Português na China: “As pessoas estão muito assustadas” com o coronavírus

Rui Paixão, artista de 24 anos a viver na China, está a ser testemunha da situação que se vive no país por causa do novo coronavírus detectado em Wuhan. Diz que as comunidades de outros países a residir em território chinês estão “muito assustadas” e que já considerou voltar a Portugal.

Foto
Rui Paixão tem 24 anos e trabalha no Cirque du Solei PAULO PIMENTA

Voos cancelados, estações de comboio e de metro encerradas, farmácias sem stocks de vários medicamentos e falta de comida em muitos supermercados — uma cidade em quarentena e isolada, numa altura em que milhares de cidadãos viajam dentro da China para as comemorações do Ano Novo Chinês. Na cidade de Wuhan tem sido este o cenário dos últimos dias. A 700 quilómetros dali, em Hangzhou, as medidas de prevenção do novo coronavírus são menos apertadas, mas afectam a vida quotidiana, conta o português Rui Paixão.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Voos cancelados, estações de comboio e de metro encerradas, farmácias sem stocks de vários medicamentos e falta de comida em muitos supermercados — uma cidade em quarentena e isolada, numa altura em que milhares de cidadãos viajam dentro da China para as comemorações do Ano Novo Chinês. Na cidade de Wuhan tem sido este o cenário dos últimos dias. A 700 quilómetros dali, em Hangzhou, as medidas de prevenção do novo coronavírus são menos apertadas, mas afectam a vida quotidiana, conta o português Rui Paixão.

A situação que se vive em Hangzhou, na província de Zhejiang, é semelhante à que se vive noutras cidades próximas de Wuhan, em Hubei. Rui Paixão, português de 24 anos, chegou à China em Janeiro de 2019 para integrar a equipa do Cirque du Soleil. É testemunha dos esforços da China para lidar com um surto de pneumonia viral que acabou por se alastrar a outros países.

A cidade onde Rui Paixão vive fica a cerca de uma hora de avião e oito horas de carro de Wuhan. Apesar da distância de mais de 700 quilómetros que separa as duas cidades, que ficam em províncias diferentes, já foram detectados casos do novo coronavírus em Hangzhou. “O clima está bastante pesado, principalmente dentro da comunidade internacional. É muito difícil perceber a dimensão real do vírus”, refere o artista em conversa com o PÚBLICO.

O jovem conta que a sua cidade não é uma das que foi colocada em quarentena, pelo que os efeitos do que se está a passar na província vizinha não atingiram Hangzhou. Não há falta de medicamentos ou comida, e a cidade parece funcionar no seu ritmo normal — à excepção dos milhares de pessoas que por estes dias utilizam máscaras respiratórias.

De acordo com o artista, as precauções recomendadas pelas autoridades de saúde estão dentro do que é normal. “Lavar as mãos com regularidade, usar máscara no exterior e evitar frequentar espaços públicos fechados. Caso tenhamos contacto com alguém de Wuhan, temos ordens para ficar 15 dias sem sair de casa e informar as autoridades sobre possíveis alterações na temperatura do corpo ou febre”, explica o português.

Fotogaleria

"Ainda é impossível perceber até onde isto vai"

Como medida de precaução, o Cirque du Soleil foi obrigado a fechar portas e cancelar os espectáculos para “não permitir que grandes grupos provenientes de outras cidades se juntem” no mesmo local. Esta foi a medida que mais afectou Rui Paixão, que ficará sem trabalhar pelo menos durante um mês. “Há uma precaução enorme neste momento, mas a sensação é que ainda é impossível perceber até onde isto vai. Especialmente sabendo que em 2002 a China teve o mesmo problema com um vírus semelhante e que esteve numa situação delicada durante meses”, diz o jovem de 24 anos. “Só soube dos cancelamentos [dos espectáculos] ontem e fiquei muito assustado”.

Rui acredita que os cidadãos chineses não estão a perceber que a evolução do surto está a ser acompanhada pelo mundo inteiro porque o Governo chinês não estará a divulgar todas as informações que possui. “No Ano Novo chinês, o Governo passa apenas mensagens positivas, as pessoas não falam em tragédias nem referem a palavra ‘morte’. Acho que as informações em relação à gravidade da situação estão a ser abafadas. Ainda assim, as pessoas sabem que o vírus existe porque usam as máscaras. Aliás, durante toda esta semana os espectáculos tiveram bancada completa com público com máscara. Mais para o fim da semana é que começámos a ter grandes baixas precisamente por causa destas informações”, diz o artista.

Quando soube que foram detectados mais casos de cidadãos infectados com o vírus, o jovem de 24 anos considerou voltar de imediato a Portugal. Ainda assim, garante, vai aguardar por novas ordens em relação aos espectáculos do Cirque du Soleil. “Neste momento temos ordens para ficar por casa durante uma semana. Caso se preveja a continuidade do cancelamento de espectáculos, sem dúvida que voltarei bem mais cedo. Mesmo dentro deste contexto em que nos estão a proteger, a malta está mesmo muito assustada e a vontade de regressar a casa é enorme”, confessa Rui Paixão.

O número de mortos na China devido ao surto de coronavírus subiu esta quinta-feira para 26. Os casos confirmados aumentaram também para 830 só na China, revelou esta sexta-feira a Comissão Nacional de Saúde. De acordo com as autoridades chinesas, há 1072 casos suspeitos. 

Pelo menos dez cidades da província de Hubei, com uma população de 60 milhões e cuja capital é Wuhan, decretaram nos últimos dias o estado de quarentena e impuseram restrições de movimentação por causa do vírus. Também como medida de precaução, muitas cidades suspenderam totalmente os serviços de transporte. Em Wuhan, região onde o surto começou, não há serviço de autocarro, metro ou barco e foram cancelados todos os aviões e comboios com destino a outras cidades.