Roger Hanson, o mergulhador que construiu uma Atlântida para os cavalos-marinhos do Pacífico

Professor reformado, Roger Hanson viu Hippocampus ingens pela primeira vez em 2016 e, desde então, não desistiu de os conhecer. Criou uma cidade — Atlântida — para convencer os animais a ficar pelas águas da Califórnia e visita-os duas vezes por semana. “Parece que estou a ler um livro, o livro da vida deles, e não consigo pousá-lo.”

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Com certeza não há ninguém que passe tanto tempo com os cavalos-marinhos do Pacífico como Roger Hanson. Ou que os conheça tão bem: deu-lhes nomes, sabe como se comportam, como se relacionam. E sabe, ao certo, o dia em que viu um Hippocampus ingens pela primeira vez: 30 de Janeiro de 2016, nas águas de Long Beach, na Califórnia.

“Fiquei absolutamente deslumbrado”, diz o professor reformado de 69 anos ao Great Big Story. O Hippocampus ingens é uma das quase 50 espécies de cavalos-marinhos existentes em todo o mundo. Vivem em zonas costeiras entre o Peru e a Califórnia, mas normalmente não passam em Long Beach. Por isso, surpreenderam o mergulhador quando apareceram mesmo à frente dos seus olhos.

Especialistas acreditam que terá sido o aumento da temperatura da água que atraiu estes animais para Norte — e Roger quer que eles fiquem por lá. Para isso, constrói-lhes cidades com paus, folhas e ramos de pinheiro. A ideia surgiu depois de, em 2016, um grupo de cerca de 100 jovens ter mergulhado precisamente no local onde os “seus” cavalos-marinhos costumavam estar. “Percebi que teria de construir uma cidade num local mais profundo, que fosse mais difícil de alcançar”, disse ao Los Angeles Times

Construiu então a “Atlântida” — e ali se instalou uma comunidade: Bathsheba, Daphne, C.D. Street e Deep Blue, que confortavelmente enrolam as suas caudas à volta das estruturas que o mergulhador construiu. Desde então, Roger já arquitectou mais duas “cidades” — Vegas e The Bellagio. As localizações são mantidas em segredo por questões de conservação da espécie.

Os cavalos-marinhos do Pacífico estão entre os maiores da família de cavalos-marinhos. Os machos podem crescer até 35 centímetros e as fêmeas até 27. Têm cores variadas e uma grande capacidade de camuflagem. A sua característica mais distintiva é o facto de serem os machos a engravidar, depois de as fêmeas depositarem mais de 1500 ovos na sua bolsa. Os machos incubam os ovos, dando-lhes nutrientes e oxigénio. No final, “dão à luz” através da cauda.

Quatro anos após o início da aventura, Roger, que ficou conhecido como o “Seahorse Whisperer”, continua a fazer registos da actividade dos animais e a percorrer, duas vezes por semana, os quase 130 quilómetros que separam a sua casa das águas onde eles habitam, para os visitar. “Que eu tenha conhecimento, sou o único a registar esta espécie desta forma”, afirma, citado no mesmo texto. E com o tempo, foi também aprendendo a melhor forma de interagir com eles: se no início os “incomodava muito” e “parecia um paparazzi”, agora limita as interacções a 15 e 30 segundos de cada vez. 

Já viu Deep Blue engravidar — e receber visitas diárias da sua parceira — ou Kenny, um cavalo-marinho que fazia parte da comunidade, desaparecer, dando lugar a C.D. Street. A sua pesquisa sugere que a maioria destes animais são monógamos, sendo que as fêmeas podem acasalar com dois machos se não houver fêmeas suficientes. Que os comportamentos são diferentes de noite e de dia. “Parece que estou a ler um livro, o livro da vida deles, e não consigo pousá-lo.”

Cada um tem uma personalidade distinta e Roger conhece-lhes os traços: “A Daphne não gosta que lhe olhemos directamente nos olhos. Por isso, o melhor é não o fazer. Porque, se olharmos, não a vamos voltar a ver”, conta. “E a Bathsheba é muito sociável, gosta de estar rodeada por pessoas. Já a vi mais de 900 vezes.”

Os dados que recolhe são partilhados com especialistas — e os especialistas partilham o que sabem com o mergulhador. “Se visitarmos um aquário, provavelmente há 30 cavalos-marinhos no mesmo espaço, todos juntos. Mas, no mundo real, eles são muito individualistas. Gostam de estar entre 15 a 45 pés de distância (quatro a 13 metros).”

No futuro, os cientistas esperam que Roger — e Ashley Arnold, uma instrutora de mergulho que desde 2017 trabalha com Roger — consigam ajudá-los a descobrir a esperança média de vida destes animais em habitat natural. Alguns especialistas acreditam que é de cinco anos, outros apostam em mais de 12.

E quando lhe perguntam se se considera parte do grupo, a resposta é a seguinte: “Considero-me parte, sim. Um pouco maior, muito mais velho, mas sim, acho que somos amigos.”