Seis mil já descarregaram a app dedicada à Estrada Nacional 2
Aplicação para telemóveis nasceu numa sala de aulas e rapidamente ganhou popularidade. Pretende ajudar a descobrir a estrada mais popular do interior de Portugal.
A Estrada Nacional (EN) 2 pode ter menos turistas do que a auto-estrada 2 que leva o país até ao Algarve, mas não há dúvida que a EN2 é a via mais cobiçada do país nesta altura. O que a A2 oferece em velocidade, a EN2 compensa com uma aura de experiência turística que mais nenhum outro trajecto tem. E foi nesse espírito que se inspiraram quatro jovens universitários de Coimbra para criarem uma aplicação para telemóveis, baptizada Rota N2, que nos primeiros três dias foi descarregada 1000 vezes na loja Google Play.
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A Estrada Nacional (EN) 2 pode ter menos turistas do que a auto-estrada 2 que leva o país até ao Algarve, mas não há dúvida que a EN2 é a via mais cobiçada do país nesta altura. O que a A2 oferece em velocidade, a EN2 compensa com uma aura de experiência turística que mais nenhum outro trajecto tem. E foi nesse espírito que se inspiraram quatro jovens universitários de Coimbra para criarem uma aplicação para telemóveis, baptizada Rota N2, que nos primeiros três dias foi descarregada 1000 vezes na loja Google Play.
A adesão surpreendeu os criadores, diz João Paiva, 21 anos. “Imaginávamos que poderia ter um bom impacto inicial, mas não esperávamos tamanha receptividade”, afirma. A popularidade inicial, de facto, continua em alta: a app foi lançada a 10 de Janeiro e, ao fim de 18 dias, já registou 6000 downloads.
Menos de um mês depois do lançamento, a versão para iOS ainda não chegou ao mercado. Mas está feita. “Desenvolvemos ambas em simultâneo. Só que os testes finais e a aprovação prévia ao lançamento da versão iOS na App Store demora mais tempo”, explica. Portanto, quem tem iPhone deverá ter acesso à app agora em Fevereiro.
Antes de a usar, é preciso criar uma conta, indicando e-mail e uma palavra-passe. “Poderíamos ter programado isto sem registo prévio, mas assim conservamos toda a informação mesmo que, por alguma razão, seja preciso apagar a app do telemóvel”, explica João Paiva. Os dados são guardados em bases de dados alojadas pelo Google, com encriptação.
Por agora, a aplicação é apenas um passaporte digital, que substitui a versão em papel lançada pela Associação de Municípios da Rota da Estrada Nacional 2 (AMREN2). Pode-se recolher carimbos ao longo da rota, apontando a câmara do telemóvel com a app aberta para um código QR que está colocado em locais de acesso público.
Lá para o Verão deverão surgir duas funções que fazem muita falta: um mapa interactivo da rota pela EN2; e roteiro de locais de interesse, com monumentos, hotéis e restaurantes. “Temos tido muito feedback positivo e muita gente tem sugerido essas funcionalidades. Na verdade, estão pensadas desde o início, mas demoram um pouco mais a concretizar”, justifica João Paiva.
A história desta aplicação é também uma curta história de empreendedorismo que nasce numa sala de aula e de repente se vê atirada para os media. A popularidade da própria EN2 tem dado uma ajuda. Afinal, não é por acaso que dizem ser a versão portuguesa da norte-americana Route 66 ou da argentina Ruta 40.
É uma adesão que cresce ao mesmo ritmo da tendência para o slow tourism, as chamadas viagens que são experiências de vida. E que ganha mediatismo por intervenção externa. Há muito que ultrapassou fronteiras – o programa Good Morning America do canal ABC (EUA) e os guias de viagens Frommer's incluíram a EN2 na lista de viagens obrigatórias em 2019. Há políticos (como António Costa) que a transformaram em palco de campanha eleitoral. Há quem a percorra de bicicleta, como João Paulo Félix, em nome de uma causa (combate ao lúpus). Há quem não se amedronte com a mais longa travessia do país, que passa por 35 concelhos de 11 distritos, e se faça à estrada com miúdos no banco de trás. Pode soar a pesadelo, mas parece que é uma road trip incrível para fazer em família.
Foi precisamente em família que nasceu a ideia de fazer esta app. Depois de viajar de mota pela EN2, com amigos, um irmão de João Paiva contou-lhe que encontrou muita gente a procurar carimbos no passaporte em papel. Foi aí que este estudante, natural de Castro Daire (Viseu), pensou pela primeira vez em desmaterializar o passaporte.
A ideia ressurgiu em Setembro de 2019, quando ele e três colegas do curso de Engenharia Informática na Universidade de Coimbra tiveram de propor um trabalho para a disciplina de Processos de Gestão e Inovação. João Paiva, João Calhau (21), Tiago Ribeiro (20) e Jason Wrisez (22) tiveram de pensar, programar e gerir uma inovação tecnológica. Para abrir a app escolheram Fernando Pessoa. “As viagens são os viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos” (O Livro do Desassossego).
Tiveram a melhor nota da turma: 19 valores. Para os utilizadores, com as funcionalidades que prometem até ao Verão, até podem chegar aos 20.