Francisco Rodrigues dos Santos: “Não podemos tentar agradar a pessoas que não gostam do CDS”

Em entrevista à RTP3, o sucessor de Assunção Cristas diz que o seu papel será de recuperar a imagem do partido.

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Francisco Rodrigues dos Santos venceu com 46% dos votos Paulo Pimenta

Quem é o novo líder do CDS? Leia o perfil

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O nome ainda não é conhecido por todos os portugueses. Francisco Rodrigues dos Santos, que muitos tratam por “Chicão”, foi eleito líder do CDS aos 31 anos. Sem assento na Assembleia da República (era o número dois pelo círculo do Porto e não foi eleito), o sucessor de Assunção Cristas acredita que o “efeito novidade” será uma “espécie de Primavera que a direita tem de atravessar para ganhar uma nova vida”. Acerca da continuidade da centrista Cecília Meireles (número um pelo Porto) no Parlamento, Francisco Rodrigues dos Santos empurra a discussão para depois do Orçamento do Estado, mas reforça a sua confiança e garante que uma eventual saída da deputada só acontecerá se a centrista o desejar. 

Numa entrevista transmitida esta quarta-feira à noite pela RTP3, o novo líder do CDS começou por citar o Papa Francisco e o padre António Vieira para justificar a sua entrada na política: “Somos aquilo que fazemos. Como disse um dia o Padre António Vieira, o que não se faz não existe.” 

A entrevista aconteceu no dia em que foram reveladas antigas declarações de um dirigente do CDS e apoiante de Francisco Rodrigues dos Santos, Abel Matos Santos, feitas entre 2012 e 2015, com elogios ao ditador português, António Salazar, e à PIDE e críticas ao diplomata Aristides Sousa Mendes que salvou muitos judeus do holocausto. Ao Expresso, o dirigente do CDS Abel Matos Santos disse que essas publicações tiveram “o seu contexto”. 

Filiado no partido desde 2007, Francisco Rodrigues dos Santos não teve contributo activo na política até 2012. Assume que se identifica com o antigo Presidente dos EUA Ronald Reagan e que apesar de a sua ascensão ter sido “rápida” foi feita “escada a escada”. 

A ambição de liderança, diz, veio “do período extremamente difícil em que o país se encontra”. Embora em 1991 o CDS tenha tido os mesmos 4% nas legislativas, no último ano o partido teve menos votos em número absoluto, com a limpeza dos cadernos eleitorais. Sobre o radicalismo que lhe é apontado por adversários políticos, o líder do CDS diz que “isso não corresponde à realidade”. “Vivemos num tempo em que ser radical é dizer tudo aquilo que não se gosta”, ​responde: "Sou radicalmente defensor dos valores em que acredito e estou empenhado em mobilizar a direita e dizer que o CDS é a sua morada.”

Para Francisco Rodrigues dos Santos, o “novo” CDS deverá “falar de acordo com a linguagem dos problemas dos portugueses” e terá de ser um partido “de valores constantes”, previsível e seguro. “Não pode tentar agradar a pessoas que não gostam do CDS, nunca votaram, nem nunca votarão no partido”, sublinha o líder centrista. “O CDS foi neutralizando o seu discurso porque considerou que era importante não desagradar a ninguém.”

No caso dos professores, exemplifica, “a comunicação do CDS foi difícil de estabelecer” e o partido acabou por ficar “a meio do caminho”. “Às vezes não é só nos assuntos que se trata que se cometem erros, é também naquilo que se deixa de dizer”, continua. “Um partido quando não tem identidade ninguém o identifica. Se ninguém o identifica ele torna-se indiferente. E se se torna indiferente, torna-se inútil. Uma vez inútil, acho que é legítimo dizer que os portugueses não votarão nele.”

Assumidamente contra a interrupção voluntária da gravidez e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, Francisco Rodrigues dos Santos afirma que segue apenas as posições defendidas pelos democratas-cristãos e lamenta que o CDS tenha chegado a um ponto em que é estranho alguém subscrever as posições do partido. “Eu defendo as posições do partido. Mal seria se não fosse assim. Estaria a desviar-me da rota que sempre foi do CDS”, afirma.

Sobre o escasso número de mulheres na comissão política, que pelas contas de Francisco Rodrigues dos Santos serão oito num total de 49 membros, o líder do CDS escolhe, curiosamente, fazer uma metáfora com um táxi: “Quando entramos num táxi, queremos é que o motorista nos leve ao destino e cumpra com eficiência a sua função, não queremos saber se é um homem ou mulher”. E, para responder às críticas, adianta que irá convidar uma mulher para porta-voz do partido.

Políticos e corrupção​

Citando algumas das propostas que o CDS entregou para alterações na especialidade ao Orçamento do Estado para este ano, o líder do CDS volta a socorrer-se de outra referência futebolística: “Ainda não calcei as chuteiras e já estamos a marcar golos”, atira, reclamando para o CDS a proposta socialista de restrição dos vistos gold aos municípios do Interior e regiões autónomas.

O líder do CDS acredita que o país sofreu “um abalo de confiança no sistema político devido a um colapso ético e moral” por parte dos governantes e, por isso, defende a reforma do sistema político e a abertura dos partidos à sociedade civil “vendo o partido através do mundo e não o mundo através do partido”.

Eleito no congresso do último fim-de-semana, o novo líder centrista defende um modelo misto de voto preferencial para que os eleitores possam escolher os seus candidatos preferidos.

Rejeitando a generalização de que a política está corrompida, Francisco Rodrigues dos Santos pede “instrumentos políticos e legais” que combatam a corrupção, através, por exemplo, da limitação de cargos à semelhança do que acontece com os autarcas.

Outras propostas citadas pelo líder centrista são o alargamento do período de “nojo” em que os políticos são impedidos de voltar a recandidatar-se para o exercício de determinadas funções; a criação do estatuto do colaborador para investigar crimes; acabar com o sistema de “portas giratórias”, garantindo que os políticos que terminam os seus mandatos não vão exercer funções em áreas que anteriormente tinham estado sob a sua tutela; reduzir a subvenção estatal aos partidos que apresentem nas suas listas políticos condenados por corrupção; e criar uma lista negra de empresas cujos administradores tenham sido condenados por corrupção. "Parece que há uma experiência de preguiça de Portugal em tornar-se idóneo e eliminar as más práticas na vida pública”, considera.