Investigadores de Hong Kong dizem que já há mais de 43 mil casos de coronavírus
Modelos matemáticos mostram que, contando com casos ainda sem sintomas, número de infectados deve ser muito superior ao dos balanços oficiais.
O novo coronavírus (2019-nCoV) já terá infectado mais de 43 mil pessoas, segundo estimativas baseadas em modelos matemáticos e divulgadas esta segunda-feira por investigadores de Hong Kong, que pedem medidas severas para restringir os movimentos populacionais.
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O novo coronavírus (2019-nCoV) já terá infectado mais de 43 mil pessoas, segundo estimativas baseadas em modelos matemáticos e divulgadas esta segunda-feira por investigadores de Hong Kong, que pedem medidas severas para restringir os movimentos populacionais.
A equipa de cientistas da Universidade de Hong Kong (HKU), liderada pelo especialista em saúde pública Gabriel Leung, alerta para uma disseminação acelerada do coronavírus, que, segundo números oficiais, já matou 80 pessoas na China e infectou outros 2.744. O número de casos suspeitos dobrou no espaço de 24 horas, para quase 6.000.
“Precisamos preparar-nos para o facto de que este surto em particular está a tornar-se numa epidemia global”, disse Gabriel Leung, líder da equipa de investigação da HKU. “Medidas importantes e draconianas para limitar os movimentos populacionais devem ser tomadas o mais rápido possível”, sublinhou o investigador. Leung disse ainda que o trabalho da sua equipa mostra que já há transmissão sustentada do vírus nas maiores cidades da China.
Ma Xiaowei, responsável da Comissão Nacional de Saúde (CNS), que é considerado um ministério na China, disse no domingo que o novo vírus tem um período de incubação de até duas semanas e que o contágio é possível durante o período de incubação, isto é, antes mesmo que os sintomas apareçam.
Com base em modelos matemáticos da disseminação do vírus, a equipa de Leung argumentou que o número real de infecções é muito maior do que a avaliação das autoridades, que só leva em conta os casos formalmente identificados. “Esperava-se que o número de casos confirmados com sintomas estivesse entre 25.000 e 26.000 no Ano Novo chinês (que se comemorou no sábado)”, disse esta segunda-feira Leung numa conferência de imprensa em Hong Kong, com base nas curvas teóricas.
Ao incluir pessoas que estão no período de incubação e que ainda não apresentam sintomas, “o número chegou a 44.000” a partir de sábado, referiu o investigador. Gabriel Leung acrescentou que o número de infecções pode dobrar a cada seis dias, atingindo um pico em Abril e Maio em áreas que já enfrentam uma epidemia, embora reconheça que medidas eficazes de saúde pública possam reduzir a taxa de contágio.
O epicentro da doença continua a ser em Wuhan e na província de Hubei, mas também foram encontrados casos nas principais cidades do país, como Pequim, Xangai, Shenzhen e Cantão. Como essas cidades são centros regionais e internacionais de transporte, é “muito provável” que o vírus se espalhe mais longe desses novos surtos.
O vírus já foi detectado numa dúzia de países: além do território continental da China, também foram reportados casos de infecção em Macau, Hong Kong, Taiwan, Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos, Singapura, Vietname, Nepal, Malásia, França, Austrália e Canadá.
Num esforço para conter o vírus, o Governo chinês ampliou no sábado o cordão de saúde em torno de Wuhan, que agora inclui quase 20 cidades, com a consequência de isolar uma população de 56 milhões de pessoas.
Leung disse que o confinamento está “absolutamente correcto”, ao mesmo tempo que observou que essas medidas “podem não ser suficientes para mudar o curso da epidemia em outras grandes cidades”.
A equipa da Faculdade de Medicina da HKU é um dos centros colaboradores da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o controlo de doenças infecciosas.