O canto-de-cisne de Gaultier teve até direito a um “funeral”

O desfile, o último de Jean-Paul Gaultier de alta-costura, começou com uma cena fúnebre, com Boy George a interpretar Back to black, a música tornada célebre pela falecida cantora Amy Winehouse, uma das musas do estilista.

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O designer, de 67 anos, transportou para o desfile uma grande dose do seu irreverente humor Charles Platiau/Reuters

Jean Paul Gaultier despediu-se da passerelle, na quarta-feira, num estilo tipicamente desordeiro: uma actriz desfilou a fumar um cigarro e o cantor Boy George participou num simulado funeral. O afável estilista francês, que há muito tempo cultiva uma imagem de enfant terrible do mundo da moda, anunciou na semana passada que este seria o seu último desfile de alta-costura, depois de 50 anos no mercado.

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Jean Paul Gaultier despediu-se da passerelle, na quarta-feira, num estilo tipicamente desordeiro: uma actriz desfilou a fumar um cigarro e o cantor Boy George participou num simulado funeral. O afável estilista francês, que há muito tempo cultiva uma imagem de enfant terrible do mundo da moda, anunciou na semana passada que este seria o seu último desfile de alta-costura, depois de 50 anos no mercado.

O designer, de 67 anos, transportou para o desfile uma grande dose do seu irreverente humor, bem como criações bizarras, desde um vestido de noiva futurista usado pela modelo Karlie Kloss até um toucado de papoilas exibido pela actriz espanhola Rossy de Palma.

Dezenas de modelos masculinos e femininos – incluindo a estrela do burlesco Dita von Teese e a drag queen Violet Chachki – participaram da extravagância no Teatro Châtelet, em Paris. Muitos exibiram looks famosos de Gaultier, como o espartilho que lembra aquele que foi projectado para a Blond Ambition World Tour (1990/91), de Madonna.

“Apenas um Gaultier”

Gaultier disse que estariam para breve novidades sobre um novo conceito, mas ainda não adiantou pormenores sobre os seus planos. Na quarta-feira, disse apenas que continuaria a trabalhar de alguma forma no mundo da moda, sem, porém, obedecer às mesmas restrições, como a realização de desfiles regulares, preferindo focar-se em projectos divertidos. “Estou demasiado velho para revolucionar o sistema”, desabafou aos repórteres, acrescentando que o sector abriga rótulos a mais. Sobre a sua marca homónima, parte do grupo espanhol Puig, de propriedade familiar, afirmou que a mesma continuará, mas com um novo conceito, sem explicar qual.

O ex-mentor de Gaultier, o designer Pierre Cardin, de 97 anos, esteve presente nesta espécie de despedida, além de vários estilistas no activo, como Nicolas Ghesquière, director criativo da Louis Vuitton.

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A carreira de Jean-Paul Gaultier não terminou na noite de quarta-feira.

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“Existe apenas um Jean-Paul Gaultier”, sublinhou a modelo Laetitia Casta ainda antes do início do espectáculo. Casta foi descoberta aos 15 anos por Gaultier: “Ele foi um dos primeiros a sair à rua para encontrar pessoas”, recordou.

O espectáculo começou com uma cena fúnebre, com Boy George a interpretar Back to black, a música que ficou famosa pela falecida cantora Amy Winehouse, uma das musas de Gaultier, a quem o estilista prestou homenagem, inspirando-se nela para criar a colecção Primavera-Verão de 2012: ao todo, foram apresentados 49 looks com referências às músicas, ao estilo e à vida de Winehouse.

“Não queime, upcycle”

Todo o desfile foi uma espécie de canto-de-cisne, ainda que cheio de apontamentos divertidos. No entanto, o designer não deixou de incluir uma mensagem mais séria, numa altura em que muitos na indústria da moda procuram provar as suas credenciais ambientais. E, para o francês, a resposta está na reutilização criativa (upcycle): “Não queime roupas, upcycle”.

Gaultier deixou a sua marca como um dos jovens talentos mais brilhantes da moda francesa durante o início dos anos de 80, abalando o sector com desenhos que remetiam para a cultura urbana de rua, para o movimento punk ou para os clubes gays. Depois de começar aos 18 anos como aprendiz de Cardin, apresentou a sua primeira colecção individual em 1976. Mais tarde, trabalhou como director artístico da Hermès, que possuía uma grande participação da sua empresa e que, em 2011, vendeu à Puig. 

Nos últimos anos, Gaultier abandonou o prêt-à-porter, concentrando-se em colecções de alta-costura duas vezes por ano, com roupas exclusivas e feitas à mão.

A Puig ainda não divulgou os resultados de 2019, cujo ano fiscal termina apenas em Março. Em 2018, a sua receita aumentou 5%, para 1900 milhões de euros.