Entre os jovens de Manon de Boer e a colecção da casa, a Gulbenkian em movimento
O novo ciclo expositivo do Museu Calouste Gulbenkian traz a Lisboa três vídeos e um filme da artista holandesa. E propõe uma viagem às viagens que as obras de arte da fundação escondem.
Manon de Boer (Kodaikanal, Índia, 1966) e um novo percurso pela Colecção Moderna. Estas são as novidades que o Museu Calouste Gulbenkian traz, a partir desta sexta-feira, no âmbito do seu novo ciclo expositivo – um dos últimos antes do anunciado fecho do edifício vulgarmente conhecido como Centro de Arte Moderna, em Agosto, tendo em vista a sua ampliação. Numa das galerias do Espaço Projecto, os visitantes vão poder contemplar Tempo de Respiração, da artista holandesa, exposição que compreende uma trilogia de vídeos e um pequeno e curioso filme. Os primeiros compõem experiências do tempo, da solidão e do corpo e, são, simultaneamente, retratos fugazes e lentos da juventude; o segundo mostra-nos singelas e insólitas esculturas. Todos falam da fragilidade da criação humana.
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Manon de Boer (Kodaikanal, Índia, 1966) e um novo percurso pela Colecção Moderna. Estas são as novidades que o Museu Calouste Gulbenkian traz, a partir desta sexta-feira, no âmbito do seu novo ciclo expositivo – um dos últimos antes do anunciado fecho do edifício vulgarmente conhecido como Centro de Arte Moderna, em Agosto, tendo em vista a sua ampliação. Numa das galerias do Espaço Projecto, os visitantes vão poder contemplar Tempo de Respiração, da artista holandesa, exposição que compreende uma trilogia de vídeos e um pequeno e curioso filme. Os primeiros compõem experiências do tempo, da solidão e do corpo e, são, simultaneamente, retratos fugazes e lentos da juventude; o segundo mostra-nos singelas e insólitas esculturas. Todos falam da fragilidade da criação humana.
Na visita guiada desta manhã, a directora do museu Penelope Curtis, na companhia das curadoras Susana Gomes da Silva e Rita Fabiana, contou ao PÚBLICO que acompanha a artista há vários anos no circuito internacional. A presente exposição surge, aliás, na sequência de colaborações passadas (por exemplo, no Festival internacional de Arte de Toulouse) e do convite para concluir From Nothing to Something Else, trabalho que Manon de Boer começara em 2018, na Cornualha, com a produção de Bella, Maia e Nick (2018). “É um filme em que a aprendizagem da música está muito presente e pensei, quando lhe fiz o convite, na possibilidade de a artista explorar esse tema aqui, por exemplo, com a Orquestra Gulbenkian.”
Por acaso e circunstâncias várias, não foi o que aconteceu. Trabalhando directamente com o serviço educativo do museu, a artista veio a seleccionar uma série de jovens artistas circenses do Chapitô e filmou-os. Sempre a uma distância que os deixava seguros, libertando-os, no espaço vazio da cantina da fundação, para gestos, movimentos, toques, actos. Deste processo, resultou Caco, João, Mava e Rebecca (2019), filme que se junta ao já mencionado Bella, Maia e Nick (à volta da criação musical) e ao tocante Oumi (apenas com uma jovem rapariga), realizado na Bélgica. “É uma trilogia sobre o improviso da criação que, de alguma forma, se conclui em Lisboa, na Gulbenkian. Quisermos dar essa possibilidade à artista, para quem o trabalho com as pessoas, a presença da câmara e a relação com os lugares são muito importantes”, acrescenta a directora.
Já o filme que completa a exposição, intitulado The Untroubled Mind (2016), não nos oferece um retrato, pois a presença humana é apenas implícita: observamos pequenas construções realizadas pelo filho da artista que remetem para as ideias de jogo, de associação, de imaginação. Construções que são produtos de gestos que, contudo, já não conseguimos ver.
Portugal expandido
Também a estrear-se neste último dia do mês há um novo percurso pela colecção permanente, Artistas em Viagem na Colecção Moderna. Após o resgate das artistas mulheres que orientou o percurso anterior, inaugurado em Maio, colocou-se agora a tónica na ideia de viagem, condição que, considera a directora, caracterizou as narrativas de muitos artistas portugueses, bem como daqueles cujos percursos se cruzaram com a realidade nacional. “O mote continua a ser diversificar e expandir, na colecção, a noção de arte portuguesa. Dado que não temos meios para adquirir obras de artistas internacionais, essa permanece a nossa estratégia.”
Logo à entrada, ressalta uma, Hidden Pages, Stolen Bodies, do artista angolano António Ole (n. 1951), instalação que recebe os visitantes com os horrores do imperialismo e do colonialismo europeus. Trabalho imersivo e exigente, abre um caminho possível para a série Cinema Karl Marx, de Mónica de Miranda, outra novidade no percurso pela colecção. Noutra latitude, mas com o mesmo grau de ineditismo, está a produção gráfica de Vieira da Silva, com uma série de gravuras nunca antes apresentada no museu (e que incluem retratos de André Malraux), e vários trabalhos de David de Almeida (1945-2014). Outras aquisições são obras de Eugénia Mussa), António Júlio Duarte (da série White Noise), Augusto Alves da Silva, Rosa Carvalho ou João Louro, que conclui o percurso.
“Quisemos voltar a artistas que não acompanhávamos há algum tempo, e adquirir obras de nomes que simplesmente não faziam parte da colecção”, explicou ainda Penelope Curtis. Para alargar aquilo que entendemos por arte portuguesa, “mesmo em termos geográficos, explorando a ideia de viagem, percurso, exílio”. “Depois da reabertura do edifício, no próximo ano, esperamos continuar a fazer esse trabalho”, prometeu a directora.