Grécia planeia barreira flutuante contra barcos com refugiados
Plano é “dissuadir” as viagens de barcos vindos da costa da Turquia. Organizações dizem que barreiras não resultam.
Confrontado com um aumento de chegadas de barcos vindos da Turquia com potenciais refugiados (a maioria vem do Afeganistão), o Governo grego anunciou que planeia instalar uma “barreira flutuante” no Mar Egeu.
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Confrontado com um aumento de chegadas de barcos vindos da Turquia com potenciais refugiados (a maioria vem do Afeganistão), o Governo grego anunciou que planeia instalar uma “barreira flutuante” no Mar Egeu.
A Grécia foi o ponto de entrada de muitos refugiados sírios que chegaram à Europa em 2015, especialmente através de cinco ilhas do Mar Egeu mais perto da Turquia. Um acordo entre a União Europeia e a Turquia fez diminuir o número de chegadas, mas os campos de refugiados nestas ilhas continuaram sempre com muito mais pessoas do que a sua capacidade, e a situação piorou depois do Verão do ano passado, quando o número de chegadas começou a aumentar.
A barreira flutuante será instalada ao largo da ilha de Lesbos. Terá 2,7 km, ficará 50 cm acima do nível das águas, terá luzes para se ver à noite, e custará 500 mil euros, diz a agência Reuters.
O ministro da Defesa, Nikos Panagiotopoulos, diz que a barreira pretende ser um meio de “dissuasão”. “Se funcionar como a barreira de Evros, pode ser eficaz”, disse, referindo-se à barreira ao longo do rio que divide a Grécia e a Turquia, erguida em 2012.
Muitos refugiados e migrantes morrem ao chegar às ilhas gregas, na curta viagem por mar que as separa da costa turca, porque as águas são muito agitadas. Foi o caso de Alan Kurdi, a criança de dois anos que foi fotografada, morta, na costa, e que chocou o mundo. Muitos morrem também a tentar atravessar o rio Evros.
Outras medidas de dissuasão tentadas anteriormente por Atenas ou Bruxelas resultaram em mais mortes, como a decisão de terminar a missão de salvamento italiana Mare Nostrum numa operação europeia com o principal objectivo de controlar as fronteiras (e não salvar vidas).
O Mediterrâneo continua a ser a rota mais mortífera do mundo para refugiados e migrantes. Em 2019, morreram mais de mil pessoas a tentar chegar à Europa deste modo.
Organizações de defesa de direitos humanos há muito que dizem que barreiras não resultam, apenas aumentam a mortalidade de quem tenta ultrapassá-las.
“Temos visto, nos últimos anos, um aumento de barreiras, mas as pessoas continuam a fugir”, disse Βoris Cheshirkov, porta-voz do ACNUR na Grécia, à Reuters. Para a organização da ONU, o que Atenas precisa é de “um procedimento de processamento rápido dos pedidos de asilo”.
Confrontado com o aumento de chegadas às ilhas gregas, o primeiro-ministro, Kyriakos Mitsotakis, já disse que o país “não vai ser o anfitrião amigo dos oprimidos deste mundo”.
As condições nos campos das ilhas são consideradas “indescritíveis” pelas organizações não-governamentais que lá prestam apoio. Em Moria, um campo que tem uma capacidade máxima de 3 mil pessoas, estão 19 mil, muitas delas acampadas à volta do campo, sem as mínimas condições.
Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) pediram esta semana ao Governo que transferisse com urgência 140 crianças com doenças crónicas e com risco de vida de Lesbos para a Grécia continental para que pudessem receber o tratamento médico que ali não conseguem ter.