Estou a precisar de parar

Cheios de pressa, caímos nessa ravina de stress e ansiedade, onde só se ampara quem pára. Tira o pé do acelerador. Se excederes o teu limite de velocidade, mais tarde ou mais cedo, o teu corpo vai mandar-te parar.

Foto
Francisco Moreno/Unsplash

É interessante observar a forma ofegante e acelerada como a maioria das pessoas responde “Vai-se andando”. Já poucos são aqueles que se permitem a simplesmente andar. Adoptámos um estilo de vida em ​sprint​, onde sobra pouco espaço para modalidades como a marcha. Ingenuamente, achamos possível percorrer esta maratona de vários anos como se fosse uma prova dos 100 metros. A médio/longo prazo, que impactos terá este comportamento na nossa saúde? É sustentável aguentar este ritmo sem sofrer qualquer tipo de lesão?

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

É interessante observar a forma ofegante e acelerada como a maioria das pessoas responde “Vai-se andando”. Já poucos são aqueles que se permitem a simplesmente andar. Adoptámos um estilo de vida em ​sprint​, onde sobra pouco espaço para modalidades como a marcha. Ingenuamente, achamos possível percorrer esta maratona de vários anos como se fosse uma prova dos 100 metros. A médio/longo prazo, que impactos terá este comportamento na nossa saúde? É sustentável aguentar este ritmo sem sofrer qualquer tipo de lesão?

Nunca mais me esqueço. Tive um colega que me mostrou, na primeira pessoa, os efeitos de nos deixarmos engolir por um ritmo de vida alucinante. Apesar de não ser fumador, sempre gostei de fazer companhia aos repositores de nicotina. Este meu colega era um deles. Ao observá-lo a fumar, reparei o quanto ele tremia de cada vez que levava o cigarro à boca. Isto deixou-me especialmente intrigado, ainda mais porque estamos a falar de uma pessoa com 30 e poucos anos. No refeitório, pude também constatar que as garfadas não chegavam completas ao destino, tamanho era o tremor das mãos. Tudo aquilo me causou imensa estranheza. Em conversa, e com o à vontade suficiente para o fazer, decidi partilhar com ele o que tinha visto. Timidamente, esboçou um sorriso resignado e disse-me: “Isto é o resultado dos três esgotamentos que já tive.”

Na altura, este desabafo deixou-me bastante consternado. Não quis acreditar que somos objectos vulneráveis, vítimas de uma rotina trituradora que ceifa os nossos sonhos antes de os podermos colher. Esta realidade não cabia em mim, portanto, a partir daquele dia, assumi o compromisso de tentar ao máximo respeitar o meu ritmo. Tudo o que custe a minha saúde tem um preço que não estou disposto a pagar.

Abrandar torna-se especialmente desafiante num tempo em que, vá-se lá saber porquê, se vangloria a correria. Todos conhecemos aquela pessoa que está, constantemente, a dizer num tom de falsa azáfama: “Tenho andado a mil”. E mesmo que lhe digamos 1001 razões para desacelerar, ela vai responder sem pestanejar: “Se tu soubesses a minha vida”. Nesse instante, tentamos ser compreensivos e disponibilizamo-nos para ajudar, no entanto, ainda de língua quente, sai disparado um: “Esquece, mal tenho tempo para respirar”. É aqui que, normalmente, a nossa paciência pede para sair.

Sucumbimos ao “ver quem chega primeiro”. Neste aspecto, temos muito a aprender com a gastronomia. Mais depressa não é sinónimo de melhor. Se tirarmos antes do tempo, arriscamo-nos a que esteja cru. Se colocarmos o lume no máximo, é provável que fique chamuscado. Há sabores e saberes que requerem tempo. Tempo para ser e, simplesmente, existir. Deixar a alma respirar, não por capricho, mas sim por necessidade.

Parar ou, pelo menos, abrandar pode soar a luxo. Algo que não está ao alcance de todas as contas bancárias. Logicamente, quem estiver na posse de maiores possibilidades acaba por ter mais flexibilidade — não é isso que está em discussão. Ainda assim, que isto não sirva de esconderijo para a nossa resistência à mudança. É muito fácil dizer que não é possível sem sequer tentarmos. Quando deixamos de parte a nossa responsabilidade, aí sim, aniquilamos qualquer hipótese que, eventualmente, possa vir a sorrir-nos. Todos, sem excepção, temos a capacidade e o potencial para colocar em prática pequenas mudanças. Ninguém chega ao seu destino se não estiver disposto a dar o primeiro passo.

Cheios de pressa, caímos nessa ravina de ​stress e ansiedade, onde só se ampara quem pára. Tira o pé do acelerador. Se excederes o teu limite de velocidade, mais tarde ou mais cedo, o teu corpo vai mandar-te parar. Podes ficar encostado a uma cama de hospital ou dependente de medicação. O limite não é o céu, o limite és tu. Respeita o corpo que tens e aceita que todos os excessos pedem factura. Contribui para um futuro mais feliz, onde podes não ter tudo o que imaginaste, mas seres tudo o que precisas.

Ninguém te pode parar, tens mesmo de ser tu.