há resultados definitivos, mas Pete Buttigieg tem uma ligeira vantagem sobre Bernie Sanders.
O Partido Democrata perdeu assim uma oportunidade para ganhar o momento e controlar a narrativa política contra o ocupante da Casa Branca, de provar que é uma alternativa viável. E Trump não perdeu a oportunidade de o lembrar: “O Partido Democrata fez mesmo asneira no Iowa, o Partido Republicano não.”
Uma sondagem da Gallup, publicada nesta terça-feira, mostrou que 94% dos republicanos apoiam Trump, a que se juntam 42% de eleitores independentes, mais cinco pontos que em Janeiro. E 63% dos americanos aprovam a forma como o Presidente tem gerido a economia dos Estados Unidos, mais seis pontos que em Novembro.