TAP baptiza avião em homenagem a Ary dos Santos

Lisboa Menina e Moça, Desfolhada, Tourada, Cavalo à Solta. O poeta de centenas de canções foi homenageado pela TAP esta quarta-feira e passará agora a “voar” pelos ares.

Fotogaleria

“Serei tudo o que disserem: poeta castrado, não!”. Será tudo o que dissermos, sim, até um avião. As palavras de José Carlos Ary dos Santos estão em grande plano no palco, ao lado de uma das suas fotografias iconográficas. O rosto levemente caído, os olhos fixos na folha de papel, o cigarro na mão a arder. Atrás, um dos novos aviões da TAP, o A320Neo baptizado com o nome do poeta, que morreu fez 36 anos há poucos dias, a 18 de Janeiro.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

“Serei tudo o que disserem: poeta castrado, não!”. Será tudo o que dissermos, sim, até um avião. As palavras de José Carlos Ary dos Santos estão em grande plano no palco, ao lado de uma das suas fotografias iconográficas. O rosto levemente caído, os olhos fixos na folha de papel, o cigarro na mão a arder. Atrás, um dos novos aviões da TAP, o A320Neo baptizado com o nome do poeta, que morreu fez 36 anos há poucos dias, a 18 de Janeiro.

No hangar 6 da “cidadela” da TAP no aeroporto de Lisboa, a cerimónia contou com muitas palavras comoventes e algumas lágrimas. Entre poemas declamados e discursos emocionados, a presença de familiares e amigos de Ary, incluindo o compositor Nuno Nazareth Fernandes, com quem co-assinou várias canções, e Fernando Tordo e Simone de Oliveira, que cantaram as canções que ele escreveu para eles, os clássicos Tourada e Desfolhada.

Foto
DR

Uma “profunda alegria”, diria Tordo, que se confessou “muito emocionado”. “É uma coisa lindíssima, bela, pura, límpida”, ritmou o cantor, que diria à Fugas que com esta homenagem ao autor e obra, também transgressora, de Ary, “o país avançou mais um bocadinho”.

Autor de mais de 600 canções, militante comunista, homossexual assumido, foi uma figura de força, como o recorda a “amiga íntima”, Simone de Oliveira. Aos 82 anos, a cantora não conteve as lágrimas na homenagem, mas alegra-se com o facto de Portugal não esquecer Ary, porque é “preciso não esquecer a história”. Embora com muito medo de voos, tem uma esperança: “Só espero poder ainda voar no avião Ary dos Santos.”

A escolha do nome para o avião, diz-nos Miguel Frasquilho, o presidente do Conselho de Administração da TAP, “segue a linha dos baptismos” anteriores, de homenagear “portugueses relevantes” para a História de Portugal, nas mais diversas áreas. Entre os baptismos mais recentes, contam-se Jorge de Sena, Raul Solnado, Agustina, Carlos Paredes ou Zé Pedro.

“Uma merecida homenagem a um dos mais talentosos poetas contemporâneos” portugueses, disse o responsável, que assumiu “deixar vir ao de cima o seu lado festivaleiro” quando ouve os clássicos que se interpretariam no palco e que, até, ainda sabe “de cor e salteado”. Agora, sublinhou Frasquilho, “o nome do poeta voará ainda mais longe, voará ainda mais alto”.

De facto, embora a sua obra poética seja muito (muito) mais do que isso, foram especialmente os poemas para canções do festival que deram fama maior a Ary. Quatro delas foram representar o país na Eurovisão — além da Desfolhada e Tourada, Menina do Alto da Serra e Portugal no Coração. Agora, em vez das canções, Portugal vai enviar para os céus da Europa o avião José Carlos Ary dos Santos.

Foto
DR

Um destino que quase se poderia dizer traçado muito cedo na vida do autor de outros clássicos do cancioneiro português como Lisboa Menina e Moça, Estrela da Tarde ou Cavalo à Solta: o seu primeiro livro, lançado aos 14 anos, como lembraram (e declamaram) os familiares Fátima e Bernardo Ary dos Santos, chamava-se Asas e nele podiam ler-se versos como este, profético, “Abrindo ao vento as asas da alegria, eu vou partir”.