Uma “biblioteca de coisas”? Sim, é uma realidade em Londres
A todos os que já se viram na quase obrigação de comprar algo para usar só uma vez, há uma solução (pelo menos em Londres): na Library of Things podes levar e devolver utensílios quando já não houver mais necessidade.
Vais receber amigos e fazer um churrasco no quintal, mas não tens colunas de som para passar música? Os preços nas lojas de electrónica podem parecer proibitivos, sobretudo para um evento que não pensas repetir nos próximos seis meses. Mas, se morares em Londres, tens uma solução alternativa: a Library of Things (Biblioteca de Coisas, em português), um lugar de onde podes levar “emprestados” artigos de uso esporádico — e devolvê-los para serem reutilizados.
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Vais receber amigos e fazer um churrasco no quintal, mas não tens colunas de som para passar música? Os preços nas lojas de electrónica podem parecer proibitivos, sobretudo para um evento que não pensas repetir nos próximos seis meses. Mas, se morares em Londres, tens uma solução alternativa: a Library of Things (Biblioteca de Coisas, em português), um lugar de onde podes levar “emprestados” artigos de uso esporádico — e devolvê-los para serem reutilizados.
A ideia nasceu de três amigas, em 2014, que descrevem o projecto como “uma start-up de economia circular, liderada por mulheres, que aluga a preços acessíveis”. Depois de uma ideia que aconteceu espontaneamente, meteram mãos à obra e assim nasceu o projecto-piloto, nesse Verão, numa biblioteca no bairro londrino de West Norwood.
O conceito foi testado por dois anos com a vizinhança, inspirada por projectos semelhantes em Berlim e Toronto. “Dedicámos centenas de horas entre nós, sem remuneração”, contam no site oficial. Tudo em nome da união e sentido de pertença da vizinhança.
Dois anos depois passaram a uma outra dinâmica, com mais de 400 objectos para emprestar, alocados em dois contentores de carga. A evolução foi financiada com uma angariação de fundos e muitos itens foram doados. “Uma equipa de locais deu centenas de horas de voluntariado” e daí resultaram mais de mil empréstimos em 18 meses. “Foi maravilhoso e cansativo”, recordam.
Actualmente, a Library of Things está “aberta em modo beta” em Crystal Palace, no Sul de Londres. Uma angariação de cerca de 11.850 euros possibilitou a abertura do espaço corrente, que promove também cursos de aprendizagem de bricolagem, festas e encontros comunitários.
O conceito é simples: mediante o pagamento de uma jóia, no valor de uma libra (cerca de 1,19 euros), os membros podem ter acesso a todo um catálogo de utilidades, actualmente com 74 para requisição. Estas estão agrupadas em categorias: aventuras e passatempos, limpeza, cozinha e eventos, bricolagem e jardinagem.
O preço dos objectos “depende do seu valor e da procura”, conforme a co-fundadora Rebecca Trevalyan contava ao Guardian em 2016, e da duração do “empréstimo”. Pessoas desempregadas, com baixas remunerações, a receber subsídios de apoio, estudantes ou pensionistas têm direito a 25% de desconto. As reservas fazem-se online e o agendamento das devoluções também, retirando-se e repondo-se os artigos no seu cacifo específico na loja, em regime de self service.
As estatísticas relativas à comunidade divulgadas pela Library of Things contam também a sua história: 90% de quem já levou objectos diz ter mais dinheiro para o essencial; 75% sente-se mais ligado à comunidade da zona; e 60% diz-se mais propenso a reparar ou reciclar itens. Dos membros, 58% disse estar maioritariamente motivado por poder ajudar o ambiente, segundo dados de 2019. Actualmente, o projecto procura “ampliar o movimento” e está à procura de “quem queira começar e sediar uma Library of Things” noutros bairros de Londres.
Segundo Sophia Wyatt, co-fundadora, a organização quer que a acção de levar itens se torne um caminho para envolvimento no bairro e escolhas amigas do ambiente. “O que começa com ‘Preciso de um berbequim’ torna-se em ‘Tornei-me amigo dos vizinhos’, ‘Aprendi a fazer consertos simples’ ou, até, ‘Decidi começar eu mesmo um projecto local’.” O mote da organização é um manifesto claro: “levar emprestado é melhor do que comprar — para as pessoas, as comunidades e o planeta”.