Como uma ecologista do Utah ajudou a criar uma Barbie cientista
Astrofísica, conservadora da natureza, entomóloga, bióloga marinha e fotojornalista de natureza: há cinco novas Barbies para mostrar às meninas que podem trabalhar em Ciência. A inspiração foi Nalini Nadkarni, uma ecologista norte-americana.
Nalini Nadkarni não brincou com Barbies quando era criança: estava demasiado ocupada a subir às árvores do seu quintal em Bethesda, no estado norte-americano de Maryland. Pode parecer improvável que a ecologista florestal tenha ajudado a criar e promover bonecas Barbie. Mas, durante os últimos seis meses, tem inspirado raparigas de todo o mundo a brincar com bonecas que têm lupas e botas todo-o-terreno em vez de tiaras e saltos altos. Tal deve-se às novas Barbie exploradoras criadas, com o seu contributo, pela Mattel e National Geographic.
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Nalini Nadkarni não brincou com Barbies quando era criança: estava demasiado ocupada a subir às árvores do seu quintal em Bethesda, no estado norte-americano de Maryland. Pode parecer improvável que a ecologista florestal tenha ajudado a criar e promover bonecas Barbie. Mas, durante os últimos seis meses, tem inspirado raparigas de todo o mundo a brincar com bonecas que têm lupas e botas todo-o-terreno em vez de tiaras e saltos altos. Tal deve-se às novas Barbie exploradoras criadas, com o seu contributo, pela Mattel e National Geographic.
As novas bonecas — que incluem uma astrofísica, uma conservadora da natureza, uma entomóloga, uma bióloga marinha e uma fotojornalista de natureza — já chegam com atraso, disse Nadkarni, de 65 anos, que é professora de Biologia na Universidade do Utah, onde estuda dosséis florestais tropicais e como as plantas encontram nutrientes.
“Quando era miúda, em Bethesda, tentávamos viver de forma simples, segundo os princípios do Gandhi”, disse. “O meu pai era da Índia e uma Barbie não tinha bem lugar numa vida simples.” Em vez disso, confessou Nakarni, ela e os quatro irmãos eram encorajados pela mãe, que era dona de casa, e pelo pai, farmacologista, a criarem o seu próprio entretenimento. Para Nadkarni, isso significava subir às árvores. “Em criança tinha uma imaginação intensa e conseguia imaginar o topo da árvore como um local seguro se o bairro se inundasse, ou como um hospital para pássaros feridos”, disse. “Porque mais ninguém [que eu conhecesse] subia às árvores. Era o meu próprio mundo — e podia ser tudo nele.”
Depois de terminar o secundário na Escola Secundária Walter Johnson em 1972, Nadkarni frequentou a Universidade de Brown durante a licenciatura. Depois, tirou um doutoramento em Ecologia Florestal no College of Forest Resources, na Universidade de Washington, em 1983. E, em 2014, recebeu um doutoramento honoris causa em Ciência pela Universidade de Brown. O seu trabalho inclui a introdução de natureza em prisões para ajudar a relaxar reclusos que sofram de ansiedade ou sejam potencialmente violentos.
Nadkarni está na Costa Rica a estudar árvores ainda de pé, depois de agricultores terem derrubado a maioria da floresta nos seus terrenos. Nunca foi tão importante, revelou, partilhar com as novas gerações o que aprendeu. “Essas Barbies exploradoras são um grande passo em frente”, disse. “Não são perfeitas – a Barbie ainda tem um corpo impossível e é feita de plástico –, mas é um bom começo.”
Nadkarni, que recebeu da Mattel uma Barbie personalizada como agradecimento pelos seus contributos, passou anos a tentar persuadir a fabricante de brinquedos a desenvolver uma “Barbie que sobe às árvores”, sem sorte. “Em 2003, andava a pensar em maneiras de promover o interesse de meninas pela ciência e perguntei a mim mesma, ‘O que importa para as meninas quando são pequenas?’”, lembrou.
Pensou na filha pequena. “Eu sabia que as meninas queriam brincar com Barbies e parecer-se com Barbies. Mas e se a Barbie tivesse roupa de campo e viesse com um livro sobre dosséis florestais?” A Mattel não estava interessada na ideia, alegando que “uma Barbie que sobe às árvores” não ia vender, mas ela insistiu.
Finalmente, criou as próprias bonecas que sobem às árvores, vestindo Barbies compradas em lojas de segunda mão com botas resistentes, capacetes e arneses de escalada. A Mattel concordou que Nadkarni podia produzir as bonecas em quantidade limitada e esta vendeu cerca de 400 a pedido, ao longo de 15 anos, através do seu website, a amigos, alunos e outros.
“Há meninas com o desejo de brincar com uma Barbie exploradora”
Em 2019, Nadkarni ficou emocionada ao descobrir que a National Geographic estava a colaborar com a Mattel numa nova linha de bonecas de aventura — e que a queriam a trabalhar no seu comité de consultoria. “Que a Mattel tenha entendido que há um mercado para bonecas que imitem cientistas aventureiras com as quais meninas pequenas podem sonhar é incrível”, disse Nadkarni. “É uma prova de esperança de que, apesar de ainda haver desigualdades entre mulheres e homens na ciência, há meninas com o desejo de brincar com uma Barbie exploradora.”
Desde que se começaram a vender Barbies exploradoras no site da National Geographic e em superfícies comerciais como a Target e a Walmart, no Verão de 2019, Nadkarni tem recebido mensagens de agradecimento de raparigas de toda a América e a perguntarem-lhe como podem fazer a diferença a proteger árvores nas suas próprias localidades. Tem ainda dado palestras de ecologia em cerca de uma dúzia de escolas primárias em todo o país, na esperança de transmitir a sua paixão por cuidar do ambiente e dos dosséis florestais em perigo no mundo.
“Quando comecei a ouvir as crianças, apercebi-me que sabiam perfeitamente das precariedades das nossas florestas”, disse. “Preocupam-se de verdade e querem que nós, adultos, façamos algo para salvar o ambiente. Enche-me de esperança para o futuro que raparigas – e rapazes – de sete e oito anos queiram fazer todos os possíveis para ajudar.”
Uma dessas meninas é Addison Taylor, que anda no 5.º ano na Escola Secundária de Onondaga Hill em Syracuse, no estado de Nova Iorque, e costumava explorar ao ar livre e brincar com Barbies quando era mais nova. “Costumava subir às árvores e acho que a Nalini é um bom exemplo para raparigas, porque ela diz que as raparigas conseguem fazer de tudo”, disse Addison, de 11 anos. “Na altura em que eu brincava com Barbies, teria sido bom ter uma com um monte de equipamento para subir às árvores. Cuidar das nossas florestas é muito importante.”
Há dois meses, a professora de Addison, Emily Morrell, contactou Nadkarni a perguntar-lhe se poderia falar durante meia hora com a turma via Skype sobre a sua carreira como cientista dos dosséis florestais. Nadkarni ficou encantada por responder às questões da turma, a quem mostrou a sua “Barbie que sobe às árvores” especial — uma sósia sempre sorridente com uma corda e binóculos, um caderno que não esborrata, para escrever à chuva, e madeixas de cabelo grisalhas.
“As meninas da turma estavam tão felizes por ver aquela Barbie”, disse Morrell, de 25 anos. “A maioria das raparigas hoje em dia interessa-se por ciência e quer trabalhar em ciência quando for adulta. As crianças querem ajudar a resolver a nossa crise climática. São a nossa melhor esperança, e a Nalini sabe disso.”
Mais tarde, as crianças enviaram notas de agradecimento a Nadkarni, decoradas com árvores tropicais, flores, pássaros, insectos e macacos. “Vou guardá-las para sempre”, disse Nadkarni. “Adoro subir às árvores e aprender tudo o que possa sobre elas. Mas entusiasmar crianças com a protecção das nossas florestas é das coisas mais importantes na minha vida.”