Até a Noruega está a ficar com menos neve — tem de a produzir
“É o primeiro Janeiro da minha vida que vejo sem neve”, diz corredora. Alterações climáticas podem explicar a quebra.
Na floresta de Oestmarka, na Noruega, crianças deslizam nos seus esquis sobre neve artificial que está a ser espalhada pelo solo por seis máquinas. Em qualquer outro Inverno, as encostas estariam pintadas de branco, diz a corredora Marie Sten, de 30 anos, ao voltar de uma corrida pelos percursos da floresta, sem neve. “É o primeiro Janeiro da minha vida que vejo sem neve. Espero que seja o único.”
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Na floresta de Oestmarka, na Noruega, crianças deslizam nos seus esquis sobre neve artificial que está a ser espalhada pelo solo por seis máquinas. Em qualquer outro Inverno, as encostas estariam pintadas de branco, diz a corredora Marie Sten, de 30 anos, ao voltar de uma corrida pelos percursos da floresta, sem neve. “É o primeiro Janeiro da minha vida que vejo sem neve. Espero que seja o único.”
Marie pode vir a desiludir-se, de acordo com dados do Instituto Meteorológico da Noruega. Muitos dos seus compatriotas já começam a aceitar a nova realidade e tentam adaptar-se. As previsões apontam para que as florestas à volta de Oslo registem, em 2050, somente 50 dias de neve com pelo menos 30 centímetros de profundidade — actualmente são 80 e, em 1900, eram 140. Uma quebra que atribuem às alterações climáticas.
É um assunto sério num país cuja cultura gravita à volta da neve. A Noruega liderou as medalhas nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2018, apesar de ter apresentado uma equipa com metade do tamanho da dos Estados Unidos.
Algumas creches têm investido em canhões para se certificarem que as crianças podem continuar a construir bonecos de neve no recreio. “É um Inverno mesmo aborrecido para os miúdos se não houver neve: fica difícil ter uma caixa de areia”, conta Ine Kvaleng, gerente da creche de Svenstuen, em Oslo. O estabelecimento tem agora um canhão de neve que custou seis mil coroas norueguesas (604 euros), assim como uma mangueira de alta pressão. “É uma forma de prolongar o Inverno: dá durar mais três semanas”, conta.
A Happysnow, uma empresa sediada em Lillehammer, casa dos Olímpicos de Inverno de 1994, vende pequenos canhões a famílias, creches e centros desportivos. “Um cliente habitual é um pai muito ambicioso, que gosta de maquinaria e quer certificar-se de que as crianças podem brincar na neve, no quintal”, conta o co-fundador, Asgeir Linberg.
E quando as temperaturas lá fora ficam demasiado altas até para neve artificial, há sempre o Snø, o primeiro centro de esqui coberto do país, que abriu na periferia de Oslo a 15 de Janeiro. "Complementamos a temporada de Inverno, não a substituímos”, explicou o CEO do centro, Erik Hammer. Os sistemas do centro mantêm a temperatura entre 2 e os 4 graus negativos todo o ano, mas alguns dos clientes têm reticências quanto a usar as instalações.
"É uma forma de praticar desporto quando não há neve”, considera Anne Marte Solberg, de 48 anos, operadora turística à frente do clube local de esqui de fundo. Por outro lado, “é trágico porque ninguém esquia para ter de o fazer num espaço fechado”.