O Livre unido jamais seria vencido…
A perda da sua representação parlamentar amputará o Livre da sua melhor arma para fazer avançar as suas políticas de justiça social e ambiental, dando a visibilidade merecida às muitas e válidas propostas provenientes dos extraordinários membros e apoiantes que o partido (ainda) tem.
Em 2014, o Livre foi o primeiro, e até agora único, partido português que incorporou o conceito de eleições primárias abertas nos seus estatutos e prática democrática. Ter-se-á certamente inspirado no exemplo norte-americano que levou um então relativamente desconhecido senador do estado federal de Illinois, chamado Barack Obama, à presidência dos Estados Unidos da América. Entusiasmado com este novo projeto político em Portugal, registei-me logo como apoiante para poder participar na escolha de candidatos nas eleições primárias.
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Em 2014, o Livre foi o primeiro, e até agora único, partido português que incorporou o conceito de eleições primárias abertas nos seus estatutos e prática democrática. Ter-se-á certamente inspirado no exemplo norte-americano que levou um então relativamente desconhecido senador do estado federal de Illinois, chamado Barack Obama, à presidência dos Estados Unidos da América. Entusiasmado com este novo projeto político em Portugal, registei-me logo como apoiante para poder participar na escolha de candidatos nas eleições primárias.
Apesar do meu próprio entusiasmo, a par do entusiasmo de muitos outros, o Livre concorreu a duas eleições europeias, em ambos os casos com Rui Tavares como cabeça de lista, e às legislativas de 2015, integrando a candidatura cidadã Tempo de Avançar, também com Rui Tavares como cabeça de lista por Lisboa, sem conseguir eleger nenhum deputado. Finalmente, em 2019, conseguimos: o Livre elegeu uma deputada pelo círculo eleitoral de Lisboa, democraticamente sufragada nas eleições primárias em que tive o privilégio de participar como candidato. E mais, o Livre ainda teve um número de eleitores a nível nacional que permitiu ter acesso às subvenções públicas nos termos da Lei n.º 19/2003, de 20 de junho e liquidar dívidas da campanha de 2015 que em muito condicionavam a vida do partido.
No entanto, depois do esperado aconteceu o inesperado. Mal a deputada tinha tomado posse em 25 de Outubro, as dissonâncias entre os órgãos do partido e a deputada ficaram publicamente expostas, particularmente na sequência da famosa abstenção da deputada no voto de condenação da agressão israelita a Gaza e da declaração da Administração Trump sobre os colonatos israelitas, tendo esta sido repreendida pelo direção do partido, o grupo de contacto (GC), em comunicado no dia seguinte, dia 23 de Novembro de 2019, uma vez que o voto não refletia “as tomadas de posição oficiais do partido”. E nesse mesmo fim-de-semana, a assembleia do livre pediu um parecer ao conselho de jurisdição (CJ) do partido para apurar os factos subjacentes ao conflito entre GC e deputada e, eventualmente, propor atuação disciplinar. Apesar do parecer emitido pela comissão de arbitragem do CJ não encontrar matéria para ação disciplinar, o conflito não ficaria sanado, acabando na proposta da retirada da confiança política, apresentada pela assembleia do partido ao IX Congresso do Livre em 18 e 19 de janeiro de 2020. O congresso decide adiar a decisão, e um grupo de membros e apoiantes propõe um “Roteiro para a Paz”. No entanto, os membros da assembleia eleita acabam por retirar a confiança política à deputada, recusando encetar a proposta de mediação.
Muitos membros, apoiantes, simpatizantes e eleitores assistiram, como eu, com estupefação a este processo de autodestruição que o partido decidiu levar por diante, exposto até ao mais ínfimo detalhe nos órgãos de comunicação social, ávidos pelas notícias que emanavam do melodrama envolvendo a mediática deputada. Depois de o congresso ter evitado dar a estocada final na unidade e reputação do partido, graças à intervenção de Ricardo Sá Fernandes e Jorge Gravanita, entre outros, esperava que tivesse chegado finalmente o momento em que pudéssemos reconhecer que com guerras internas não íamos a lado nenhum. Agora, a perda da sua representação parlamentar amputará o Livre da sua melhor arma para fazer avançar as suas políticas de justiça social e ambiental, dando a visibilidade merecida às muitas e válidas propostas provenientes dos extraordinários membros e apoiantes que o partido (ainda) tem.
Afinal, o Livre não fora capaz de apostar na paz e na ecologia do espírito, em vez do conflito e da agressão verbal, e a união não fez a força. Terei de entrar num processo de reflexão sobre a minha participação futura num projeto que acabou por defraudar a minha esperança, o meu entusiasmo, e o meu voto nas eleições primárias e legislativas.
Que pena!