Director de TMPorto admite “erro” ao não publicar texto de Regina Guimarães

Tiago Guedes admite “a esta distância dos acontecimentos”, que não equacionou a possibilidade de leitura diferente da sua “manifestação de incómodo”, que, vê agora, poderá existir.

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Tiago Guedes, director do Teatro Municipal do Porto PEDRO GRANADEIRO/NFACTOS

O director do Teatro Municipal do Porto admitiu que foi “um erro” não publicar o texto de Regina Guimarães, ainda que a intenção não tenha sido limitar a liberdade de expressão, mas defender a memória do ex-vereador da Cultura da autarquia portuense Paulo Cunha e Silva, que morreu em 2015.​

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O director do Teatro Municipal do Porto admitiu que foi “um erro” não publicar o texto de Regina Guimarães, ainda que a intenção não tenha sido limitar a liberdade de expressão, mas defender a memória do ex-vereador da Cultura da autarquia portuense Paulo Cunha e Silva, que morreu em 2015.​

Numa publicação na rede social Facebook, ao final do dia de terça-feira, Tiago Guedes começa por partilhar a nota de rodapé do texto que Regina Guimarães escreveu para a folha de sala do espectáculo Turismo de Tiago Correia, salientando o “tom ofensivo” daquela nota para a memória do antigo vereador.

“Reconhecendo que a emoção e a falha fazem parte da natureza humana, gostaria de partilhar aquilo que a distância dos factos me permite avaliar agora como um erro. Percebo agora que o reconhecimento e respeito que nutro pelo trabalho do Paulo Cunha e Silva no Porto, e sobretudo pela sua memória, me fez deixar levar por aquilo que considerei ser a necessária defesa do seu nome perante o que encarei ser uma ofensa desnecessária”, escreve Tiago Guedes na publicação.

O director do Teatro Municipal do Porto (TMPorto) questiona ainda assim se não poderia Regina Guimarães expressar essa mesma discordância de um modo não insultuoso e se a folha de sala de um espectáculo do TMPorto seria o veículo para o expressar.

Tiago Guedes admite, contudo, “a esta distância dos acontecimentos”, que não equacionou a possibilidade de leitura diferente da sua “manifestação de incómodo”, que, vê agora, poderá existir.

“De facto, a esta distância, consigo perceber que a leitura de um encenador em vésperas de estreia possa ter sido a de uma tentativa de limitação à sua liberdade de expressão. Não foi, porém, essa a minha intenção, e quem me conhece saberá que nunca assumiria ou consideraria defensável qualquer atitude de censura”, sublinha.

Aquele responsável acrescenta ainda que ao longo da sua vida profissional sempre procurou “respeitar profundamente os artistas e o seu trabalho”, pelo que, “a todos os que se sentiram privados da sua liberdade de expressão”, reitera que nunca foi essa a sua intenção.

Na terça-feira, a escritora Regina Guimarães acusou a direcção do TMPorto de ter censurado um texto da sua autoria no qual criticava a noção de “cidade líquida” de Paulo Cunha e Silva. O texto foi escrito para integrar a folha de sala — que não chegou a existir — do espectáculo Turismo, da Companhia A Turma, com texto original e encenação de Tiago Correia que subiu ao palco nos dias 31 de Janeiro e 1 de Fevereiro no Teatro Campo Alegre, no Porto. Na referida nota, a escritora afirma que o antigo vereador inundou os portuenses “de discursos delirantes acerca da ‘cidade líquida’ inspirada em Zygmunt Bauman, no intuito de legitimar teoricamente as escolhas políticas na sua área de actuação, positivando, por ignorância ou descarada mentira, uma noção que, para o sociólogo inventor do conceito, consubstancia o horror contemporâneo da perda de laços”.

Numa primeira reacção à acusação, o director do TMPorto, em declarações à Lusa, garantiu que o texto da dramaturga não tinha sido publicado com a concordância do encenador e que este até lhe tinha pedido desculpa. O encenador Tiago Correia veio então desmentir Tiago Guedes, acusando-o de “chantagem emocional, coação, ameaça e abuso de poder”.