Georges Picquart: a fascinante ambiguidade do homem que disse a verdade

No filme de Polanksi, o retrato do coronel Georges Picquart é o mote para um encontro com o outro retrato da mesma personagem. Aquele que Hannah Arendt nos deixou em As Origens de Totalitarismo: o de um homem que, quando diz a verdade, age. Quaisquer que tenham sido as suas verdadeiras intenções e motivações.

Foto
Um retrato do militar e contra-espião antipático, pose recta, rosto fechado, poucas emoções. O circunspecto Picquart de Jean Dujardin

Não é para o anti-semitismo francês da Terceira República Francesa ou para o Processo Dreyfus que Roman Polanski olha. É para o coronel francês e católico Marie-Georges Picquart (Jean Dujardin). Não é ao seu rosto circunspecto, sobrancelhas franzidas, que a câmara se agarra, depois de representar a degradação pública do traidor Alfred Dreyfus (Louis Garrel)? A partir desse plano J’Accuse — O Oficial e o Espião, o cineasta não mais perderá de vista o oficial. Acompanha-o nas suas dúvidas, observa as suas peripécias, segue os passos da sua inesperada investigação. Em 1895, tornado chefe da contra-espionagem do Estado-Maior Francês, Picquart, qual detective por conta própria, virá a descobrir a verdade: condenaram um homem inocente, Dreyfus. Dizer a verdade, quando quase todos mentem, eis um acorde que se repetirá. Talvez isso explique a ausência de tantos elementos do episódio que trouxe a questão judaica para a arena pública europeia. Do contexto histórico, social e político, apenas pinceladas fugazes, Émile Zola ou Georges Clemenceau, personagens influentíssimas do campo dreyfusard, são meros figurantes, de Bernard Lazare, intelectual, crítico literário e jornalista político de origem judia nem um fora de campo. É Picquart que Polanski persegue, enquanto o primeiro persegue a verdade. Nessa corrida de fundo, vai-se fazendo um retrato do militar e contra-espião: antipático, pose recta, rosto fechado, poucas emoções. Só se permitirá sorrir, ser humano, para a amante, Paulinne Monnier (Emmanuelle Seigner).

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Não é para o anti-semitismo francês da Terceira República Francesa ou para o Processo Dreyfus que Roman Polanski olha. É para o coronel francês e católico Marie-Georges Picquart (Jean Dujardin). Não é ao seu rosto circunspecto, sobrancelhas franzidas, que a câmara se agarra, depois de representar a degradação pública do traidor Alfred Dreyfus (Louis Garrel)? A partir desse plano J’Accuse — O Oficial e o Espião, o cineasta não mais perderá de vista o oficial. Acompanha-o nas suas dúvidas, observa as suas peripécias, segue os passos da sua inesperada investigação. Em 1895, tornado chefe da contra-espionagem do Estado-Maior Francês, Picquart, qual detective por conta própria, virá a descobrir a verdade: condenaram um homem inocente, Dreyfus. Dizer a verdade, quando quase todos mentem, eis um acorde que se repetirá. Talvez isso explique a ausência de tantos elementos do episódio que trouxe a questão judaica para a arena pública europeia. Do contexto histórico, social e político, apenas pinceladas fugazes, Émile Zola ou Georges Clemenceau, personagens influentíssimas do campo dreyfusard, são meros figurantes, de Bernard Lazare, intelectual, crítico literário e jornalista político de origem judia nem um fora de campo. É Picquart que Polanski persegue, enquanto o primeiro persegue a verdade. Nessa corrida de fundo, vai-se fazendo um retrato do militar e contra-espião: antipático, pose recta, rosto fechado, poucas emoções. Só se permitirá sorrir, ser humano, para a amante, Paulinne Monnier (Emmanuelle Seigner).