Coronavírus pode afectar casinos de Macau e incentivar jogo ilegal

O impacto do novo coronavírus no fluxo de caixa dos casinos de Macau será “significativo”, prevê a Fitch.

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“Não se prevêem efeitos duradouros no turismo de Macau para além do período do surto", diz a Fitch Daniel Rocha

A agência de notação financeira Fitch avisou que se o surto do coronavírus continuar a alastrar pode ter impacto significativo no fluxo de caixa dos casinos de Macau e incentivar canais ilegais do jogo.

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A agência de notação financeira Fitch avisou que se o surto do coronavírus continuar a alastrar pode ter impacto significativo no fluxo de caixa dos casinos de Macau e incentivar canais ilegais do jogo.

“O impacto no fluxo de caixa das operadoras de jogo em Macau por causa do novo coronavírus será significativo à medida que o vírus se espalhar e as medidas de precaução dos governos regionais continuarem”, avisou a Fitch num comunicado divulgado na quinta-feira.

A agência aposta, contudo, que os operadores vão resistir “a esta pressão” devido aos sólidos perfis de crédito de que dispõem.

“Não se prevêem efeitos duradouros no turismo de Macau para além do período do surto. Supondo que o surto não dure mais de dois trimestres, o 2019-nCoV [novo coronavírus] terá principalmente um impacto temporário no fluxo de caixa dos operadores de casinos”, lê-se na mesma nota.

A agência indicou ainda que, para além do impacto no crédito de curto prazo, é possível que os “apostadores tentem novos locais e canais ilegais, como jogos online”.

Uma ideia partilhada pelo analista de jogo David Green que afirmou à Lusa, na quinta-feira, que a perda de jogadores nos casinos de Macau, um dos efeitos do novo coronavírus chinês na indústria do jogo, pode aumentar as apostas ilegais via telefone.

Também na quinta-feira, analistas disseram à Lusa que a indústria do jogo vai sofrer grandes perdas nas receitas por causa do surto do novo coronavírus, porque o território não soube diversificar a economia e combater a dependência do mercado chinês.

O primeiro caso do novo coronavírus em Macau foi anunciado a 22 de Janeiro, dias antes da semana de celebrações do Ano Novo Lunar, altura em que os casinos normalmente registam enchentes e avultados ganhos provenientes das apostas dos milhares de turistas da China continental. “As receitas irão sofrer e muito. Penso que (…) 80-90% menos do que no ano anterior no jogo”, disse à Lusa o advogado português especialista na área do jogo Pedro Cortés.

As chegadas de visitantes a Macau durante a chamada “semana dourada” do Ano Novo Lunar, desde 24 de Janeiro, desceram 78% comparativamente a igual período de 2019, segundo os Serviços de Turismo. O número de visitantes oriundos da China (149.244) caiu 83% em relação à “semana dourada” de 2019, de acordo com os mesmos dados.

A China suspendeu, esta semana, a emissão de vistos individuais para fora do país. Macau, que registou na semana passada o primeiro caso de infecção do novo coronavírus, tem até ao momento sete pessoas infectadas no território, todos importados.

A China elevou para 213 mortos e quase 10 mil infectados o balanço de vítimas do novo coronavírus detectado no final do ano em Wuhan, capital da província de Hubei (centro).

O facto de a economia de Macau ser, por um lado, altamente dependente da indústria do jogo e, por outro, a esmagadora maioria dos turistas serem da China continental (mais de 27 milhões em 2019) faz com qualquer factor adverso prejudique gravemente a economia da capital mundial do jogo, criticaram os analistas ouvidos pela Lusa.

O Governo de Macau anunciou o prolongamento até sexta-feira dos feriados do ano novo chinês para a função pública, medida que foi adoptada por várias empresas privadas, para diminuir o risco de contágio do novo coronavírus chinês.

A diminuição de turistas poderá ter um impacto ainda maior sobre o jogo caso se considere a tendência verificada no ano passado. As receitas provenientes das grandes apostas em Macau atingiram 135,228 milhões de patacas (15,152 milhões de euros) em 2019, menos 18,6% face a 2018, com o jogo VIP a perder o estatuto de segmento mais preponderante nas receitas globais, dando lugar ao jogo de massa.

De acordo com dados divulgados pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), este valor, angariado nas salas de grandes apostas dos casinos, representou menos 30,869 milhões de patacas (3,459 milhões de euros) do que no ano anterior.

A acrescentar a esta perda junta-se o facto de o jogo VIP ter perdido para o segmento de massas a posição mais dominante na capital mundial do jogo: pelo menos nos últimos cinco anos, as grandes apostas representaram mais de 50% das receitas globais. Em 2019, o jogo VIP representou apenas 46,2% do total das apostas angariadas.