Parque do Engenho espera há anos pelo Museu da Floresta, mas vai receber primeiro um hotel

Projecto para criação do Museu Nacional da Floresta, na Marinha Grande, aguarda concretização há 20 anos. Entretanto, avançam planos para reabilitação de espaços da Mata Nacional de Leiria para turismo de natureza.

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Edifício principal do Parque do Engenho, incluído no programa Revive Natureza Gabriel Roldão

O Parque do Engenho, um espaço histórico da Mata Nacional de Leiria, é, há vários anos, apontado como o lugar de eleição para a instalação do futuro Museu Nacional da Floresta. O projecto foi criado em Lei em 1999, mas nunca chegou a sair do papel. No final de Outubro, o parque foi incluído numa lista de imóveis a ser incluídos no Revive Natureza, um projecto herdeiro do Revive, que aluga imóveis do estado a empresas públicas ou privadas que os poderão reabilitar para fins turísticos.

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O Parque do Engenho, um espaço histórico da Mata Nacional de Leiria, é, há vários anos, apontado como o lugar de eleição para a instalação do futuro Museu Nacional da Floresta. O projecto foi criado em Lei em 1999, mas nunca chegou a sair do papel. No final de Outubro, o parque foi incluído numa lista de imóveis a ser incluídos no Revive Natureza, um projecto herdeiro do Revive, que aluga imóveis do estado a empresas públicas ou privadas que os poderão reabilitar para fins turísticos.

Estará, assim, em causa a instalação naquele lugar do museu da floresta? Cidália Ferreira, presidente da Câmara Municipal da Marinha Grande garante que não. O Parque do Engenho, uma área com mais de 25 mil metros quadrados e vários edifícios onde chegaram a funcionar administrações dos serviços florestais, serrações, cavalariças e uma igreja, é suficientemente grande para nele caberem o museu e outros serviços turísticos. “Em qualquer cidade, há um museu e há um hotel, e nada disso conflitua. Se o museu estiver perto do hotel, ou vice-versa, mais facilmente as coisas são visitadas”, argumenta a autarca.

No novo programa Revive Natureza estará incluído apenas um dos imóveis do parque e o património destinado ao museu está salvaguardado, garante Cidália Ferreira. Argumentos que não convencem especialistas ligados à floresta.

Gabriel Roldão, estudioso do Pinhal de Leiria, trabalhou como especialista na identificação do acervo do futuro museu, e aguarda há anos pela abertura do mesmo. Apesar das garantias da presidente da câmara, só descansa quando vir o espaço cultural de portas abertas.

Reconhece que serão precisos milhões de euros para recuperar os edifícios do Parque do Engenho, votados ao abandono há mais de uma década. E quanto mais o tempo passa, mais cara fica a recuperação. Gabriel Roldão visitou o parque no ano passado, numa visita organizada pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), e na altura constatou que muitos edifícios têm os telhados caídos.

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Edifício principal do Parque do Engenho no início do século XX. Arquivo de Gabriel Roldão

Um museu associado ao ciclo dos incêndios

“Falta vontade política para avançar com o museu”, avalia Miguel Galante, engenheiro florestal que diz ter uma “ligação afectiva” ao projecto desde o tempo em que trabalhou nos Serviços Florestais, há mais de dez anos. “Quando o país arde, fala-se da necessidade do museu. Falou-se com mais força após os incêndios de 2017, quando o próprio pinhal ardeu, mas parece que tudo isso está a perder visibilidade e a perder a tal vontade política que pode fazer com que isso aconteça”, lamenta.

Um ano depois dos incêndios, na Marinha Grande, o então ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Capoulas Santos, disse que havia condições para a concretização do projecto. “Até agora nós pensávamos num museu. A partir de agora estamos a pensar num museu e num memorial, que o que aqui aconteceu justifica plenamente”, cita o Jornal de Leiria.

Miguel Galante sublinha todo “um património histórico e até genético associado à floresta” que justifica a concretização do museu. A floresta “tem uma importância que vem desde o tempo dos reis. Nós aprendemos no banco da escola que o rei D. Dinis mandou plantar o Pinhal de Leiria para travar o avanço das areias. Até a reconstrução da baixa pombalina está assente em estacas de pinheiro manso vindo de Alcácer do Sal. [A floresta] está também na toponímia de muitas povoações, nos apelidos de muitos portugueses. Faz parte de nós, para além de ser um sector importante da economia”.

O especialista vê a inclusão do Parque do Engenho no programa Revive Natureza “um factor para atrasar o processo” do museu.

Turismo da Natureza, uma aposta do Governo

Publicado em Diário da República a 25 de Outubro de 2019, o programa Revive Natureza pretende “mudar o paradigma na forma como olhamos para o nosso património”, explicava Ana Mendes Godinho, na altura ainda secretária de estado do Turismo, agora ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, na nota à comunicação social divulgada pelo executivo.

O programa estreou com uma lista de 96 imóveis, na sua maioria antigas casas de guardas florestais e antigos postos fiscais, e será gerido pela Turismo Fundos, propriedade do Turismo de Portugal, que tem cinco milhões para financiar a reabilitação do património.

Os imóveis poderão ser explorados por entidades públicas ou privadas, sendo privilegiada a componente de arrendamento.

Um hotel e um museu juntos?

“Nós já tivemos uma outra experiência, relativamente a outro programa Revive, com o Forte de Peniche, em que o Governo defendia que era compatível [um hotel e um museu]”. Ângelo Alves, dirigente do comité central do PCP e membro da Direcção da Organização Regional de Leiria, invoca o caso de Peniche para reivindicar a retirada do Parque do Engenho do Revive Natureza.

A antiga prisão do Estado Novo chegou a estar incluída numa lista de imóveis a concessionar ao sector privado, mas acabou por ser retirada, e será transformada no Museu Nacional da Resistência e Liberdade, com inauguração prevista para o final de 2020.

Aquele parque, continua, é o “mais emblemático” do programa, por estar mais perto da Marinha Grande e beneficiar de melhores acessos, e, defende o líder comunista, deve “ser inteiramente dedicado a valências que vão de encontro a uma fruição popular da mata”.

Ângelo Alves não exclui a rentabilização de património do estado para fins turísticos mas, no caso do Pinhal de Leiria, diz que os planos estão a avançar com as prioridades trocadas: primeiro deve “definir-se o que é que se quer fazer [no Pinhal] e depois disso então discute-se se é possível ou não inserir algum daquele edificado nesse programa”.