Francisco Rodrigues dos Santos, o jovem que também agrada aos antigos
Novo líder, conhecido por “Chicão”, quer relançar “o tal novo partido antigo que represente a direita”, acentuando a família, a dignidade humana, a segurança, o trabalho e a ética judaico-cristã como “valores fundamentais”.
Com 31 anos, Francisco Rodrigues dos Santos, que o 28.º congresso vai eleger novo líder dos centristas, é advogado e é considerado um conservador, mesmo para os padrões mais exigentes do CDS.
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Com 31 anos, Francisco Rodrigues dos Santos, que o 28.º congresso vai eleger novo líder dos centristas, é advogado e é considerado um conservador, mesmo para os padrões mais exigentes do CDS.
O ainda líder da Juventude Popular (JP) – eleito pela primeira vez em 2015 – foi apontado em 2018 pela revista Forbes como um dos “30 jovens mais brilhantes, inovadores e influentes da Europa” na categoria de Direito e Política. Na altura, a distinção surpreendeu os dirigentes do CDS.
Nascido em Coimbra, em 1988, Francisco Rodrigues dos Santos é filho de uma advogada e de um militar. Mudou-se em criança para Vila Nova da Barquinha, perto de Tancos onde o pai foi colocado. Frequentou o Colégio Militar – usa até hoje a insígnia da instituição na lapela – e depois seguiu para a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. É sportinguista e deixou em Dezembro passado a direcção de Frederico Varandas para se candidatar à liderança dos centristas.
“Chicão”, como é conhecido dentro do partido – um nickname criado por Paulo Portas – assume gostar de música de intervenção (com a referência de Zeca Afonso), mas também de Coldplay, Beatles, Queen, Pearl Jam, Rui Veloso, Samuel Úria e B Fachada.
Francisco Rodrigues dos Santos pertence à ala mais conservadora do CDS: é contra o casamento homossexual (preferia que lhe chamassem união civil), a adopção por casais homossexuais e o aborto. Mas, em entrevista ao PÚBLICO, o líder da JP disse não ter intenção de colocar estes temas na agenda do CDS.
“O tal novo partido antigo que represente a direita”
Uma das críticas que lhe faziam como candidato à liderança do partido era a sua juventude e no primeiro dia do congresso até brincou com o assunto, repetindo uma frase já dita por Manuel Monteiro: “Não se preocupem que passa com o tempo”.
Na moção com que conquistou o congresso, na qual trata os militantes por tu, Rodrigues dos Santos propõe-se fazer do partido “o tal novo partido antigo que represente a direita”, acentuando a família, a dignidade humana, a segurança, o trabalho e a ética judaico-cristã como “valores fundamentais”.
No texto, começa por fazer o diagnóstico do quadro político que levou à derrota da direita, argumentando que “a quadrilha das esquerdas unidas tomou de assalto o sistema parlamentar”, o que exige uma maioria de deputados para formar Governo, e deixou a direita “tomada pelo pânico”. A palavra “quadrilha” foi citada pelo ex-ministro António Pires de Lima para o aconselhar a ter “respeito pelos outros”, o que lhe valeu apupos no congresso.
O candidato, que integrava a lista a de deputados pelo Porto em segundo lugar e que falhou a eleição, justifica a derrota do CDS com a indiferenciação do partido: “Quanto a nós, caímos na tentação de renunciar ao que somos, impedindo que nos identificassem. Fomos assim percepcionados como indiferentes e, enquanto tal, inúteis”.
“O partido da família”
Entre os valores colocados como fundamentais está o da dignidade humana que “envolve a defesa da vida humana, desde a concepção até à morte natural”, embora sem referir de forma explícita a sua posição sobre o aborto ou a eutanásia. A família é outro pilar em que devem assentar as políticas do CDS: “Queremos que o CDS seja o partido da família. Voltaremos a levar ao Parlamento um kit político de apoio à família”.
Entre as propostas prioritárias estão também a apresentação de um projecto de revisão constitucional que “reforme o actual sistema político e eleitoral” e uma “alteração ao sistema fiscal que equilibre em definitivo a relação entre quem tem o dever de pagar impostos e quem tem o poder de os cobrar”.
No capítulo intitulado “Um novo regime, uma nova direita”, o candidato reconhece a descrença que existe no actual sistema e defende que “cabe ao CDS” contribuir para que haja órgãos de soberania “respeitados e respeitáveis”. “Se não nos encarregarmos de fazer a história da direita em Portugal, outros – porventura vindos das franjas, com voz de protesto alimentando-se e amplificando o descontentamento – a farão por nós, ou “ela mesma se fará” dispensando o nosso contributo”, escreveu.
A nível interno, Rodrigues dos Santos propõe o “rebranding da imagem, uma nova linguagem gráfica e cromática, a par de um investimento num marketing arrojado e descomprometido”, deixando uma crítica à frase de campanha (“Faz sentido votar CDS”) das últimas legislativas: “Fazer sentido deve ser uma atitude, não um slogan”.
Embora nunca tenha assumido críticas públicas a Assunção Cristas, os dois não eram próximos sobretudo nas questões de costumes, em que o líder da JP se assume como mais conservador.