Um vírus eficaz no contágio mas menos mortal que a SARS
Primeiros estudos publicados sobre o vírus que surgiu na China mostram que muitas infecções ainda não estão a ser detectadas e que está longe de conter o surto.
As primeiras análises ao novo tipo de coronavírus que está a levar a China a pôr várias cidades de quarentena, para tentar conter a infecção, estão a ser publicadas em revistas científicas e revelam um vírus semelhante ao do surto de SARS, em 2003, que surgiu em Guangdong, no Sul da China, embora menos agressivo, mas eficaz a passar de pessoa para pessoa.
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As primeiras análises ao novo tipo de coronavírus que está a levar a China a pôr várias cidades de quarentena, para tentar conter a infecção, estão a ser publicadas em revistas científicas e revelam um vírus semelhante ao do surto de SARS, em 2003, que surgiu em Guangdong, no Sul da China, embora menos agressivo, mas eficaz a passar de pessoa para pessoa.
O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças considerava “provável que chegasse à Europa, e os primeiros casos foram detectados em França esta sexta-feira, na zona de Paris e Bordéus.
Em estudos publicados na revista Lancet, com base em 41 pacientes em que a infecção foi confirmada por testes laboratoriais, foi confirmado que o vírus 2019-nCoV causa sintomas semelhantes à SARS (síndrome respiratória aguda grave, em português) e passa de pessoa a pessoa. Os autores sublinham que o número de pessoas estudadas é ainda muito reduzido para poder tirar conclusões definitivas.
“É difícil de compreender a taxa de mortalidade associada a este novo vírus de momento, porque estamos a detectar os casos mais graves, nas fases iniciais da epidemia, e não os mais moderados ou assintomáticos”, disse uma das chefes de equipa, Lili Ren, da Academia de Ciências Chinesa, citada pelo Guardian. Mas só 2% das pessoas infectadas morreu, disse o virologista Mark Stenglein, da Universidade do Colorado (EUA), à revista The Scientist.
No entanto, apesar das semelhanças com a SARS, o quadro clínico causado por este vírus – que pertence a um grupo específico denominado coronavírus, que causa doenças em mamíferos e aves, e doenças respiratórias em seres humanos – aparenta já algumas diferenças. “Os sintomas não incluem o nariz a pingar, nem espirros nem a garganta inflamada ou problemas intestinais e diarreia, que afectavam 25% das pessoas que adoeceram com SARS”, explicou o autor principal deste artigo da Lancet, Bin Cao, do Hospital da Amizade China-Japão, citado também pelo jornal britânico. Mas as pessoas infectadas com o coronavírus actual sentem febre, tosse seca e falta de ar, tal como as que adoeceram com o vírus de 2003.
Uma questão crucial a apurar é quão contagioso é o vírus 2019-nCoV. Para isso, é preciso determinar a quantas pessoas, em média, cada um dos infectados transmite o vírus – um número conhecido como R0 em epidemiologia. Uma primeira análise feita por cientistas da Universidade de Lancaster (Reino Unido), posta online e que ainda não passou pelo processo de revisão pelos pares, aponta para que esse número seja de 3,8.
Se o número for superior a 1, a epidemia cresce; se for inferior, isso quer dizer que está na curva descendente. Segundo o documento de consenso da Organização Mundial de Saúde sobre a SARS, a infecção de 2003 chegou a atingir valores entre 2 e 4.
Com um R0 de 3,8, a equipa de Jonathan Read calcula que que 72% a 75% das transmissões virais têm de ser evitadas pelas medidas de controlo – como as impostas nas cidades em quarentena na China – para que os casos de infecção comecem a diminuir. “Estimamos que apenas 5,1% das infecções na cidade de Wuhan estejam identificadas, e que em 21 de Janeiro um total de 11.341 pessoas tivessem sido infectadas desde o início do ano”, escrevem.