Cartoonista Vasco Gargalo acusado de anti-semitismo por comunidade judaica
As ilustrações em que o artista recorre a imagens e alegorias associadas ao anti-semitismo estão a gerar controvérsia.
A Ordem Independente de B’nai B’rith, organização judaica dedicada aos direitos humanos, acusou o cartoonista português Vasco Gargalo de anti-semitismo e está a pedir que o ilustrador seja demitido dos meios de comunicação com os quais colabora regularmente, entre os quais a revista Sábado. Em causa estão ilustrações do artista nascido em Vila Franca de Xira que usam símbolos historicamente ligados ao anti-semitismo para retratar o conflito israelo-palestiniano.
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A Ordem Independente de B’nai B’rith, organização judaica dedicada aos direitos humanos, acusou o cartoonista português Vasco Gargalo de anti-semitismo e está a pedir que o ilustrador seja demitido dos meios de comunicação com os quais colabora regularmente, entre os quais a revista Sábado. Em causa estão ilustrações do artista nascido em Vila Franca de Xira que usam símbolos historicamente ligados ao anti-semitismo para retratar o conflito israelo-palestiniano.
“O Crematório”, cartoon desenhado por Gargalo a 15 de Novembro de 2019 e publicado na plataforma Cartoon Movement, motivou os primeiros protestos, que só surgiram na semana passada, depois de Donald Trump apresentar o seu plano para a paz no Médio Oriente. Na imagem, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu — que surge com um quipá na cabeça e uma braçadeira com a Estrela de David —, empurra um caixão coberto com a bandeira da Palestina para dentro de um forno crematório. Por cima desta, pode ler-se Arbeit Macht Frei (O trabalho liberta), a célebre inscrição à entrada do campo de extermínio de Auschwitz, usada pela propaganda nazi para trivializar os campos de concentração, sugerindo que se destinavam à reeducação por trabalho forçado.
Outras ilustrações, como “Homo Universalis”, onde o líder do partido Likud é equiparado a um polvo e segura nas mãos dois sacos de dinheiro, ou “Espectáculo Aéreo”, onde um míssil que rodopia no ar desenha através do seu rastro o hexagrama judaico, estão a motivar indignação. A B’nai B’rith, a mais antiga organização judaica no mundo, condena ainda o cartoon com “um político negro a ser ‘crucificado’ numa Estrela de David”.
Diversas publicações digitais judaicas e organizações de defesa do Estado de Israel criticaram o trabalho de Vasco Gargalo, que em Novembro do ano passado venceu o prémio Plumes Libres para melhor desenho de imprensa, numa cerimónia realizada pelo Courrier International. Alguns destes meios referiram que o semanário francês, com quem Gargalo trabalha, devia distanciar-se do seu trabalho. Já foi anunciada a retirada do prémio ao cartoonista.
Por telefone, o freelancer explica ao PÚBLICO que não está “contra a comunidade judaica” e sim contra “a política exercida por Israel perante a Palestina”. Vasco Gargalo acredita que a “perseguição” de que está a ser alvo constitui um “atentado à liberdade de expressão” e acrescenta que a Sábado, cujos directores ficaram com “o correio cheio de mensagens de ódio” nos últimos dias, apoia o artista.
O cartoonista frisa que trabalha “sempre a favor dos direitos humanos” e afirma que o cariz satírico das suas ilustrações “não se vai alterar” no seguimento desta polémica. Distancia-se de qualquer tipo de ligação com o anti-semitismo — “Eu faço alusões à Estrela de David porque ela está na bandeira de Israel e não porque defendo ideologias baseadas no preconceito ou na discriminação”, clarifica — e sublinha que deixará de trabalhar no dia em que sentir que não mais pode “pensar de forma livre”.
Esther Mucznik, estudiosa de temas judaicos e cronista do PÚBLICO, considera que “O Crematório” é um cartoon “ignóbil”. A autora sublinha que o governo de Benjamin Netanyahu é “muito criticável”, mas considera que a comparação ao Holocausto e ao regime nazi é “errónea e ignorante”, comentou ao PÚBLICO.