Pires de Lima é apupado por criticar Rodrigues dos Santos
Apoiantes de João Almeida, Mota Soares e Cecília Meireles, responderam a Francisco Rodrigues dos Santos e mostraram ser também capazes de levantar o congresso.
O momento mais quente do 28.º Congresso do CDS que decorre em Aveiro aconteceu pouco antes das 19h, quando parte da sala apupou a intervenção do antigo vice-presidente de Paulo Portas e ministro da Economia do Governo PSD-CDS, António Pires de Lima.
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O momento mais quente do 28.º Congresso do CDS que decorre em Aveiro aconteceu pouco antes das 19h, quando parte da sala apupou a intervenção do antigo vice-presidente de Paulo Portas e ministro da Economia do Governo PSD-CDS, António Pires de Lima.
Apesar dos apupos, Pires de Lima fez uma forte defesa da ideia de que João Almeida deve ser eleito presidente do CDS e reagiu aos que o interrompiam: “Espero que não seja este o espírito da intolerância que venha amanhã a liderar.” Quando Pires de Lima desceu do palco, Francisco Rodrigues dos Santos dirigiu-se a ele e abraçou-o.
Pires de Lima começou por defender que “aprender com os erros é obrigatório” e que “a euforia é péssima conselheira”. Depois lembrou que Assunção Cristas, há dois anos no congresso de Lamego, foi eleita com 88% dos votos. Não deixou de criticar o “registo de auto-suficiência” e de “ambição máxima”, que então foi adoptado pela direcção do CDS, que não procurou “estabelecer pontes”. E disparou: “Perdemos ao termo-nos acantonado num registo de auto-suficiência.”
Foi então que passou a criticar Francisco Rodrigues dos Santos, por considerar que a moção de estratégia global com que este se candidata à liderança usa uma linguagem imprópria, ao falar em “quadrilha” quando se refere à esquerda parlamentar. “Se [Rodrigues dos Santos] tiver poder no CDS, tratará assim os adversários,” afirmou Pires de Lima, para se dirigir a este candidato a líder, advertindo: “Se te queres dar ao respeito, começa tu a respeitar os teus adversários.” E, afirmando que não era ainda o momento de Rodrigues dos Santos, aconselhou-o a “apurar a sua cultura democrática”. Parte da sala desatou aos apupos, enquanto outra parte aplaudia.
Adolfo defende Pires de Lima
Pouco depois foi a vez de Adolfo Mesquita Nunes, ex-vice-presidente de Assunção Cristas e ex-secretário de Estado do Turismo de Pires de Lima, subir ao palco para responder aos apupos: “Um partido que tem orgulho na sua história não apupa um ministro que tirou o país da bancarrota.”
Num discurso inflamado, o ex-vice-presidente de Assunção Cristas afirmou que o partido “tem senadores” e respondeu a Francisco Rodrigues dos Santos. “Ninguém aqui é mais livre do que ninguém, ninguém é mais jovem”, disse, recusando alguns rótulos. “Não gosto de ser chamado de direita de cobarde, de direita de karaoke, de direita de champanhe”, disse, lembrando que, quando foi secretário de Estado do Turismo, “estava a servir o CDS e o país, não era a direita do champanhe”. O antigo governante recordou ainda que foi candidato autárquico na Covilhã, “no tal eleitorado conservador que não aceitava uma pessoa como o Adolfo”, e que houve crescimento de 500% no resultado do CDS.
Assumindo que não era este o teor da intervenção que tinha previsto fazer, Adolfo Mesquita Nunes referiu-se ao relativismo moral. “Não posso dizer a ninguém que a sua moral é relativa. Nós, católicos, prestamos contas a Deus, e não aos dirigentes do CDS”, afirmou.
Mota Soares: “Custa-me ouvir neste palco...”
A tarde de debate começou cordata, com uma sucessão de figuras de referência das direcções de Assunção Cristas e, antes, de Paulo Portas, a apoiar João Almeida. Um desses apoiantes foi o antigo ministro da Solidariedade e Segurança Social do Governo PSD/CDS, Pedro Mota Soares, que manifestou apoio a João Almeida como candidato à liderança do CDS e defendeu que o partido “não precisa” de uma disputa sobre quem é mais democrata-cristão, numa alusão ao discurso de Francisco Rodrigues dos Santos neste sábado de manhã, ao apresentar a sua moção.
Em defesa da moção O que nos une, de João Almeida, Pedro Mota Soares admitiu que o partido está num “momento difícil”, como já aconteceu noutros tempos. Mas considerou que é possível o CDS reerguer-se numa solução de união. “Juntando, unindo, somando e é por isso que não podemos discutir quem é mais democrata-cristão”, disse. “O futuro do CDS está nesta sala”, disse também.
O antigo dirigente, que actualmente é secretário-geral da Apritel (que representa as operadoras de telecomunicações), atingiu directamente o discurso de Francisco Rodrigues dos Santos ao defender que é desnecessário que o CDS se reveja a sua identidade. “Não precisa de dizer quem nós somos: somos a direita da liberdade, mas também da solidariedade, dos valores, mas também a direita das pessoas e da nação portuguesa”, disse.
Pedro Mota Soares insurgiu-se contra os que dizem existir no CDS uma direita não assumida. “Custa-me ouvir neste palco que há uma direita cobarde, ou uma direita envergonhada, quando o CDS esteve no Governo a salvar o país”, afirmou, recebendo aplausos na sala, alguns de pé. As palmas voltariam a ser ouvidas pouco tempo depois, quando disse que a sua escolha é João Almeida para ajudar a “unir o partido”.
Durante o debate das moções, em nome da moção de João Almeida, Cecília Meireles agradeceu a Francisco Rodrigues dos Santos ter anunciado a intenção de a manter como líder parlamentar, mas reiterou que o seu lugar estava à disposição. Agradeceu-lhe também o empenho na campanha eleitoral que juntos fizeram no Porto. Mas sublinhou que apoiava João Almeida por considerara que este é, neste momento, “o melhor para o CDS e o melhor para Portugal”.
Diogo Feio também apoiou João Almeida e pediu contenção aos congressistas. “Não se percam em discussões, de que uns são mais liberais e outros mais conservadores, porque quem se fica a rir com isso é António Costa”, declarou o vogal da comissão política nacional. E recordou, como já fizera o presidente do conselho nacional do partido, Telmo Correia, o congresso do Palácio de Cristal, no Porto, em 1975. “Nunca nos apupámos uns aos outros. No Palácio, quem apupava eram os que estavam cá fora”.
Diogo Feio elegeu as eleições autárquicas de 2021 como o “grande desafio” do partido para o próximo mandato e disponibilizou-se para participar na preparação desse combate.
Apoiante da moção de Nuno Melo, o presidente do CDS na Madeira, Rui Barreto, também manifestou o seu apoio a João Almeida. Começando por manifestar “orgulho de, ao fim de 45 anos, o CDS ter chegado ao Governo na Madeira” e de ter acabado com “o poder absoluto" [do PSD] na região, garantiu que tal “foi possível” porque houve “diálogo de três gerações”, e “renovação” - isto “sem por em causa o passado”. E explicou: “Juntámos forças, unimos gerações.” Em jeito advertência, garantiu ainda que “este não pode ser o congresso para a ruptura geracional, este tem de ser o congresso para agregar.”
Quanto ao seu apoio a João Almeida, Rui Barreto começou por sublinhar que é preciso “perceber quem estará mais bem preparado” para ser líder. De seguida questionou: “Não é importante o líder do CDS estar no Parlamento?” E defendeu que, “quando à direita do CDS há dois partidos cujos lideres estão no Parlamento”, o CDS tem de ser liderado pelo único candidato à liderança que é deputado.
De questões geracionais falou também Alberto Laplaine Guimarães. Mas para defender a candidatura de Francisco Rodrigues dos Santos, o líder da JP. “É preciso confiar na juventude”, afirmou, arrancando também muitos aplausos à sala.