“Não se vai negociar” com Isabel dos Santos, diz João Lourenço

Na primeira vez que comenta publicamente o caso Isabel dos Santos e o Luanda Leaks, o Presidente angolano fecha as portas a qualquer acordo com a empresária.

Foto
João Lourenço admite que fez parte do sistema e, por isso, está bem posicionado para o mudar Rui Gaudencio

O Presidente angolano não está disposto a estender a mão a Isabel do Santos. A notícia posta a circular de que a filha de José Eduardo dos Santos estaria a negociar com a justiça angolana a possibilidade de pagar as suas dívidas ao Estado angolano foi desmentida categoricamente por João Lourenço, em entrevista à emissora alemã Deutsche Welle.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O Presidente angolano não está disposto a estender a mão a Isabel do Santos. A notícia posta a circular de que a filha de José Eduardo dos Santos estaria a negociar com a justiça angolana a possibilidade de pagar as suas dívidas ao Estado angolano foi desmentida categoricamente por João Lourenço, em entrevista à emissora alemã Deutsche Welle.

“Nós gostaríamos de deixar aqui garantias muito claras de que não se está a negociar”, afirmou peremptoriamente o chefe de Estado. “Mais do que isso, não se vai negociar, na medida em que houve tempo, houve oportunidade de o fazer. Portanto, as pessoas envolvidas neste tipo de actos de corrupção tiveram seis meses de período de graça para devolverem os recursos que indevidamente retiraram do país”, acrescentou.

Não querendo responder à questão sobre se quer ver Isabel dos Santos atrás das grades – “é uma decisão da justiça: eu não sou juiz” –, João Lourenço sempre foi afirmando que “quem não aproveitou” a oportunidade, do “período de graça” concedido para o repatriamento do dinheiro indevidamente obtido, “todas as consequências que puderem advir daí são apenas da sua inteira responsabilidade”.

Salientando a independência da justiça angolana face ao poder político, algo que admite podia não acontecer antes – “talvez fosse assim no passado, hoje não” –, o Presidente angolano fez questão de sublinhar que “aqueles que estão a contas com a justiça que não pensem que é o poder político quem os empurrou para a justiça”.

João Lourenço aproveitou para esclarecer que José Eduardo dos Santos e Manuel Vicente não estão a ser investigados porque gozam de um período de imunidade de cinco anos, a partir do momento em que deixaram o poder, e para garantir que é falso que o ex-vice-presidente seja seu conselheiro. “Ele não é meu conselheiro para área nenhuma. O que se diz é que é meu conselheiro para o sector dos petróleos, mas isso é absolutamente falso. Não trabalha para mim, nem de forma remunerada, nem de forma gratuita”, afirmou.

Sobre o facto de, com o seu silêncio, João Lourenço poder ter sido conivente com aquilo que José Eduardo dos Santos fez nos seus 38 anos no poder, o actual Presidente angolano colocou-se ao lado de outros revolucionários de África e do mundo.

“De facto, eu trabalhei sob a orientação do Presidente José Eduardo dos Santos. Todos nós trabalhámos. Um Presidente que ficou 40 anos no poder. Ninguém pode dizer que não fazia parte do sistema”. No entanto, quem está em posição mais favorável para fazer as mudanças, “são precisamente aqueles que conhecem o sistema por dentro. Isto foi assim em todas as revoluções”.

“Quem fez as grandes mudanças não são pessoas de fora, são as que conhecem o sistema”, explicou, antes de concluir: “É evidente que as oposições gostariam muito que fossem elas a fazer essas grandes reformas e transformações na sociedade, mas, no caso de Angola, não é assim que está a acontecer. Somos nós, do partido que sempre governou o país [MPLA], que estamos a fazer as reformas que eram absolutamente necessárias.”